sexta-feira, 20 de maio de 2016

Algumas notícias auspiciosas que muito honram o profissional da saúde Prof. Dr. Ulysses Fagundes Neto

Nestas últimas semanas estive pesquisando na internet algumas informações para uma matéria que estou escrevendo sobre a história da organização do III Congresso Mundial de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição em Pediatria que se realizou em agosto de 2008, em Foz do Iguaçu, do qual fui Presidente, e, nessa busca, encontrei publicações que me surpreenderam de forma altamente positivas. Como estas notícias dizem respeito à minha trajetória acadêmica de mais de 40 anos de atuação e que foi construída com a estreita colaboração de um sem número de colegas, alunos, residentes, pós-graduandos, que tiveram participação efetiva e decisiva para o êxito da nossa missão, decidi compartilhar estes achados, que muito me honram, com todos aqueles que me acompanham nas publicações nos meios eletrônicos.

A primeira delas diz respeito a um artigo publicado na revista Pediatric Research, em 2003, o qual encontrei por mera casualidade, escrito por dois dos mais prestigiosos colegas da nossa especialidade, William Allan Walker, professor da Harvard University e John Walker-Smith, professor da London University, que versa sobre uma revisão da História da Gastroenterologia Mundial. Trata-se de um extenso artigo abordando com riqueza de detalhes toda a construção da nossa especialidade desde os primórdios do século 20 até os dias atuais. Senti-me altamente orgulhoso ao ver meu nome citado no referido artigo por duas vezes. Na primeira vez pelo reconhecimento da contribuição científica do meu labor no mundo em desenvolvimento nas pesquisas que versam a respeito de um melhor conhecimento para solucionar os graves problemas que envolvem o binômio diarreia-desnutrição. A segunda citação diz respeito a fundação da Sociedade Latino-americana de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição em Pediatria, em 1974, juntamente com meus Mestres Horácio Toccalino, José Vicente Martins Campo e Ricardo Licastro. Abaixo estão transcritos alguns trechos do referido artigo.



Why did such pediatric subspecialties emerge? A simple answer to this question is urgent clinical need. The development of each of the pediatric subspecialties, as well as (in an earlier era) the development of pediatrics itself, was the result of the perception that children with special needs were receiving poor clinical care. Such a need had long been perceived. However, it was only when specialized techniques and resulting expertise in accurate diagnosis and effective treatment (which could expertly meet this need) had been achieved, that pediatric subspecialties emerged. By the early 1970s, such expertise had developed and the need for pediatric subspecialties became recognized in the United Kingdom (as well as in Europe and North America) by the pediatric community as a whole (6).


 


In the developing world, with a decline in mortality from acute infectious diarrhea and with the advent of oral rehydration therapy, the problem of children with chronic or persistent diarrhea following acute diarrhea has emerged as an important therapeutic dilemma. Pediatric gastroenterologists such as Ulysses Fagundes Neto in Brazil have explored the relationship between infection, small intestinal mucosal damage, and food intolerance (26).

Other international societies and the Federation of Societies of Pediatric Gastroenterology and Nutrition. The Latin American Society for Pediatric Gastroenterology and Nutrition (LAPSGAN) was founded in October 1974 in Buenos Aires. There were four founders, Horacio Toccalini (the pioneer of pediatric gastroenterology in Latin America) and Ricardo Licastro from Argentina and Jose Vicente Martins Campos and Ulysses Fagundes-Neto from Brazil. Their goal was to model the society after ESPGHAN and to encourage young doctors to develop the field and especially an understanding and management of diarrhea and malnutrition in children, a major regional problem.

Outra notícia auspiciosa diz respeito a entidade Enteropatia Ambiental por mim descrita, em 1984, com a colaboração de um grande número de orientandos e que passou a ser mundialmente reconhecida neste século. Ao longo de vários anos de incessante trabalho pudemos descrever a história natural desta enfermidade de cunho eminentemente socioeconômico, desde o habitat dos pacientes (favela Cidade Leonor), as alterações físicas dos mesmos (desnutrição crônica associada a episódios de diarreia), as deficiências de absorção dos nutrientes, as anormalidades morfológicas do trato digestivo à microscopia óptica e eletrônica, e a contaminação do intestino delgado pela microflora colônica. A Enteropatia Ambiental está também reconhecida com a devida citação do meu nome na Wikipedia, cujo texto transcrevo integralmente abaixo.

Environmental enteropathy
From Wikipedia, the free encyclopedia
Environmental enteropathy, also known as tropical enteropathy or environmental enteric dysfunction (EED), is a condition or subclinical disorder believed to be due to frequent intestinal infections.[1] There are often minimal acute symptoms.[1] There may be chronic problems with absorbing nutrients which may result in malnutrition and growth stunting in children.[1] It may be the chronic form of tropical sprue which is usually brief and presents with diarrhea.[1] Environmental enteropathy results in a number of changes in the intestines including: smaller villi, larger crypts (called crypt hyperplasia), increased permeability, and inflammatory cell build-up within the intestines. These changes result in poor absorption of food, vitamins and minerals – or "modest malabsorption".[2]

Signs and symptoms[edit]

Environmental enteropathy is believed to result in chronic malnutrition and subsequent growth stunting (low height-for-age measurement) as well as other child development deficits. Especially the first two years (and the prior 9 months of fetal life) are critical for linear growth and maybe even more importantly brain development. Stunting is an easy to measure symptom of these child development deficits and the effects have been found to be mostly irreversible. Furthermore, contrary to the negative impacts of diarrheal episodes on the growth of children below the age of two, which can usually be cought up in between these episodes (given adequate nutrition), the chronic effects of environmental enteropathy are not recovered from easily.[3]

Effect on oral vaccination[edit]

Many oral vaccines, both live and non-living, have proven to be less immunogenic or less protective when administered to infants, children or adults living in low socioeconomic conditions in developing countries than they are when used in industrialized countries. Wide spread environmental enteropathy is hypothised to be one of the causes for this.[4][5]

Cause[edit]

An important cause of environmental enteropathy is most likely the constant exposure of children to their own and other people's fecal bacteria if the children live in an environment characterised by widespread open defecation and lack of sanitation like in many informal settlements in developing countries.[2]

Mechanisms[edit]

Environmental enteropathy results in a number of changes in the intestines including: smaller villi, larger crypts (called crypt hyperplasia), increased permeability, and inflammatory cell build-up within the intestines. These changes result in poor absorption of food, vitamins and minerals – or "modest malabsorption".[2]

History[edit]

The term "environmental enteropathy" was first used in 1984 by Fagundes-Neto to describe a syndrome that includes non-specific histopathological and functional changes of the small intestine in children of poor families living in conditions lacking basic sanitary facilities and chronically exposed to fecal contamination. The term was introduced to replace the previously term "tropical enteropathy" (sometimes also "tropical jejunopathy") as the condition described is not only found in tropical areas and is believed to be caused by environmental factors.[6]

References[edit]

1.     Korpe, PS; Petri WA, Jr (June 2012). "Environmental enteropathy: critical implications of a poorly understood condition.". Trends in molecular medicine 18 (6): 328–36. doi:10.1016/j.molmed.2012.04.007. PMC 3372657. PMID 22633998.
3.    Prendergast, Andrew; Kelly, Paul (2012). "Review: Enteropathies in the Developing World: Neglected Effects on Global Health". Am. J. Trop. Med. Hyg. 5 (85): 756–763.doi:10.4269/ajtmh.2012.11-0743.
4.    Levine, Myron M (4 October 2010). "Immunogenicity and efficacy of oral vaccines in developing countries: lessons from a live cholera vaccine". BMC Biology 8 (129).doi:10.1186/1741-7007-8-129. Retrieved 14 November 2014.
5.    Haque, Rashidul (16 January 2014). "Oral polio vaccine response in breast fed infants with malnutrition and diarrhea". Vaccine 32 (4): 478–482.doi:10.1016/j.vaccine.2013.11.056. Retrieved 30 September 2015.
6.     Fagundes-Neto, Ulysses; Viaro, Tania; Wehba, Jamal; Patricio, Francy Reis da Silva; Machado, Nelson Lourenço (1984). "Tropical enteropathy (environmental enteropathy) in early childhood: a syndrome caused by contaminated environment.". Trop Pediatr 4 (30): 204–209. doi:10.1093/tropej/30.4.204. Retrieved 14 November 2014.

Por fim, mas não menos importante, acabo de receber o convite oficial do Congresso Mundial da especialidade que será realizado em outubro próximo em Montreal para proferir uma palestra sobre Enteropatia Ambiental, conforme abaixo transcrevo.



Conforme anteriormente mencionei reitero a enorme satisfação e orgulho em compartilhar com todos aqueles que colaboraram comigo nestes anos de vida acadêmica estes fatos altamente relevantes e aproveitar a oportunidade para render minha mais elevada gratidão a todos os colaboradores que trilharam comigo esta longa jornada.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Aleitamento Materno: por que estimular?


Francine Canovas Dias e Ulysses Fagundes Neto


Recomendações

Na década de 1980 surgem os primeiros estudos sobre a prática do Aleitamento Materno Exclusivo demonstrando os enormes benefícios para os lactentes, com significativa diminuição da Morbidade e Mortalidade:

0 a 6 meses aleitamento materno exclusivo livre demanda

6 meses a 2 anos aleitamento materno + alimentação complementar
(OMS/UNICEF, 1995)

Aleitamento Materno aos 2 anos de idade – 500ml
Vitamina C
95%
Vitamina A
45%
Proteínas
38%
Energia
31%
Permanece protegendo contra doenças infecciosas


Tipos de Aleitamento Materno

Classificação do aleitamento materno

  Aleitamento Materno Exclusivo

  Aleitamento Materno Predominante

 Aleitamento Materno

 Aleitamento Materno Complementado

Aleitamento Materno Misto ou Parcial


Composição do Leite Materno

Tabela 1 – Composição do colostro e leite materno maduro de mães de crianças a termo e pré-termo e do leite de vaca

Nutriente
Colostro*
 (3-6 dias)
Leite Maduro
 (26-29 dias)
Leite de Vaca
Termo
Pré-Termo
Termo
Pré-Termo

Calorias (Kcal/dL)
48
58
70
70
69
Lipídios (g/dL)
1,8
3,0
4,0
4,1
3,7
Proteínas (g/dL)
1,9
2,1
1,3
1,4
3,3
Lactose (g/dL)
5,1
5,0
7,0
7,0
4,8

(Ministério da Saúde, 2009)

*> Proteínas, Vitaminas Lipossolúveis (E, A e K), Minerais (zinco e sódio) e Imonuglobulinas

*< Lactose, Gordura e Vitaminas Hidrossolúveis

Composição do Leite Materno

Proteínas

Leite Humano (LH)
Leite de Vaca (LV)
Benefícios (LH)
1,3g
3,3g
-Concentração mais adequada para o crescimento.  
  -Carga de soluto baixa para os rins imaturos do lactente.
Relação soro/caseína
80/20
Relação soro/caseína
20/80
-Melhor nível de absorção.
-Formação de coalho gástrico mais suave.
-Reduz o tempo de esvaziamento gástrico.                   
-Facilita a digestão.
α- lactoglobulina
β-lactoglobulina
Caseína
-Proteína importante para o sistema enzimático da síntese de lactose.
Aminoácidos (aa) e Cistina
Metionina
-Cistina aa essencial
Taurina
Taurina
-aa essencial, papel de neutransmissor e neuromodulador no desenvolvimento do SNC.


Gorduras
Leite Humano (LH)
Leite de Vaca (LV)
Benefícios (LH)
Triglicerídios 98%
42% ácidos graxos saturados
57% ácidos graxos insaturados
(Rico em ácidos graxos de cadeia longa)
-Ácidos graxos de cadeia curta e média
-Regulador de apetite
-Importantes para o desenvolvimento e
mielinização do cérebro.
-Ácido araquidônico e linoleico 0,4g
-Ácido araquidônico e linoleico
0,1g
-Lipase não especifica
-Ausência de lipase não específica
-Digestão das gorduras

 Nutriente mais variável do Leite Humano.

Em algumas mulheres a concentração de gordura no leite final é 4-5x maior que o do leite inicial.

Humanos e gorilas são os únicos mamíferos que possuem o substrato e a enzima no mesmo fluido.


Lactose
Leite Humano (LH)
Leite de Vaca (LV)
Benefícios (LH)
Colostro 4%
Leite Maduro 7%
4% a 5%
-40% das necessidades energéticas

Lactose:         glicose e galactose         galactolipídeos = Desenvolvimento do SNC

Facilita a absorção de Cálcio e Ferro.

Fator bífido (carboidrato nitrogenado) presente no LH, crescimento de Lactobacilo bífidus.

Vitaminas
As vitaminas hidrossolúveis e Lipossolúveis dependem da alimentação materna

-LH geralmente apresenta maiores quantidades de ácido fólico, ácido ascórbico e niacina

Minerais
Leite Humano (LH)
Leite de Vaca (LV)
Benefícios (LH)
cálcio/fósforo
cálcio/fósforo
-Absorção de cálcio mais eficiente
70% ferro é absorvido
30% ferro é absorvido
-Maior biodisponibilidade
-Raro anemia ferropriva em lactentes em AME

A quantidade dos minerais no LH são menores em relação aos seus substitutos, porém os micronutrientes do LH apresentam maior biodisponibilidade (maior percentual de absorção).

Vantagens para o Lactente

1. EVITA MORTES DOS LACTENTES

-Aleitamento Materno (AM) evitou 13% (6 milhões) das mortes em crianças menores de 5 anos em todo mundo.

-AM diminui de 6 vezes a mortalidade em LACTENTES menores de 2 meses.

2. EVITA DIARREIA

-Crianças em Aleitamento Materno: protege contra as infecções gastrointestinais

-Crianças SEM AM apresentam 3x maior risco de desidratação e diarreia

3. EVITA INFECÇÕES

 Tratos Gastrointestinal e Respiratório

Fatores anti-infecciosos do Leite Materno:
      
 -Componentes solúveis: imunoglobulinas (IgA, IgM, IgG), lisozimas, lactoferrina, fator bífidus e substâncias imunoreguladoras.

 -Componentes celulares: macrófagos, linfócitos, granulócitos.

4. DIMINUI RISCO DE ALERGIA

5. DIMINUI RISCO DE HIPERTENSÃO, COLESTEROL ELEVADO, DIABETES E OBESIDADE
                                       
Benefícios a longo prazo

 -Pressão sanguínea mais baixa

 -Colesterol total mais baixo

 -Menores prevalências de diabetes Tipo 2

-Crianças que consumiram Leite de vaca, antes dos 4 meses podem aumentar o risco de aparecimento de Diabetes mellitus Tipo I.

6. DESENVOLVIMENTO ADEQUADO DA CAVIDADE BUCAL

-Aleitamento proporciona à criança uma melhor conformação do palato duro.


-Alinhamento correto dos dentes e boa oclusão dentária.



7. EFEITO POSITIVO NA PARTE COGNITIVA

 -Há indicações de que um lactente amamentado ao seio possa ser mais alerta, chorar menos e ter maior capacidade para envolver-se em interações com seus pais.

8. ALIMENTO MAIS NUTRITIVO E ESPECÍFICO PARA A CRIANÇA                                     

VANTAGENS PARA A MÃE

1.  QUESTÕES ECONÔMICAS

-Disponibilidade imediata e temperatura adequada

-Leite Materno possui concentração adequada de nutrientes

-Custo financeiro é menor quando amamentado

2004: No Brasil crianças que não eram amamentadas até o 6°mês: 

Gasto = 38% a 133% do salário mínimo

2. EVITA NOVA GRAVIDEZ       

3. PROTEGE CONTRA CÂNCER DE MAMA

4. VÍNCULO AFETIVO MÃE-FILHO

-Troca de afeto e sentimentos de segurança e proteção.

-Autoconfiança e realização da mulher.

-Comunicação entre mãe e filho.

5. MELHOR QUALIDADE DE VIDA

-Crianças amamentadas adoecem menos e necessitam menos atendimento médico.