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quinta-feira, 14 de abril de 2016

Minha História de vida e minha História vivida na EPM/UNIFESP (49)

1- A consolidação da tradição em Pesquisa, Produção e Divulgação do Conhecimento, Ensino e a sólida formação de Especialistas em Gastroenterologia e Nutrição em Pediatria (parte 5)

1.1- O enorme êxito da implantação da Pós-Graduação sentido estrito, Mestrado e Doutorado, na Pediatria

Teses de Doutorado

1.          Christiane Araújo Chaves Leite. Avaliação da ultraestrutura do intestino delgado por microscopia eletrônica de transmissão e de varredura em crianças infectadas pelo HIV. 2009. Procedência: Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Ceará – Destino: Docente UFC, Fortaleza
 
2.          Mario Luis Antonio Escobar Pardo. Estudo epidemiológico da infecção por Helicobacter pylori em crianças índias do Parque Indígena do Xingu. 2009. Procedência: Bogotá, Colômbia – Destino: São Paulo
 
3.          Maria Teresa Bechere Fernandes. Prevalência de doença gordurosa do fígado de causa não alcoólica e fatores associados em adolescentes obesos do Embu e Taboão da Serra. 2007. Procedência: EPM – Destino: Docente USP
 
4.          Ângela Peixoto de Mattos. Ensaio clínico duplo-cego randomizado para avaliação de diferentes planos dietéticos no manejo nutricional de crianças com diarreia persistente. 2003. Procedência: Universidade Federal da Bahia, Salvador, BA – Destino: Docente UFB, Salvador
 
5.          Claudia Regina Nunes Eloi da Luz. Pesquisa de agentes enteropatogênicos nas fezes de lactentes com diarreia aguda em São Luís - MA. 2002. Procedência: São Luís, MA – Destino: São Luís
 
6.          Jairo César dos Reis. Utilização da glicose e lactulose no diagnóstico do sobrecrescimento bacteriano no intestino delgado por meio do teste do Hidrogênio no ar expirado. 2002. Procedência: Marília – Destino: UNIMAR, Marília
 
7.  Jacy Alves Braga de Andrade. Estudo ultraestrutural da interação de amostras de Escherichia coli entreroagregativa (EAEC) com a mucosa intestinal humana preservada in vitro: sugestão de invasão como fator de virulência. 2001. Procedência: São Paulo, SP – Destino: São Paulo

 Figura 4- Membros da delegação da nossa Disciplina participantes do I Congresso Mundial de Gastropediatria em Boston, agosto de 2000. O último à direito de terno é Ulysses Fagundes que havia acabado de apresentar um trabalho oral na sessão de Temas Livres.     Elisabete     Garcia         Jacy       Mauro
 
8.          Célia Regina Moreira. Estudo da interação de amostras de Escherichia coli enteroagregativa com a mucosa intestinal de coelhos in vivo. 2001. Procedência: Mestrado UNIFESP – Destino: São Paulo
 
9.          Cecilia Noronha. Perfil nutricional de pacientes celíacos acompanhados em ambulatório. 1999. Procedência: Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ – Destino: Docente UERJ
 
10.      Gildney Maria dos Santos Alves. Estado nutricional, absorção e tolerância à lactose e sobrecrescimento bacteriano no intestino delgado de crianças índias Terenas - Mato Grosso do Sul. 1998. Procedência: Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Campo Grande, MS – Destino: Docente UFMS
 

Figuras 5 & 6- Gildney em pleno trabalho de campo em Aquidauana com os índios Terenas.
 
11.      Aristides Schier da Cruz. Alterações dos ácidos biliares na diarreia aguda e persistente e enteropatia ambiental assintomática. 1997. Procedência: Curitiba, PR – Destino: Hospital Pequeno Príncipe, Curitiba
 
12.      Carlos Alberto Garcia Oliva. Balanços metabólicos de lactentes hospitalizados com diarreia aguda: comparações entre fórmulas com e sem lactose na realimentação. 1997. Procedência: São Paulo – Destino: EPM
 
13.      Rosa Helena Porto Gusmão. Subgrupos, sorotipos e eletroferotipos de rotavírus em crianças hospitalizadas em Belém Pará. 1995. Procedência: Universidade Estadual do Pará, Belém, PA – Destino: Docente UEP
 
Figura 7- Rosa Helena
 
14. Lenora Gandolfi Schimitz. Diarreia aguda em Brasília: seguimento clínico durante trinta dias. 1994. Procedência: Universidade de Brasília, Brasília, DF – Destino: Docente UNB
 
15.      Fátima Maria Lindoso da Silva. Análise da implantação de um projeto de promoção do aleitamento materno natural exclusivo numa comunidade de favelados. 1993. Procedência: Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PE – Destino: Docente Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO
Figura 8- Fátima Lindoso e seu grupo de mães participantes do exitoso projeto de promoção do aleitamento natural exclusivo por tempo prolongado.
 
16.      Maria Ceci do Vale Martins. Enteropatia ambiental: efeitos da mudança de ambiente em tempo parcial sobre o estado nutricional e as alterações morfofuncionais da mucosa jejunal. 1993. Procedência: Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE – Destino: Hospital Albert Sabin, Fortaleza

Figura 9- Maria Ceci
 
17.      Marcia Rached Esper Kallas. Morfometria do intestino delgado na diarreia aguda e persistente por Escherichia coli enteropatogênica clássica - EPEC. 1993. Procedência: São Paulo, SP – Destino: São Paulo
 
18.      Elisabete Kawakami. Transporte transepitelial de soluções de hidratação oral em alças jejunais de ratos submetidos a perfusão in vivo. 1991. Procedência: EPM – Destino: Docente EPM
 
19.      Maria Fernanda Branco de Almeida. Determinação dos níveis séricos das imunoglobulinas (G, A, M e E) das subclasses da imunoglobulina G e dos anticorpos à proteína do leite de vaca em portadores de diarreia protraída. 1989. Procedência: EPM – Destino: Docente EPM
 
20.      Fernando Fernandes. Análise dos efeitos dos sobrenadantes de culturas de biosorotipos de Escherichia coli enteropatogênica clássica EPEC no transporte transepitelial de sódio e água em mucosa jejunal de ratos submetidos a métodos de perfusão intestinal in vivo. 1985. Procedência: São Paulo, SP – Destino: São Paulo

Figura 10- Grupo de médicos formados pela EPM que disputaram um campeonato internacional de futebol em Portsmouth, Inglaterra, em 1987. Fernando Fernandes está ao centro de camiseta verde.
 
21.      Mauro Batista de Morais. Estudo nutricional de crianças índias do alto Xingu e avaliação do perímetro braquial no diagnóstico da desnutrição proteico-calórica. 1985. Procedência: EPM – Destino: Docente EPM
 
Devo enfatizar que tive enorme satisfação não somente em fazer parte do Corpo de Orientadores por mais de 30 anos, como também participar como membro efetivo da Comissão de Pós-Graduação no período de 1992-95. Em abril de 1995, fui eleito pelos meus pares Presidente desta Comissão para um mandato de 3 anos. Durante este mandato foi realizada uma vistoria de avaliação do Curso por uma comissão da CAPES para atender nossa solicitação de recredenciamento, a qual foi aprovada com grau A de excelência, em outubro de 1996. A consequência desta minha experiência como Coordenador da Pós-Graduação se coroou com a publicação de 2 livros contando a história da nossa Pós-Graduação. O primeiro deles em 1997, após 17 anos da sua implantação, e o segundo em 2003, já como Chefe do Departamento de Pediatria, juntamente com o Prof. Benjamin Israel Kopelman, Coordenador da Pós-Graduação na ocasião. Ambos os livros tinham o escopo de analisar retrospectivamente a origem e o destino dos nossos pós-graduandos, os títulos das teses, o ano de apresentação, e o nome do professor orientador.
Figura 11

Figura 12

Figura 13

Figura 14

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Minha História de vida e minha História vivida na EPM/UNIFESP (4)

4-         Estudante de Medicina na Escola Paulista de Medicina

4.1- Vida Acadêmica

Um muito breve resumo, a EPM foi fundada em 1933, tratava-se de uma Faculdade de Medicina privada, porém, sem fins lucrativos e que apresentava uma característica muito peculiar, praticamente inédita, pois os professores ao invés de receberem salário, pagavam para dar aulas, pois era preciso levar adiante este ideal, era um imenso e custoso desafio que se apresentava. A primeira sede da EPM foi uma pequena casa que se localizava no bairro da Vila Mariana, na esquina da rua Abílio Soares com a rua Coronel Oscar Porto (Figura 1), que já não existe mais.


Figura 1- Primeira sede da EPM, 1933.

 Em fins de 1930 a sede mudou-se para seu local definitivo na Vila Clementino, rua Botucatu 740 (Figuras 2 - 3 & 4). 


Figura 2- A sede definitiva da EPM, foto de 1936.




Figuras 3 e 4- Fotos atuais da sede da EPM.

Devido aos eternos problemas financeiros por que passava, a EPM foi federalizada em 1956, e posteriormente em 1994 foi transformada por lei federal na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Em 1940 foi construído o Hospital São Paulo que se constituiu no primeiro hospital de ensino do país e em 1957 foi instituído o programa da Residência Médica, também um dos pioneiros em nosso país (Figura 5).

Figura 5- Vista aérea do PS do HSP e do prédio do HSP à esquerda.

Terminada a euforia do ingresso na vida universitária passamos a conviver com a dura realidade do programa curricular do curso de Medicina. A ilusão de que já éramos quase médicos e que começaríamos a entrar em contato com pacientes rapidamente se dissipou, pois tivemos que passar a conviver com as Disciplinas chamadas da área básica, ou seja, Anatomia, Histologia, Bioestatística, Farmacologia, Biofísica, Bioquímica, Anatomia Patológica, Microbiologia, Imunologia, Parasitologia, etc. Em contrapartida tivemos a oportunidade de conviver com fantásticos professores, frequentar laboratórios de pesquisa da mais alta qualidade, ter à nossa inteira disposição a mais completa biblioteca da área da saúde da América Latina, a Bireme, financiada pela Organização Pan-Americana da Saúde, localizada dentro do campus em um edifício recém construído para tal escopo (Figura 6). 

Figura 6- Fachada lateral da BIREME.


O professor que se tornou nosso primeiro amigo foi o jovem professor José Carlos Prates (na década de 1970 tornou-se Diretor da EPM), da Anatomia, que era assistente do professor catedrático Renato Locchi, um austero senhor que havia sido discípulo de um famoso anatomista italiano que veio trabalhar na USP na década de 1940, Alfonso Bovero. Prates nos defendia dos tradicionais banhos de fim de tarde que os veteranos nos aplicavam. Eles ficavam esperando o fim da prática de Anatomia e nos encurralavam na saída do laboratório para jogar água nos calouros, era uma prática diária que ia até o mês de maio (libertação da escravatura). Muitas vezes para tentar nos proteger Prates saia na frente imaginando que seria respeitado pelos veteranos, porém, esta tática nem sempre dava certo e inúmeras vezes ele foi o primeiro a levar uns baldes de água na cabeça. Na Histologia sofríamos por ter que desenhar as estruturas dos tecidos do organismo humano vistas nos microscópios e sermos cobrados porque as reproduções desenhadas nem de longe refletiam o que as lâminas nos mostravam. O chefe da cadeira era o Prof. Nilceu Marques de Castro, havia se formado na primeira turma da EPM em 1933, tinha um orgulho enorme em ser um genuíno epemista, também era extremamente severo, ele costumava deixar praticamente metade da turma para segunda época (era a segunda chance algumas semanas após o exame final), eu não fui exceção. Prof. Nilceu tornou-se diretor da EPM na década de 1960, mas infelizmente não terminou seu mandato pois venho a falecer durante sua gestão de modo trágico. Ele gostava de pescaria em alto mar e numa destas pescarias o barco em que estava afundou e ele morreu afogado (Figura 7).


Figura 7- Prof. Nilceu Marques de Castro.


Atravessando a rua Pedro de Toledo no quarteirão em direção à rua Loefgren, situavam-se além da Bireme, outros laboratórios de pesquisa. Um deles era conhecido pela alcunha de Pampulha por que lá era a sede de duas Disciplinas, Bioquímica e Farmacologia, que eram lideradas por dois professores mineiros, Prof. Leal do Prado e Prof. Ribeiro do Vale. Eles eram prestigiosos cientistas com grande produção em pesquisa básica, reconhecidos internacionalmente. Foram eles, no início dos anos 1970, os responsáveis pela implantação dos cursos de Pós-Graduação, Mestrado e Doutorado, na nossa instituição. Em um outro edifício de 9 andares, recém construído, denominado Edifício das Ciências Biomédicas estavam abrigadas várias Disciplinas, tais como, Biofísica, chefiada pelo Prof. Paiva e juntamente com sua mulher Prof. Terezinha, Microbiologia, Prof. Otto Bier, Parasitologia, Prof. Dandretta e Bioestatística, Profs. Paiva e Neil.   
                     
A despeito dessa inicial frustração, é importante ressalvar que a mudança de vida e status foram enormes. Havia ainda poucas Faculdades de Medicina no país e por consequência poucos médicos. Apresentar-se como estudante de Medicina era por si só um belo cartão de visitas, abria inúmeras portas na nossa sociedade.

Durante os três primeiros anos nosso comportamento sociocultural se limitava aos arredores da rua Botucatu, lanchonetes, cafés (o Finesse era o principal ponto de encontro) e bilhar (nos intervalos das aulas íamos disputar partidas de sinuca no Constantino na rua Pedro de Toledo), do lado oposto ao Hospital São Paulo.

Esta longa e árdua rotina durou, em tempo integral (manhã e tarde), até o terceiro ano, quando somente a partir daí então começamos a travar contato com as Disciplinas chamadas profissionalizantes. Logo que entrei na EPM, tinha a ideia de fazer clínica geral, de não fazer cirurgia, nunca tive talento nem tampouco paciência para usar o bisturi, muito menos ficar dissecando. Para mim, era uma tortura ficar na Anatomia dissecando, queria ter relações com as pessoas, então tinha certeza que faria alguma atividade clínica.

A partir do quarto ano, vestindo jaleco branco e já com o estetoscópio pendurado ao pescoço (este era o símbolo inconfundível de que já estávamos examinando pacientes), tudo mudava, inclusive também mudava nosso rumo na hora do café no meio da manhã e no almoço, agora passava a ser em frente ao Hospital São Paulo, na rua Napoleão de Barros, o tradicionalíssimo Xaxim.  Nesta época fomos introduzidos ao mundo hospitalar, ambulatórios das mais diversas especialidades e às enfermarias dos pacientes internados. Nesta área profissionalizante também tivemos fantásticos professores, as célebres visitas aos leitos das diferentes clínicas eram extremamente ricas, as discussões de casos nos mostravam a eloquência e a experiência dos nossos mestres, enfim aprendia-se muito do ponto de vista médico, mas acima de tudo o raciocínio clínico e o caráter humanitário de como deviam ser tratados nossos pacientes. Dentre todos estes grandes professores havia um deles que sobressaia de forma nítida, e que se tornou nosso paraninfo, Prof. Domingos Delascio, da Obstetrícia (Figura 8). 

Figura 8- Festa da formatura em minha casa, Prof. Delascio, de terno preto ao centro.


Ele possuía o dom da docência de forma absolutamente nata, se entregava de corpo e alma aos seus discípulos, era incansável, oferecia até mesmo sua casa para que pudéssemos estudar com ele em sua vasta biblioteca pessoal. Era muito comum à noite um pequeno grupo de alunos seus irem à sua casa após o jantar para estudar algum tópico dos novos conhecimentos da área médica. Eu mesmo depois de formado, ainda na década de 1970-80, já como Pediatra, tive a honra de ser por ele escolhido para acompanhar os partos que ele fazia no Hospital Umberto I. Tratava-se de uma prática pioneira, a presença do Pediatra na sala de parto para atender o recém- nascido imediatamente após o parto. Esta prática havia sido introduzida na América Latina por um grupo uruguaio liderado pelo dr. Caldero-Barcia, que esteve entre nós dando um curso de atenção ao recém-nascido na sala de parto quando eu estava no quinto ano, e que foi adotada de imediato pelo Prof. Delascio, no Hospital São Paulo e em sua clínica privada.
 
Mas, retornando aos tempos de aluno, os anos foram se passando com enorme rapidez, no quinto ano iniciamos o internato que se estendeu por todo o sexto ano e, assim, praticamente sem que nos déssemos conta, estávamos chegando à formatura (Figuras 9 - 10 & 11). 






Figuras 9 - 10 e 11- Festa de formatura em minha casa com familiares e colegas de turma. Prof. Prates aparece no alto ao centro.

Agora mais um desafio se avizinhava, a escolha da área médica de atuação para prestar e ser aprovado no exame da Residência Médica. Como o número de vagas era limitado e menor do que o número de postulantes teríamos que ser submetidos a mais um vestibular, isto era inevitável. Como havia optado pela Pediatria a disputa era das mais acirradas, pois havia apenas 5 vagas e éramos 15 concorrentes. Prestei o exame que constava de uma prova teórica e outra prática, felizmente fui aprovado, desta forma começava uma nova etapa na minha vida pessoal e profissional, minha carreira como Médico cumpriria os 3 anos da Residência Médica.


A escolha pela Pediatria se deu porque a preocupação social sempre me afligiu, pois como joguei futebol nos mais variados e distantes lugares da periferia da cidade de São Paulo, pois era lá que se encontravam os campos de futebol da nossa várzea, passei por muitas favelas, me comovia ver as crianças abandonadas, a miséria, a desigualdade social sempre me incomodou tremendamente. Entendia que a melhor forma de ajudar na questão social era trabalhar com crianças e a minha tendência natural foi ir para a Pediatria. Mas queria trabalhar na Pediatria em algo que tivesse relevância social, por isso me aproximei da Medicina Preventiva, porém, infelizmente não encontrei lá, naquela ocasião, um estímulo que fosse suficientemente importante para trabalhar nesta área, então me voltei para a Pediatria.