quarta-feira, 27 de abril de 2011

O emprego de pró-bióticos para aliviar os sintomas da Síndrome do Intestino Irritável

Introdução
A Síndrome do Intestino Irritável (SII), como se sabe, é um transtorno funcional, conceituada como tal pelos critérios de Roma II (Gut 199;45(Suppl 2):1160-68) e reafirmada pelos critérios de Roma III (Gastroenterology 2006;130:1527-37). Os sintomas que caracterizam esta síndrome devem incluir todas as seguintes manifestações clínicas: 1- Desconforto abdominal ou dor abdominal associada com pelo menos 2 das seguintes situações em pelo menos 25% do tempo, a saber: a) alívio após a defecação; b) instalação acompanhada de alteração na freqüência das evacuações e c) instalação associado com alteração na forma das fezes; 2- Ausência de evidência de processo inflamatório, anatômico, metabólico ou neoplásico que possa justificar as manifestações clínicas referidas pelo paciente.

Admite-se a SII é diagnosticada em 0,2% das crianças (média de idade 52 meses) atendidas clínicas pediátricas de atenção primária e de 22 a 45% das crianças entre 4 e 18 anos referidas aos cuidados clínicos de atenção terciária.

Os sintomas que de forma cumulativa dão sustentação ao diagnóstico da SII são: 1- freqüência anormal das evacuações (4 ou mais por dia e 2 ou menos por semana); 2- formato anormal das fezes (endurecidas ou amolecidas e líquidas); 3- eliminação dificultada das fezes (esforço, urgência, ou sensação de evacuação incompleta); 4- eliminação de muco e 5- flatulência ou sensação de distensão abdominal.

Trabalhos de investigação têm documentado a ocorrência de hipersensibilidade visceral nas crianças portadoras da SII, a qual pode estar relacionada a inúmeros problemas clínicos, tais como: infecção, inflamação, trauma intestinal, alergia e pode estar associada a alguma anormalidade na motilidade intestinal. Admite-se que exista uma predisposição genética, a existência prévia de fatores estressantes e a incapacidade emocional do paciente em contornar estes fatores.

Algumas características psicológicas estão usualmente presentes, a saber: ansiedade, depressão e outras múltiplas queixas somáticas acompanham o quadro clínico.

Diante do desconhecimento da intimidade do processo fisiopatológico que envolve esta síndrome tem sido propostos diversos esquemas terapêuticas com as variadas abordagens que em geral resultam infrutíferas para aliviar estes sintomas funcionais. Recentemente, entretanto surgiu um artigo de investigação no Journal odf Pediatric Gastroenterology and Nutrition (JPGN 2010;51:24-30) produzido por Stefano Guandalini e cols. tendo como objetivo investigar a eficácia do emprego de um pró-biótico, para aliviar os sintomas, em um grupo de adolescentes portadores da SII., e que a seguir passo a reproduzir seus aspectos de maior importância.

Os autores afirmam que embora a etiologia da SII permaneça desconhecida, há reconhecimento crescente do papel de que as infecções entéricas e as alterações da microflora colônica estão envolvidas na gênese desta condição. Por esta razão, recentemente o uso de pró-bióticos tem sido proposto com eficácia em adultos; na faixa etária pediátrica lactobacilos GG foram testados oferecendo resultados conflitantes. Até o presente momento, nenhuma pesquisa foi realizada na idade pediátrica utilizando-se a mistura pró-biótica VSL, que se constitui em um preparado pró-biótico patenteado e que resultou em alguma eficácia em investigações realizadas em adultos com a SII. VSL contém bactérias acido-lácticas vivas e congeladas secas em uma concentração total de 450 bilhões de bactéria por pacote, compreendendo 8 cepas diferentes, a saber: Bifidobacterium breve, B longum, B infantis, Lactobacillus acidophilus, L plantarum, L casei, L bulgaris e Streptococcus thermophilus.
O presente trabalho teve por objetivo avaliar a eficácia desta mistura de pró-bióticos administrada por via oral em crianças portadoras de SII.

Pacientes e Métodos


Esta investigação baseou-se em um ensaio clínico “crossover”, randomizado, controlado por placebo, realizado em 5 centros pediátricos de cuidados terciários localizados na Itália e na Índia. O centro de Chicago serviu como pólo de coordenação, aonde os dados foram unificados e analisados. Foram considerados elegíveis para serem incluídos no estudo pacientes de ambos os sexos com idades que variaram de 4 a 18 anos de idade, portadores da SII, diagnosticados de acordo com os critérios de Roma II. Inicialmente os pacientes foram submetidos a uma fase de observação por 2 semanas sem receberem quaisquer medicamentos, durante a qual preenchiam um questionário a respeito dos sintomas. Após completar este período inicial foram alocados de forma randomizada duplo cego para receberem o placebo ou a intervenção medicamentosa com a mistura de pró-bióticos. Os pacientes recebiam um sache de VSL#3 (1 por dia para as crianças de 4 a 11 anos e 2 por dia para as de 12 a 18 anos) ou um sache de idêntica aparência contendo o placebo para serem administrados durante 6 semanas. Nenhum outro medicamento, exceto analgésicos, foi permitido ser administrado durante o período de duração do estudo. Durante todo este período os pacientes ou seus cuidadores deveriam preencher um extenso questionário para avaliar as manifestações clínicas em ambos os grupos. Os pacientes foram acompanhados clinicamente a cada 2 semanas até o final do estudo. Após as semanas iniciais os pacientes permaneceram sem receber quaisquer medicamentos por 2 semanas, e ao cabo deste período de tempo os grupos foram invertidos, ou seja, os que haviam recebido a mistura de pró-bióticos passaram a receber o placebo e vice-versa para aqueles que haviam recebido o placebo. O período de estudo foi finalizado com uma última consulta e com o preenchimento do questionário final. Os formulários de cada paciente dos centros de investigação foram enviados para o centro coordenador e o código da randomização foi, então, rompido para a elaboração da análise dos dados obtidos (Tabela 1).



O primeiro ponto final de avaliação dos pacientes foi o grau de alívio global dos sintomas. O segundo ponto final de avaliação dos pacientes foi o grau de alívio específico dos sintomas, a saber: desconforto/dor abdominal, padrão das fezes, distensão abdominal e o impacto que as manifestações clínicas do paciente portador da SII apresentaram sobre a vida familiar.

Resultados

De um total de 67 pacientes inicialmente eleitos para participar da investigação 59 deles completaram o ensaio clínico. A idade média dos pacientes foi de 12,5 anos. Não ocorreu qualquer evento adverso com os pacientes durante todo o transcorrer do estudo. A Tabela 2 discrimina aas características clínicas de base dos pacientes no momento do ingresso no estudo.
1- A Figura 1 revela o primeiro ponto final de avaliação, o qual diz respeito ao grau de alívio global dos sintomas.

2- A Figura 2 ilustra a progressão dos escores quanto aos episódios de desconforto/dor abdominal.
3- A Figura 3 demonstra as alterações dos escores relativos à distensão abdominal.

4- A Figura 4 evidencia as alterações dos escores quanto aos padrões de evacuação.

5- A Figura 5 refere-se à percepção dos familiares em relação à evolução clínica do paciente durante o período do estudo.


Conclusão

Os autores concluem que este é o primeiro estudo dirigido a avaliar o uso da mistura de pró-bióticos VSL#3 em crianças portadoras da SII. Afirmam que os achados deste estudo revelaram que o medicamento testado foi efetivo em promover um alívio na percepção global dos sintomas, na intensidade e na freqüência da dor abdominal, na distensão abdominal e na melhoria da qualidade de vida observada pelo cuidadores; não ocorreu uma significante modificação no número das evacuações e nem tão pouco nas características das fezes. Por estas razões acreditam os autores que o medicamento VSL#3 é um bem-vindo acréscimo ao paupérrimo arsenal de estratégias terapêuticas disponíveis para crianças e adolescentes portadoras de SII.

Comentário

Indiscutivelmente trata-se de um projeto de pesquisa extremamente detalhado e cuidadoso atendendo com rigor as normas científicas metodológicas exigidas para este tipo de ensaio clínico. Fica evidente, porém, que o objetivo do presente trabalho é propor um medicamento que possa promover um alívio sintomático e não agir sobre a causa deste transtorno funcional de tão elevada prevalência pelo menos nos países do mundo ocidental. Vale ressaltar que na minha vivência clínica entendo a SII como uma manifestação clínica de origem psicossomática, posto que é universalmente reconhecido que o trato digestivo representa uma caixa de ressonância das inúmeras tensões emocionais a que estão sujeitas as crianças e os adolescentes, bem como os adultos, devido ao alucinante ritmo de vida que a sociedade moderna inevitavelmente nos impõe. Atuar na causa dos problemas é em primeiro lugar reconhecer que a SII se trata de um transtorno funcional, e que, portanto, não produz quaisquer alterações de natureza inflamatória, anatômica ou bioquímica, pelo menos até o presente conhecidas pela medicina, ou seja, não apresenta riscos de vida ao paciente a médio ou em longo prazo. Em segundo lugar, deve-se orientar os familiares para a natureza benigna da SII, e que, a melhor proposta para aliviar os sintomas, é a de se fazer um grande esforço para aprender a lidar com eles, e assim evitar o surgimento e a persistência dos seus efeitos indesejáveis.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Presidente de Honra do XVIII Congresso Latino Americano de Gastroenterologia Pediátrica - Santo Domingo, Rep. Dominicana

Estimado Seguidor e Estimada Seguidora


Tenho imenso prazer em compartilhar com você essa manifestação de apreço que recebi dos meus colegas latino americanos. Como você tem fielmente me acompanhado, nestes praticamente 3 anos de atividades ininterruptas, desde a criação deste meio de comunicação, abro neste momento, uma pequena exceção. Ao invés de publicar algum tema de atualização sobre a especialidade tomo a liberdade de trazer ao seu conhecimento algo que me trouxe enorme satisfação e orgulho. Ao longo destes 40 anos de vida profissional tive a oportunidade de formar inúmeros colegas oriundos dos mais diversos países da América Latina, e, agora, em retribuição aos meus serviços prestados para o bem estar das nossas crianças, recebo esta valiosa honraria que desejo compartilhar consigo. Desfrute comigo, portanto, este momento de alegria e júbilo.


Um forte abraço,


Ulysses


PS.- Segue abaixo a cópia do link do Congresso, o qual pode ser integralmente visualizado no seguinte site: http://www.slaghnp.gauno.com/

Haciendo eco del proverbio “Honor al que honor merece”, tenemos la inmensa satisfacción y difícil tarea de presentarles a un ser humano de una versátil y elevada valía científica; innovador, trabajador incasable, con gran dote de dirigente solidario y de organización. Nos referimos a un hombre sencillo, auténtico, de carácter fuerte y jocoso a la vez, con una trayectoria profesional excepcional, nos referimos al Dr. Ulysses Fagundes Neto.El Doctor Fagundes Neto, se graduó de médico en la Universidad Federal de São Paulo en el 1970, hizo residencia en Pediatría en la Escuela Paulista de Medicina (1971-73), especialización en Gastroenterología Pediátrica en el Policlínico Alejandro Posadas, Buenos-Aires, República Argentina (1973), realizó Maestría en Gastroenterología Pediátrica en el Instituto Brasileiro de Estudios y Pesquisas en Gastroenterología (1976) y Doctorado en Pediatría (1977) por la UNIFESP/EPM, Póst-Doctorado en Pediatric Research, North Shore University Hospital, Nova Iorque, Cornell University, USA (1977-1979). Es Profesor Titular de la Universidad Federal de São Paulo y Editor-Jefe del Electronic Journal of Pediatric Gastroenterology, Hepatology and Nutrition. Es miembro del cuerpo Editorial de las Revistas: Revista Paulista de Pediatría, Journal de Pediatría, Archivos de Gastroenterología. Vice Rector de la Universidad Federal de Sao Paulo, UNIFESP (1999-2003) y Rector de la misma (2003-2008).Tiene una vasta experiencia en diarrea aguda, diarrea persistente, diarrea crónica, Enteropatía Ambiental, Enfermedad Celíaca, Alergia Alimentaria e infecciones por Escherichia Coli, con más de 300 trabajos de investigación publicados, 11 trabajos completos publicados en anales de congresos, 5 capítulos de libros y 5 libros publicados.Además, es Miembro Fundador de la Sociedad Latinoamericana de Gastroenterología y Nutrición Pediátrica SLAGHNP, cuya primera directiva fue conformada por el Dr. Horacio Toccalino como Presidente, el Dr. José Vicente Martins Campos como Secretario General y como Tesorero el Dr. Ulysses Fagundes Neto, quien organizó la primera reunión científica donde surgió la SLAGHNP, el 10 de Octubre de 1975,Sao Paulo Brasil; también organizó la segunda reunión científica en 1976, Sao Paulo Brasil, igual que el XII Congreso Latino-Americano de Gastroenterología, Hepatología y Nutrición Pediátrica en Junio de 1996 en Sao Paulo, Brasil, Presidente de la SLAGNP 1996-1998 y Presidente del Tercer Congreso Mundial de la especialidad en 2008 (Iguazú, Brasil). El Dr. Fagundes Neto, es el responsable de la formación de cientos de Pediatras Gastroenterólogos, entre los que figuran varios dominicanos, es Mentor y Motivador de la creación de nuestro Capítulo Dominicano de Gastroenterología y Nutrición Pediátrica, respaldando la Primera Vocalía SLAGHNP para la República Dominicana, otorgada en el 1996 en Sao Paulo, Brasil, así como la SEDE para el Congreso de SLAGHNP 2011, otorgada en 2008 (Iguazú, Brasil). Son tantas las cualidades de este Gran Maestro de la Gastroenterología, Hepatología y Nutrición Pediátrica, reconocidas por la mayoría de la membresìa de la SLAGHNP consultadas al respecto, que le hacen merecedor de que se le distinga, dedicándole los Congresos SLAGHNP –RD 2011, en calidad de PRESIDENTE DE HONOR . Enarbolamos su nombre con orgullo como un verdadero ícono internacional de la Gastroenterología, Hepatología y Nutrición Pediátrica. Esta distinción fue evaluada y aprobada por el Comité Ejecutivo Nacional de los Congresos SLAGHNP- Sto. Dgo 2011, como un gesto de reverencia a la valía personal y profesional de uno de los líderes entre nuestros profesionales emprendedores y para que sirva de ejemplo y estímulo para continuar en el futuro reconociendo a los nuestros colegas meritorios.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

O teste do Hidrogênio no ar expirado: sua consolidação como método eficiente, não invasivo, de avaliação da função digestivo-absortiva

Introdução

No passado, acreditava-se que o pulmão fosse um órgão apenas responsável pela respiração e, portanto, tinha-se o conceito de que somente Oxigênio (O2) e Dióxido de Carbono (CO2) pudessem ser dosados no ar expirado. Atualmente, porém, sabe-se que o ar expirado dos pulmões contém mais de 2000 substâncias distintas, e que, além da respiração, os pulmões apresentam uma função adicional, qual seja a excreção de substâncias voláteis, o que tornou os pulmões reconhecidamente como “órgãos excretores” de gases que se encontram dissolvidos no sangue. Uma destas inúmeras substâncias voláteis excretadas pelos pulmões é o Hidrogênio (H2), o qual pode ser facilmente medido com a utilização de um equipamento manual de teste respiratório (Figura 1).


Figura 1- Referência Ledochowiski M. Journal of Breath Research 2: 1-9, 2008.

O ser humano sadio em jejum e em repouso não elimina H2 porque o seu metabolismo não produz este gás, o qual somente é gerado durante o metabolismo anaeróbio. Considerando que o organismo humano em repouso não possui metabolismo anaeróbio, o H2 produzido e excretado pelos pulmões deve ter origem nas bactérias anaeróbias e, como se sabe, o trato digestivo alberga um número elevado de bactérias, que são predominantemente anaeróbias e que produzem grandes quantidades de H2. De fato, a concentração de bactérias, em especial as anaeróbias, alcança no íleo terminal e no intestino grosso valores de até 1015 colônias/ml. Por outro lado, no duodeno e nas porções superiores do jejuno, praticamente não ocorre colonização por bactérias anaeróbias, encontrando-se apenas bactérias aeróbias, consideradas residentes das vias aéreas superiores e resistentes à barreira bactericida ácida gástrica, na concentração de até 104 colônias/ml. Portanto, pode-se assumir, com boa margem de segurança, que o H2 expirado pelos pulmões dos seres humanos em repouso é produzido, quase que exclusivamente, pelo metabolismo bacteriano dos anaeróbios que colonizam o íleo e o intestino grosso. Desta forma, pode-se afirmar que, em condições normais, o H2 mensurado no ar expirado diz respeito à quantidade da atividade metabólica das bactérias anaeróbias presentes no trato digestivo, em particular, no íleo e no intestino grosso. Entretanto, em situações patológicas, como por exemplo, na síndrome do “Sobrecrescimento Bacteriano no Intestino Delgado”, a concentração de bactérias anaeróbias torna-se predominante no intestino delgado e pode alcançar valores superiores a 104 colônias/ml. As bactérias anaeróbias têm preferência para metabolizar os carboidratos, os quais, como parte da reação de fermentação, são “quebrados” dando a formação de ácidos graxos de cadeia pequena, CO2 e H2 (Figura 2).

Figura 2- Referência Eisenmann & cols. Journal of Breath Research 2: 1-9, 2008.

Uma grande parte do CO2 permanece na luz do intestino e é responsável pela sensação de flatulência, enquanto que os ácidos graxos de cadeia pequena exercem efeito osmótico atraindo água para o interior do lúmen intestinal, causando diarréia. O H2 produzido no intestino atravessa a parede intestinal, cai na circulação sanguínea, é transportado até os pulmões e, finalmente, é eliminado pela respiração como parte do ar expirado. A concentração de H2 expirada pode, portanto, ser facilmente mensurada em partes por milhão (ppm) por técnica não invasiva, por um equipamento de uso manual. A concentração do H2 mensurado na expiração é sempre um reflexo da massa de bactérias e da atividade metabólica bacteriana no trato digestivo. O momento no qual a concentração de H2 no ar expirado se eleva durante a realização do teste respiratório fornece uma indicação em qual região do intestino se deu a fermentação.


Normas para a realização do teste do H2 no ar expirado


Cada teste deve sempre se iniciar obtendo-se a amostra de jejum para a mensuração do H2 no ar expirado. Vale ressaltar que o paciente deve estar em jejum pelo período de ao menos 4 horas (porém 8 horas é o ideal). Após a mensuração do valor basal de jejum, o qual deve na imensa maioria dos casos ser inferior a 5 partes por milhão (ppm) (não deve ser superior a 10 ppm), o teste respiratório pode começar. O paciente deve ingerir o conteúdo de uma solução aquosa diluída a 10% do carboidrato que se deseja testar a tolerância e/ou absorção à dose de 2 gramas/kg de peso para os dissacarídeos (Lactose, Maltose e Sacarose) e à dose de 1 grama/kg de peso para os monossacarídeos (Glicose, Frutose e Galactose). A dose máxima para quaisquer dos carboidratos a serem testados não deve ultrapassar 25 gramas. Após a obtenção da amostra de jejum e da ingestão da solução aquosa, contendo o carboidrato a ser testado, amostras de ar expirado devem ser obtidas aos 15, 30, 60, 90 e 120 minutos. Caso o teste seja realizado com Lactulose (a dose é fixa de 20 gramas diluídas a 10% em água), para pesquisa de “Sobrecrescimento Bacteriano no Intestino Delgado”, deve-se acrescentar uma coleta de amostra do ar expirado aos 45 minutos após a amostra de jejum. Vale salientar que a Lactulose é um dissacarídeo sintético (Frutose-Galactose) não absorvível que exerce efeito osmótico e que, portanto, pode provocar sintomas após sua ingestão, tais como, flatulência, cólicas e diarréia, os quais costumam desaparecer pouco tempo depois do término do teste.


Interpretação do Teste do H2 no ar expirado


A interpretação do resultado do teste do H2 no ar expirado baseia-se em 2 fatores cruciais, a saber: 1- a concentração em ppm do Hidrogênio expirado e 2- o aparecimento de sintomas após a realização do teste de sobrecarga.


1- Teste Normal No caso de haver suficiência digestivo-absortiva, não deverá ocorrer aumento significativo da concentração de H2 no ar expirado (elevação inferior a 10 ppm sobre o nível de jejum) e nem tampouco referência a manifestações clínicas. Desta forma o teste deve ser considerado Normal (Figura 3).

Figura 3- Referência Eisenmann A. & cols. Journal of Breath Research 2: 1-9, 2008.

Caso surjam sintomas clínicos e a concentração de H2 no ar expirado for inferior a 20 ppm, trata-se de um não produtor de H2, o que pode ocorrer em até 5% dos indivíduos testados. Nesta circunstância, para se estabelecer um diagnóstico de segurança deve ser realizado o teste com Lactulose, posto que este dissacarídeo é sempre fermentado, e, se ainda assim não houver elevação da concentração de H2 no ar expirado pode-se assumir com segurança tratar-se de um não produtor de H2.

2- Teste Anormal Uma elevação da concentração de H2 acima de 20 ppm sobre o nível de jejum a partir dos 60 minutos depois da ingestão do carboidrato é considerado um teste anormal (Figura 4) caracterizado como “má absorção” e, caso concomitantemente surjam sintomas, deve-se agregar o diagnóstico de “intolerância”.

Figura 4- Referência Eisenmann A. & cols. Journal of Breath Research 2: 1-9, 2008.

Por outro lado, caso ocorra um aumento significativo do H2 no ar expirado a partir dos 60 minutos, mas não surjam sintomas deve-se, nesta circunstância, utilizar a denominação “má absorção” para o teste bioquímico, mas do ponto de vista clínico não ocorreu “intolerância” (Figura 5).
Figura 5- Eisenmann A. & cols. Journal of Breath Research 2: 1-9, 2008.

Usualmente deve ser possível alcançar o pico máximo do aumento do H2 no ar expirado aos 60 minutos, ou ainda melhor, aos 90 minutos, porque pode tardar esse tempo para que o carboidrato não absorvido alcance o intestino grosso. Caso o valor do H2 no ar expirado seja superior a 10 ppm e inferior a 20 ppm, o teste deve ser considerado como limítrofe anormal. Além disso, outro fator também deve ser levado em consideração, pois se houver uma elevação da concentração de H2 acima de 10 ppm sobre o nível de jejum dentro dos primeiros 30 minutos do teste, este valor é indicativo de “Sobrecrescimento Bacteriano no Intestino Delgado”. Essencialmente há 2 possibilidades para a ocorrência deste perfil particular do H2 no ar expirado, a saber:


1- a curva mostra um perfil de 2 picos de elevação do H2 no ar expirado, ou seja, 1 deles nos primeiros 30 minutos do teste seguido de uma diminuição na concentração do H2, o qual é seguido por nova elevação após os 60 minutos. Este comportamento do teste indica que há um “Sobrecrescimento Bacteriano no Intestino Delgado” associado a preservação da válvula íleo-cecal e também que as bactérias presentes nas porções altas do intestino delgado foram capazes de metabolizar a substância testada. O segundo pico demonstra que a maior porção da substância testada não foi absorvida e que, portanto, foi fermentada no intestino grosso (má absorção) (Figura 6).

Figura 6- Referência Eisenmann A. & cols. Journal of Breath Research 2:1-9,2008.

Caso o paciente, durante a realização do teste, decorridos menos de 60 minutos após a ingestão da substância testada, vier a apresentar sintomas e que estes rapidamente venham a desaparecer, isto indica que as queixas se devem mais provavelmente ao “Sobrecrescimento Bacteriano no Intestino Delgado” do que à má absorção da substância testada.


2- a curva mostra um pico precoce, antes dos 60 minutos após a ingestão da substância testada, o qual se mantem pelo menos em 20 ppm acima do valor basal, sem apresentar uma queda no valor do H2 no ar expirado, até os 90 minutos. Esta curva apresenta um “quase” perfil de 2 picos, sem que ocorra o “vale” entre o primeiro e segundo picos (Figura 7).

Figura 7- Referência Eisenmann A. & cols. Journal of Breath Research 2:1-9, 2008

Neste caso deve-se interpretar que houve um refluxo do fluido do intestino grosso para o íleo em virtude de uma hipotonia da válvula íleo-cecal.


Tipos de testes do H2 no ar expirado


Na verdade, qualquer carboidrato, tais como os monossacarídeos (Glicose, Frutose e Galactose), dissacarídeos (Sacarose, Maltose e Lactose) e mesmo polissacarídeos, álcool-açúcares, e o dissacarídeo sintético Lactulose, não absorvível (Galactose-Frutose). Os tipos de teste do H2 no ar expirado mais indicados estão representados na Tabela 1.

Tabela 1- Principais tipos de testes do H2 no ar expirado para avaliar a função digestivo-absortiva
 1- Lactose; 2- Glicose; 3- Frutose; 4- Lactulose


As principais indicações do teste do H2 no ar expirado estão apontadas na Tabela 2.



Tabela 2- Principais indicações para a realização do teste do H2 no ar expirado


1- Síndrome de Má absorção; 2- Síndrome do Intestino Irritável; 3- Intolerância à Frutose (dôces, frutas e Mel); 3- Investigação de meteorismo e Flatulência; 4- Monitoração da Doença Celíaca; 5- Doença Inflamatória Intestinal; 6- Deficiência Primária ou secundária de Lactase; 7- Intolerância à Lactose ; 8- Diarréia Crônica

Teste de sobrecarga com Lactulose

Como anteriormente referido, a Lactulose é um dissacarídeo sintético composto por Galactose-Frutose, portanto não absorvível, visto que o intestino humano não possui nenhuma dissacaridase capaz de hidrolisar este carboidrato, e, como conseqüência, a Lactulose é sempre fermentada. Neste caso deve-se utilizar 20 gramas do carboidrato diluído em solução aquosa a 10%. As indicações para a realização do teste com Lactulose estão discriminadas na Tabela 3.


Tabela 3- Principais indicações para a realização do teste do H2 no ar expirado com Lactulose

1- Determinação do tempo de trânsito oro-cecal; 2- Constipação; 3- Síndrome do Sobrecrescimento Bacteriano no Intestino Delgado


Todos estes testes, individualmente ou em conjunto, para se avaliar o perfil da função digestivo-absortiva ou o tempo de trânsito oro-cecal estão disponíveis para atendimento aos pacientes no Instituto de Gastroenterologia Pediátrica de São Paulo – IGASTROPED tel.: 11 9.8842.7324 (Contato Tatianne Rocha)


No nosso próximo encontro continuarei a apresentar algum tema de importância da nossa especialidade.