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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

Doença Celíaca: Um artigo sobre a posição da ESPGHAN no manejo e evolução clínica das crianças e adolescentes (Parte 2)


Prof. Dr. Ulysses Fagundes Neto

O artigo intitulado “ESPGHAN position paper on management and follow-up of children and adolescents with celiac disease”, que foi publicado no Journal of Pediatric Gastroenterology and Nutrition, em setembro de 2022, foi realizado por um grupo de 34 experts pertencentes à  ESPGHAN Special Interest Group on Celiac Disease encabeçado por ML Mearin do Willen Alexander Children´s Hospital, Leiden University Medical Centre, Leiden, the Netherlands, teve por objetivo reunir as evidências atuais e oferecer recomendações consensuais a respeito do manejo e da evolução clínica da Doença Celíaca (DC). Este grupo formulou 10 perguntas consideradas de essencial importância para os cuidados dos pacientes portadores da DC a longo prazo. Foi realizada uma pesquisa na literatura médica de janeiro de 2010 a março de 2020, na PubMed e na Medline. As publicações mais relevantes foram identificadas e os trabalhos potencialmente elegíveis foram avaliados. As afirmações e as recomendações foram detalhadas e discutidas pelos coautores. As recomendações foram, em seguida, submetidas a votação. Foi considerada concordância geral quando o nível de aceitação atingiu pelo menos 85% dos autores.

Considerando a longa extensão deste trabalho de 74 páginas decidi, neste segundo resumo, selecionar a pergunta de número 3, pois foi aquela que me pareceu de maior interesse geral para os profissionais da Saúde.

3 – Qual deve ser a frequência do seguimento dos pacientes e o que deve ser avaliado?

A literatura atual não fornece evidências sólidas a respeito da frequência ótima de seguimento dos pacientes. A despeito da falta de estudos de relevante qualidade, recomenda-se que a primeira visita de seguimento deva ser agendada entre 3 e 6 meses após o diagnóstico da DC. Entretanto, caso haja fácil acesso ao serviço médico, na medida da necessidade, o agendamento mais precoce pode também ser realizado, principalmente no que diz respeito a fornecer à família maiores conhecimentos sobre a DC, preocupações e dificuldades com a implantação da dieta isenta de glúten, e, mais importante ainda, caso os sintomas persistam ou se agravem, a despeito da suposta aderência restrita à dieta isenta de glúten, ou se as manifestações clínicas (por exemplo desnutrição) ou anormalidades laboratoriais, no momento do diagnóstico, requeiram seguimento precoce. Visitas de seguimento posteriores podem ser agendadas com intervalo de 6 a 12 meses.

Pacientes pediátricos que sem mantém em restrita dieta isenta de glúten, usualmente demonstram rápida resolução dos sintomas gastrointestinais relacionados a DC, tais como: flatulência, diarreia, dor abdominal, perda de peso, assim como em relação às manifestações extra intestinais, tais como, anemia, retardo da puberdade, estomatite. Seguimentos clínicos inconsistentes ou mesmo ausentes estão associados com pobre aderência dietética.

A normalização da sorologia é amplamente utilizada durante o seguimento, como um sinal indireto da recuperação da mucosa intestinal, sendo considerada como valor preditivo altamente positivo e/ou negativo. A redução significativa dos níveis do anticorpo anti-transglutaminase (ATG-IgA) é alcançada após cerca de 3 meses do início da dieta isenta de glúten, quando avaliada utilizando-se o mesmo ensaio laboratorial. Alguns estudos comprovaram que os níveis do ATG-IgA permaneceram 1x acima do nível superior da normalidade em 83,8%, e, acima de 10x em 26,6% das crianças avaliadas após 3 meses do início da dieta isenta de glúten. A total normalização de ambos os níveis de ATG-IgA e a recuperação da lesão histopatológica podem levar mais de 2 anos, particularmente nos casos de lesões graves do intestino delgado, com elevados níveis de ATG-IgA no momento do diagnóstico.

A saúde óssea pode estar comprometida nos pacientes com DC, e, nas crianças a doença óssea na maioria das vezes é assintomática e está associada com uma diminuição do ritmo de crescimento e da qualidade óssea. Diferentemente do que é observado em adultos, a DC em crianças não parece estar associada com aumento do risco de fraturas. Uma redução da densidade mineral óssea pode estar presente no momento do diagnóstico da DC em crianças e adolescentes. Ainda que um seguimento de longa duração possa ser necessário para assegurar a recuperação apropriada da densidade mineral óssea na maioria dos casos, um ano após o uso da dieta isenta de glúten restrita é suficiente para a restauração da massa óssea. Portanto, testes rotineiros da densidade mineral óssea não são necessários. Quando houver perda óssea identificada, testes da densidade óssea seriados devem ser realizados a cada 1 ou 2 anos, até sua normalização.          

Nos casos pouco frequentes de deficiência de vitamina D, no momento do diagnóstico da DC, sua correção deve ser proposta para otimizar a saúde óssea. O fígado é um local comum de manifestações extra intestinais da DC, usualmente apresentando níveis elevados das aminotransferases. A função hepática de ser monitorada durante o seguimento, caso estas enzimas estejam alteradas ao diagnóstico. Considerando-se que as crianças com DC podem apresentar deficiências de micronutrientes, investigações dos níveis de ferro, folato e vitamina B12 são relevantes no momento do diagnóstico, e, caso mostrem-se anormais, estes micronutrientes devem ser monitorados até a normalização, seja apenas utilizando-se a dieta isenta de glúten ou a respectiva suplementação nos casos de anemia e da diminuição dos depósitos de ferro.

O risco de doença autoimune da tireoide encontra-se aumentado nos pacientes com DC, porém, com base nos conhecimentos atuais não há evidências para o aconselhamento de monitorar os níveis de tiroxina e TSH durante o processo de acompanhamento dos pacientes.

Referências Bibliográficas  

1-   Mearin ML et al – JPGN  2022; 75:369-386

2-   Snyder J et al – Pediatrics 2016; 138:e20153147

3-   Deora V et al – JPGN 2017; 65:185-9

4-   Ludvigsson JF et al – Gut 2017; 67:1410-24

 

Meus Comentários

A análise detalhada deste excelente artigo deixa explicitamente estabelecida a fundamental importância de se estabelecer um seguimento clínico rigoroso para garantir o controle da DC visto que até o presente momento não há, no horizonte de médio prazo, a possibilidade de se propor a cura definitiva desta enfermidade. Todos sabemos das enormes dificuldades que se apresentam para se conseguir uma adesão restrita à dieta isenta de glúten nos pacientes pediátricos de forma permanente, posto que, inúmeros fatores, sejam eles biopsicossociais ou mesmo de outras índoles, atuam de forma ativa para contrariar o objetivo final. Por esta razão, é necessário que os pacientes e seus familiares recebam uma atenção constante por parte dos profissionais da saúde envolvidos no tratamento dos pacientes, acompanhando o ritmo de crescimento e/ou outras possíveis manifestações clínicas suspeitas de transgressões alimentares, as quais podem ser voluntárias e/ou involuntárias. Neste sentido, o controle laboratorial periódico por meio da determinação do anticorpo anti-transglutaminase se constitui em um excelente marcador do sucesso do tratamento.      

terça-feira, 26 de julho de 2022

Doença Celíaca: Um artigo sobre a posição da ESPGHAN no manejo e seguimento das crianças e adolescentes

Prof. Dr. Ulysses Fagundes Neto

O artigo intitulado “ESPGHAN position paper on management and follow-up of children and adolescents with celiac disease”, que será publicado no Journal of Pediatric Gastroenterology and Nutrition, ainda em 2022, foi realizado por um grupo de 34 experts pertencentes à  ESPGHAN Special Interest Group on Celiac Disease encabeçado por ML Mearin do Willen Alexander Children´s Hospital, Leiden University Medical Centre, Leiden, the Netherlands, teve por objetivo reunir as evidências atuais e oferecer recomendações consensuais a respeito do manejo e do seguimento da Doença Celíaca (DC). Este grupo formulou 10 perguntas consideradas de essencial importância para os cuidados dos pacientes portadores da DC a longo prazo. Foi realizada uma pesquisa na literatura médica de janeiro de 2010 a março de 2020, na Pubmed e na Medline. As publicações mais relevantes foram identificadas e os trabalhos potencialmente elegíveis foram avaliados. As afirmações e as recomendações foram detalhadas e discutidas pelos coautores. As recomendações foram, em seguida, submetidas a votação. Foi considerada concordância geral quando o nível de aceitação atingiu pelo menos 85% dos autores.

 

Considerando a longa extensão deste trabalho de 74 páginas decidi, neste primeiro resumo, selecionar a pergunta de número 8, pois foi aquela que me pareceu de maior interesse geral para os profissionais da Saúde.

8- Nos casos de incerteza diagnóstica quando e como realizar a provocação com glúten?

Naquelas situações em que a dieta de exclusão de glúten foi iniciada antes de se completar a investigação diagnóstica definitiva, a reintrodução do glúten na dieta, ou seja, a chamada provocação com glúten, é atualmente o único método disponível para assegurar o diagnóstico.

Considerando-se o elevado valor preditivo negativo do complexo genético HLA-DQ2 e DQ8, sua determinação é o método mais confiável para selecionar aquelas crianças nas quais o diagnóstico de DC é extremamente improvável. Entretanto, naquelas crianças que apresentam HLA-DQ2 e/ou DQ8 positivos a incerteza diagnóstica pode ser esclarecida após a reintrodução do glúten na dieta, seguida do monitoramento dos sintomas, dosagem do anticorpo antitransglutaminase e, se for necessário, realizar biópsia duodenal.

No que concerne ao teste de provocação com glúten, tanto em relação ao tempo quanto à quantidade a ESPGHAN não tem um consenso definido. Entretanto, considera-se que uma fatia de pão contém entre 3 e 5 gramas de glúten e a ingestão diária a ser consumida deve ser estimada entre 10-20 gramas em adultos e cerca de 5 a 15 gramas nas crianças, durante 3 meses, quando a avaliação sorológica deve ser realizada. Estudos realizados com crianças têm revelado que a ingestão entre 5 e 10 gramas por dia de glúten, as recidivas sorológicas ocorreram em 66% após 3 meses e em 89,9% após 6 meses. A duração da provocação para acarretar recidiva da lesão histológica foi de aproximadamente 6 meses. Um estudo relatou que 71% dentre 41 crianças portadoras de DC, sintomas gastrointestinais surgiram após provocação com glúten com a ingestão de 1 a 3 fatias de pão durante 3 dias consecutivos.

Considerando-se que a DC provoca má absorção dos nutrientes e para da do crescimento, a provocação com glúten deve ser evitada nos pré-escolares e adolescentes.

Naqueles casos em que não ocorram sintomas e/ou que o anticorpo antitransglutaminase mantenha-se dentro da normalidade após 1 ano de provocação formal com glúten, deve-se permitir que a criança tenha a dieta liberada para ingerir glúten e as consultas devem ser realizadas anualmente, acompanhadas da realização do teste sorológico específico. Avaliação precoce é recomendada no caso do surgimento de sintomas sugestivos de DC.

Votação: 93% de acordo com as afirmações.

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

Doença Celíaca: apresentação clínica nas crianças da Europa Central

 

Prof. Dr. Ulysses Fagundes Neto

A renomada revista JPGN de abril de 2021, publicou um importante artigo de autoria de Riznik P. e cols., intitulado “Clinical Presentation in Children with Coeliac Disease in Central Europe” que a seguir passo a abordar em seus aspectos de maior relevância.

Introdução

A Doença Celíaca (DC) trata-se de uma enfermidade autoimune sistêmica e permanente, provocada pelo glúten e suas prolaminas nos indivíduos geneticamente suscetíveis, e é uma das enfermidades crônicas mais frequentes, afetando cerca de 1% da população. A DC pode se apresentar das formas mais variadas, envolvendo o trato digestivo, com sintomas extra intestinais e mesmo de forma assintomática. Em virtude do seu componente genético a DC é mais comum entre membros familiares de indivíduos afetados, e está associada com várias outras condições clínicas, incluindo diabete melito tipo I, deficiência de IgA, tireoidite autoimune e mesmo algumas anomalias cromossômicas, tais como as síndromes de Down, Turner ou Willians.

Os sintomas da DC podem ser atribuídos a uma combinação de inflamação, deficiência nutricional causada por má absorção e resposta autoimune à enzima transglutaminase tecidual. No passado, a DC foi reconhecida como uma enfermidade da infância, com apresentação clínica característica de diarreia com síndrome de má absorção. Atualmente, sabe-se que a DC é uma enfermidade sistêmica que pode ocorrer em qualquer idade e não está limitada ao trato digestivo. Manifestações extra intestinais desta enfermidade podem afetar quase todos os órgãos, incluindo o sistema nervoso, fígado, pele, sistema reprodutor, sistema cardiovascular e sistema músculo esquelético, e estão frequentemente associadas com quadro clínico e histológico mais graves. Vale enfatizar, que algumas destas manifestações podem surgir frequentemente na infância, enquanto outras podem aparecer na vida adulta ou em idades avançadas.

Inúmeros estudos têm demostrado uma mudança gradual das manifestações clínicas da DC, variando desde os historicamente clássicos sintomas de má absorção, para nos tempos atuais, apresentar as manifestações não clássicas, oligo sintomáticas ou mesmo as formas assintomáticas.

O objetivo do presente estudo foi avaliar apresentação clínica da DC em crianças e adolescentes da Europa Central (Mapa).

 


Métodos

O presente estudo foi conduzido envolvendo 12 parceiros de 5 países da Europa Central, a saber: Croácia, Alemanha, Hungria, Itália e Eslovênia os quais participaram do projeto. Para a obtenção dos dados dos pacientes foi elaborado um questionário específico que incluiu perguntas a respeito das manifestações clínicas da DC. Os Gastroenterologistas Pediátricos destes países foram estimulados para o preenchimento dos questionários a respeitos dos dados clínicos de seus pacientes.

Foram estudados de forma diferenciada os dados clínicos entre os pacientes menores de 3 anos, pré-escolares (3-6 anos) e escolares (6-18 anos). Também foi avaliada a correlação do retardo diagnóstico com a apresentação clínica e sua respectiva abordagem diagnóstica. Diferenças regionais relativas aos parâmetros estudados foram analisadas.   

Resultados

Foram obtidos dados de 653 crianças e adolescentes (mediana 7,2 anos; 134 crianças); 20,5% eram assintomáticas no momento da confirmação do diagnóstico (mediana 7,5 anos); as outras crianças foram diagnosticadas com DC em virtude dos seus sinais e sintomas (mediana 7,2 anos; 64,7% meninas). Não houve diferença significativa na idade, no momento do diagnóstico entre as crianças sintomáticas e as assintomáticas.

A existência de DC em outros membros da família foi observada em 24% das crianças (Tabela 1). A ocorrência de DC em parentes de primeiro grau mostrou-se significantemente maior no grupo de crianças assintomáticas (50% versus 12,5%; p<0,0001). As mães foram os membros familiares mais frequentemente afetados (41,7%).  



Um pouco mais de um quarto de todas as crianças e adolescentes (177; 27,1%) pertenciam ao grupo de alto risco para a ocorrência de DC devido à história familiar positiva, outras comorbidades autoimunes ou mesmo outras condições clínicas. Não houve diferença significante entre os sexos dos pacientes com DC pertencentes (n = 177; 60,4% meninas) e não pertencentes (n= 476; 65,1% meninas) a quaisquer grupos de alto risco (p= 0.155).

O principal sintoma mais comum nas crianças sintomáticas (n=519) foi dor abdominal (33,3%), o segundo sintoma mais frequente foi retardo do crescimento (13,7%), seguido por diarreia (13,3%) e deficiência de ferro (10,2%) (Figura 1). Dentre todos os sintomas referidos, dor abdominal foi novamente o sintoma mais comum (41,2%), seguida de distensão abdominal (25,7%) e diarreia (24,3%).


A maioria das crianças sintomáticas (47,6%; n=247) era poli sintomática, referindo 3 ou mais sintomas, seguido pelas crianças mono sintomáticas (28,5%; n=148). Dentre as crianças mono sintomáticas, os sintomas mais frequentes foram dor abdominal (29,7%), seguida por retardo do crescimento e deficiência de ferro (16,9% e 14,2%, respectivamente. Dentre as crianças poli sintomáticas, a dor abdominal foi o sintoma mais comum (66,4%), seguida por distensão abdominal e diarreia (56,7% e 54,2%, respectivamente).

Também foi realizada a comparação das apresentações clínicas entre as crianças muito jovens, pré-escolares e escolares. Dor abdominal foi a manifestação clínica mais frequente em ambos os grupos etários, pré-escolares (21,3%) e escolares (31,7%). No grupo das crianças muito jovens, diarreia foi o sintoma mais frequente (23%), seguida de retardo do crescimento (16,2%) e distensão abdominal (14,09%). Entre as crianças pré-escolares, os segundos sintomas mais frequentes foram deficiência de ferro e retardo do crescimento (ambos 11,08%), e nas crianças escolares o segundo sintoma mais frequente foi o retardo do crescimento (9,5%) seguido de diarreia (8,03%).  Entre as crianças muito jovens, (6,08%) eram assintomáticas, nas pré-escolares (18,09%) e nas escolares (23,7%) (p <0,05).  Com relação aos sintomas entre as crianças muito jovens, pré-escolares e escolares, foi observada uma diferença estatisticamente significante para dor abdominal (p <0,01), diarreia e distensão abdominal (ambos p <0,05). No que diz respeito à totalidade dos sintomas, má absorção foi significantemente mais frequente nas crianças muito jovens em comparação com as outras (p < 0,001); por outro lado, dor abdominal mostrou-se mais frequente nos pré-escolares e adolescentes (p <0.01). Vale assinalar que DC assintomática foi mais frequente entre as crianças maiores (p <0,05) (Tabela 3). 



Discussão

A idade das crianças por ocasião do diagnóstico foi 7 anos, e revelou-se ser superior a aquela observada em décadas passadas. A maioria das crianças era do sexo feminino, o que tem sido descrito em investigações prévias. Está bem estabelecido que a DC é mais prevalente entre os parentes de primeiro grau de pacientes com DC, ocorrendo em até 10% ou mesmo acima deste valor. Entretanto, no presente estudo, a ocorrência entre os membros familiares aconteceu próximo a 25% deles.

O sintoma mais frequentemente detectado neste estudo foi dor abdominal, seguido de retardo do crescimento, diarreia e deficiência de ferro. Dor abdominal mostrou-se mais frequente nas crianças pré-escolares e escolares; por outro lado, nas crianças mais jovens, diarreia foi detectada mais comumente do que nas crianças maiores. A clássica tríade de sintomas da DC (diarreia crônica, retardo do crescimento e distensão abdominal) foi observada principalmente nas crianças mais jovens, e com o aumento da idade, os sintomas atípicos tornaram-se mais frequentes.

Vale ressaltar que, a DC assintomática tem se tornado cada vez mais prevalente, e, estudos de rastreamento investigando adolescentes aparentemente sadios, a DC tem sido detectada em cerca de 1% das crianças assintomáticas, que não apresentam história familiar de DC. No presente estudo, 1/5 das crianças investigadas relataram ausência de sintomas e na verdade foram majoritariamente diagnosticadas por meio de rastreamento laboratorial por pertencerem a populações de grupo de risco.

Meus Comentários   

Há 50 anos, quando iniciei meu treinamento em serviço no programa de Residência Médica em Pediatria no Hospital São Paulo da Escola Paulista de Medicina, nosso problema mais crucial de saúde pública na infância respondia pelo binômio diarreia-desnutrição, responsável pela maior causa de mortalidade em crianças menores de 5 anos de idade. Naquela ocasião, DC não fazia parte sequer do diagnóstico diferencial daquele problema médico, tudo era diretamente atribuído a causas das iniquidades sociais vivenciadas por parcelas significativas da nossa população, sendo verminoses e gastrenterite infecciosa supostamente os grandes causadores do supracitado binômio. Entretanto, quando em 1973 fui fazer minha especialização em Gastropediatria no serviço do Dr. Horácio Toccalino, pioneiro da Gastropediatria na América Latina, no Policlínico Alejandro Posadas, em Buenos Aires, tive para minha surpresa logo de início das minhas atividades clínicas, o meu primeiro contato com a DC. Tratava-se de uma criança profundamente desnutrida, com as mesmas características daquelas crianças desnutridas que eu havia tão frequentemente vivenciado em São Paulo, durante os 2 anos prévios (Figuras 2-3).

 



Figuras 2-3- As primeiras pacientes portadores de DC por mim vivenciadas no Policlínico Alejandro Posadas, no momento do diagnóstico e após alguns meses de dieta isenta de glúten, evidenciando total recuperação clínica e nutricional.

Ao me deparar com a figura daquela criança, a partir de então passei a ter a mais absoluta certeza de que a DC também existia entre nós. De fato, logo após meu regresso tive a oportunidade de comprovar de forma documentada com a biópsia do intestino delgado o primeiro caso da enfermidade no Brasil (Figuras 4-5).



Figuras 4-5- O nosso primeiro paciente diagnosticado como DC no momento do diagnóstico e alguns meses após a introdução da dieta isenta de glúten evidenciando total recuperação clínica e nutricional.

Após esta primeira descrição muitos outros casos, até então rotulados como pacientes portadores de desnutrição devido a verminose ou mesmo desnutrição por problemas de natureza socioeconômica, vieram a ser devidamente diagnosticados como DC. Ainda assim, continuava-se a considerar a DC como uma enfermidade rara mesmo nas classes sociais mais abastadas (Figuras 6-7).




Figuras 6-7- Paciente da minha clínica privada no momento do diagnóstico e após a recuperação clínica e nutricional, evidenciando o aspecto da retomada da alegria de viver que havia sido perdida, fato muito comum nos pacientes portadores de DC.

Por outro lado, embora a biópsia do intestino delgado ainda seja considerada absolutamente necessária para a confirmação diagnóstica da DC, a introdução dos testes sorológicos de rastreamento, a partir da década de 1980, em especial o Anticorpo Antitransglutaminase, trouxe uma enorme contribuição para identificar quais indivíduos devem ser submetidos ao procedimento da biópsia duodenal. Além disso, é fundamental enfatizar que estes testes passaram a ser utilizados para o rastreamento populacional, o que veio a permitir desvendar o que se convencionou denominar a parte submersa do “iceberg” da DC. Esta nova ferramenta laboratorial possibilitou estabelecer as taxas de prevalência da DC nas mais diversas comunidades, e, mais ainda, permitiu o conhecimento das formas atípicas e mesmo as assintomáticas da DC.            

Uma comprovação insofismável de que a DC não é rara no Brasil foi estabelecida pela tese de Mestrado do Biomédico Ricardo Palmero, que sob minha orientação, em 2007, incluiu 3000 indivíduos candidatos voluntários a doadores de sangue. Neste estudo realizou uma investigação com o objetivo de determinar a prevalência da DC na cidade de São Paulo com o emprego do Anticorpo Antitransglutaminase e com subsequente  confirmação diagnóstica pela biópsia duodenal, e que resultou positiva em 1,5% (45/3000) dos investigados (“High prevalence of celiac disease in Brazilian blood donors volunteers based on screening by IgA antitissue transglutaminase antibody” Palmero R., Fagundes-Neto, U et al. - European Journal of Gastroenterology and Hepatology 19: 43-9, 2007). Isto posto, ficou de forma cabalmente demonstrada que a DC não é uma enfermidade rara em nosso meio, muito ao contrário, e cuja prevalência é similar à de outros países do mundo ocidental.

Referências Bibliográficas

1-   Riznik P e cols.- JPGN 2021; 72:546-51.

2-   Husby S e cols. J Pediatr Gastroenterol Nutr 2020; 70:141-56.

3-   Lebwohl B e cols. Lancet 2018; 391:70-81. 

4-   Kurppa K e cols. Lancet 2018; 2:133-43.

terça-feira, 23 de junho de 2020

Doença Celíaca: diretrizes diagnósticas da ESPGHAN 2020 (Parte 2)

Prof. Dr. Ulysses Fagundes Neto



Conclusões
As atuais orientações diagnósticas levam em consideração novas evidências, a maioria delas advindas de inúmeros estudos, inspiradas pela publicação de normas prévias. Nem todas os postulados das diretrizes de 2012 foram baseados em um grau similar de evidência. A maioria dos estudos informativos conduzidos em anos recentes, têm confirmado a substancial correção das guias de conduta de 2012, porém, ao mesmo tempo indicam que é necessário considerar que o processo está sempre em evolução e, ainda assim, distante de ser concluído.  

Meus Comentários
A Doença Celíaca (DC) é uma enfermidade autoimune caracterizada pela intolerância permanente ao glúten da dieta contido no trigo, cevada e centeio. A DC apresenta uma característica extremamente peculiar em relação às outras enfermidades autoimunes, porque para que ela ocorra é necessário que exista a contribuição de um fator ambiental-alimentar, claramente identificável (o glúten), associado à presença, no paciente, de um Antígeno de Histocompatibilidade (HLA – human leukocytes antigen) dominante, DQ2 ou DQ8.

A DC é, portanto, o resultado da interação entre o glúten e fatores imunológicos, genéticos e ambientais. A gliadina, a fração solúvel em álcool do glúten, é uma proteína rica em aminoácidos de glutamina e prolina, e que é pobremente degradada pelas enzimas digestivas. As moléculas não digeridas da gliadina atravessam a barreira de permeabilidade intestinal, provavelmente durante um processo infeccioso ou quando há um aumento da permeabilidade por qualquer outra razão, e interage com as células apresentadoras de antígeno da lâmina própria da mucosa intestinal.

É fato reconhecido pelos historiadores que há cerca de 10.000 anos não havia grãos contendo glúten na natureza, e, portanto, presumivelmente, também não existia a DC. Com o advento da agricultura, o trigo e outros grãos contendo glúten passaram a ser cultivados extensivamente, o que veio a fornecer um dos dois elementos chave, o outro é a predisposição genética, para a ocorrência da DC (Figura 1).



Entretanto, foi somente no século I da era cristã que Areteus da Capodócia relatou de forma científica a primeira descrição da DC. Ele descreveu as fezes características, o caráter crônico da enfermidade, a maior incidência na mulher e a possibilidade de crianças serem afetadas. Nos tempos mais recentes, no entanto, deveu-se a Samuel Gee, em 1888, na Inglaterra, a descrição em seu livro “On the celiac afection”, (a palavra Celíaco tem origem no grego e quer dizer “ventre abaulado”) muitas das características clássicas pelas quais ainda atualmente a DC se apresenta, a saber: ”indigestão crônica encontrada em pessoas de todas as idades, especialmente em crianças entre 1 e 5 anos”. Gee sugeriu ainda que a DC ocorreria por um erro dietético, e que a cura poderia ser alcançada pela introdução de uma dieta adequada. Mas, foi somente 60 anos mais tarde que o pediatra holandês Willem Karel Dicke, em 1950, acompanhando diversas crianças com deficiência pondero-estatural e esteatorreia em Haia e Utrecht, provou o efeito deletério do trigo. Ele demonstrou que a fração proteica do trigo, o glúten, em especial a gliadina, é o fator responsável pela instalação da DC. Porém, neste intervalo de tempo inúmeras teorias para explicar sua causa foram propostas, assim como as mais variadas tentativas terapêuticas, as quais estão disponíveis na literatura médica. Por exemplo, Schultz, em 1904, atribuía a causa da DC a uma alteração da flora putrefativa intestinal, enquanto que Herter e Holt, em 1908, propunham que a etiologia se devia à flora de lactobacilos; Henfner, em 1909, considerou a existência de uma grave insuficiência digestiva após o desmame e preconizava a utilização do leite humano. Haas, em 1924, revolucionou o tratamento dietético propondo algo totalmente inédito para sua época, a dieta de banana, inclusive excluindo os carboidratos dos cereais, a qual baixou de forma espetacular a alta mortalidade da DC, e por isso tornou-se muito recomendada até 1950. Stheeman, em 1932, observou que um dos seus pacientes com DC apresentava um agravo do distúrbio diarreico em seguida à ingestão de alimentos contendo amido; a criança revelava intensa idiossincrasia a alimentos como biscoito, pão e farináceos. Ainda em 1932, Parsons fez uma revisão de 94 casos de DC ocorridos na infância e reconheceu que enquanto as crianças eram amamentadas exclusivamente ao seio materno não apresentavam sintomas sugestivos da enfermidade. Afirmava, também, que a DC podia afetar igualmente adultos e crianças, chamando a atenção para a grande variabilidade dos sintomas e para o papel que os carboidratos desempenhavam para o desencadeamento da enfermidade. Em 1934, Luell e Campos descreveram as alterações radiológicas presentes na DC: “motilidade intestinal diminuída, alterações no padrão da mucosa jejunal com ausência do pregueamento característico e fragmentação da coluna de bário”.

Mas, indiscutivelmente, o grande salto de qualidade na melhor compreensão dos efeitos deletérios sobre o organismo provocados pela DC se deveu ao esclarecimento da sua etiologia pelo Professor Dicke. Ele observou que na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), durante o período da ocupação nazista na Holanda, em virtude da grande escassez de alimentos, em especial o pão (durante o racionamento não havia disponibilidade de alimentos contendo glúten, e sim outros alimentos contendo carboidratos complexos, como o amido, que embora em pequena quantidade, ainda estavam disponíveis para o consumo), paradoxalmente as crianças portadoras de DC apresentavam uma melhora clínica. Dicke observou também que, durante as internações, quando os pacientes seguiam uma dieta livre de glúten havia uma diminuição da diarreia com desaparecimento da esteatorreia e retomada da normalidade da curva de crescimento. Por outro lado, Dicke notou que após o término da guerra estas mesmas crianças vieram a apresentar uma deterioração clínica quando os Aliados, através do plano Marshall, passaram a suprir alimentos à população, particularmente o pão. Subsequentemente, Dicke publicou uma série de artigos comprovando claramente a associação do trigo e da cevada como causadores da DC.

Vale ressaltar que a primeira descrição da realização da biópsia do intestino delgado se deve a um médico argentino Dr. Royer, que publicou sua façanha na Prensa Médica Argentina, em 1956. No mesmo ano a médica inglesa Dra. Margot Shiner realizou a primeira biópsia de intestino delgado em um paciente com DC e publicou seu feito na revista inglesa The Lancet. Mas somente no início da década de 1960 passou-se a dispor de um equipamento apropriado para a realização rotineira de biópsias de intestino delgado, o qual foi criado por Crosby e Kugler. Vale ressaltar que Crosby era um hematologista que estava interessado em estudar a absorção intestinal de ferro. Para tal se associou ao engenheiro mecânico Kugler para desenvolver um instrumento que pudesse obter amostras de fragmentos de intestino delgado, cujo instrumento acabou sendo batizado de cápsula de Crosby-Kugler. Esta cápsula, sem dúvida alguma resultou no avanço mais espetacular para propiciar o estudo das lesões morfológicas da mucosa intestinal na DC, tornando-se, desde então, até os dias atuais, o padrão ouro no diagnóstico da DC.

O primeiro caso com comprovação diagnóstica documentada com biópsia de intestino delgado, no Brasil, foi descrito e publicado em 1976, pelo nosso grupo da Gastropediatria da Escola Paulista de Medicina, constituído naquela ocasião por Ulysses Fagundes Neto e Jamal Wehba, após meu retorno da especialização realizada no Policlínico Alejandro Posadas, em Buenos Aires, em 1973, sob a orientação do saudoso Dr. Horácio Toccalino, (Figuras 2-3-4-5-6) (Fagundes Neto, U. Ped. Prát. 47(11-12): 23-26, 1976).


Figura 2- Nosso primeiro paciente com DC no momento da internação evidenciando desnutrição grave e grande irritabilidade.

Figura 3- A DC na sua expressão mais intensa de desnutrição, a caquexia.


Figura 4- Nosso paciente alguns dias após o diagnóstico e em dieta isenta de glúten. Começava a recuperar a sociabilidade perdida e a se interessar pelas coisas ao seu redor, inclusive os brinquedos.


Figura 5- Comparação nutricional do nosso paciente no momento da internação e após alguns meses em dieta isenta de glúten, com total recuperação clínica e nutricional.

Figura 6- A importância do diagnóstico correto e cumprir com rigor a dieta isenta de glúten, sem permitir quaisquer transgressões, ainda que esporádicas.

Depois desta primeira descrição muitos outros casos, até então considerados pacientes portadores de desnutrição por verminose ou problemas de ordem sócio-econômica, vieram a ser também diagnosticados. Atualmente sabe-se que a prevalência da DC no nosso meio é tão frequente quanto aquela descrita em outras regiões do mundo de 1:100 indivíduos. 

O diagnóstico da DC, como é do conhecimento geral, baseia-se nas alterações morfológicas da mucosa do intestino delgado, as quais embora não sejam patognomônicas, são altamente características, levando a graus variados de atrofia vilositária, infiltrado linfocitário intra-epitelial e hiperplasia das glândulas crípticas (Figura 7).


Figura 7- Microfotografia de biópsia do intestino delgado, em microscopia óptica comum, grande aumento, de paciente portador de Doença Celíaca evidenciando atrofia vilositária total, hiperplasia das glândulas crípticas e aumento dos linfócitos intra-epiteliais.

Vale ressaltar que os sintomas e as lesões morfológicas do intestino delgado são totalmente reversíveis com a introdução de uma dieta isenta de glúten restrita (Figura 8).

Figura 8- Microfotografia de biópsia do intestino delgado, em microscopia óptica comum, grande aumento, de paciente portador de Doença Celíaca 6 meses após início da dieta isenta de glúten. As vilosidades intestinais encontram-se digitiformes, as glândulas crípitcas normais e o infiltrado linfo-plasmocitário da lâmina própria discreto, células epiteliais cilíndricas com núcleo em posição basal e glândulas crípticas preservando a relação vilosidade/cripta 4ou5:1.

Presentemente, os critérios diagnósticos de graduação das alterações morfológicas da mucosa intestinal aceitos internacionalmente para o diagnóstico da DC são os propostos por Marsh, em 1992 (Figuras 9-10).


Figura 9- Representação esquemática dos critérios de Marsh para o diagnóstico da Doença Celíaca.


Figura 10- Graduação histológica das lesões do intestino delgado na Doença Celíaca.

Marsh classificou as alterações histológicas para o diagnóstico da DC nos seguintes graus, a saber: Grau 0, estágio pré-infiltrativo (normal), Grau 1, lesão infiltrativa (aumento do número de linfócitos intra-epiteliais), Grau 2, lesão hiperplásica (Grau 1 + hiperplasia das criptas), Grau 3, lesão destrutiva (Grau 2 + atrofia vilositária parcial), Grau 4, lesão hipoplásica (atrofia vilositária total com hipoplasia críptica). A lesão Grau 3 foi modificada para ser subdividida em Grau 3a (atrofia vilositária parcial), Grau 3b (atrofia vilositária subtotal) e Grau 3c (atrofia vilositária total).

A existência de lesão Marsh Grau 3 com atrofia vilositária, ou mais intensa, é aceita como claro aspecto diagnóstico da DC. A ocorrência de lesão Marsh Grau 2 associada à positividade de marcadores sorológicos é altamente sugestiva da DC. A existência da lesão histológica Marsh Grau 1 é considerada inespecífica, porém, se essa lesão vier acompanhada de positividade dos marcadores sorológicos deve-se considerar fortemente o diagnóstico de DC. Nesta situação deve-se realizar a tipagem HLA e se necessário repetir a biópsia do intestino delgado, ou então, indicar o emprego da dieta isenta de glúten e após 6 meses repetir os testes sorológicos e a biópsia do intestino delgado.

Muito embora eu nutra um profundo respeito pelo grupo de trabalho da ESPGHAN sinto-me no direito de discordar especificamente quanto ao critério diagnóstico não-biópsia, pelas seguintes razões, a saber:

1-   Os testes sorológicos ainda que se revistam de extraordinária importância como rastreamento diagnóstico da DC nem sempre apresentam 100% de sensibilidade e especificidade. Além disso, podem apresentar variabilidade dependendo da metodologia de cada laboratório e dos diferentes locais aonde os testes são realizados. 



2- Por outro lado, atualmente a endoscopia digestiva alta passou a ser um exame extremamente seguro, rotineiro na prática médica, desde longa data, e praticamente de domínio universal. Além disso, durante a realização do próprio procedimento é possível se fazer uma avaliação macroscópica inicial ao se visualizar, pela lupa, na estrutura da mucosa duodenal, a ausência das pregas de Kerkring. Isto permite que as biópsias possam ser dirigidas diretamente para estas áreas focais de lesão, posto que as alterações da mucosa não são necessariamente sempre difusas.

3-  Considerando-se que estamos tratando de uma enfermidade que envolve uma intolerância permanente ao trigo, centeio e cevada, alimentos que fazem parte fundamental da nossa cultura alimentar ocidental, parece-me indispensável que tenhamos a absoluta certeza do diagnóstico definitivo de DC. Esta certeza é a base para que possamos transmitir, com total confiança aos pais e aos pacientes, a imperiosa necessidade para que seja cumprida de forma restrita a dieta isenta de glúten.

4-   Como é do conhecimento geral, a necessidade da adesão a uma dieta isenta de glúten de forma restrita diz respeito à prevenção de uma série de potenciais efeitos colaterais da DC, quando ocorrem transgressões dietéticas. Dentre os inúmeros efeitos colaterais podemos citar osteoporose, deficiências das vitaminas lipossolúveis, parada do ritmo de crescimento, outras enfermidades autoimunes (Diabetes, Tireoidite), neoplasia intestinal etc.

Isto posto, devo reafirmar a importância da realização de oficinas de trabalho, como a atual publicação, que leva em consideração as revisões sistemáticas baseadas em evidências, valorizando acima de tudo a ciência, a despeito da possível existência de algumas menores discordâncias, posto que a Medicina não é uma ciência exata. 

Referências Bibliográficas 
1-   Husby S – JPGN 2020; 70:141-157
2-   Husby S – JPGN 2012; 54:136-60
3-   Ludvigsson JF – Gut 2014; 63:1210-28
4-   Rubio-Tapia A – Am J Gastroenterol 2013; 108:656-76