segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Minha História de vida e minha História vivida na EPM/UNIFESP (38)

Minha trajetória na carreira Acadêmica na Escola Paulista de Medicina (EPM) – Parte 4

A inédita experiência vivenciada no trabalho de campo na Favela Cidade Leonor (2)

Algumas áreas da favela dispunham de água encanada comunitária, mas nenhuma delas possuía rede de esgoto ou cisternas, os dejetos eram despejados diretamente no córrego, que veio a ser transformado em uma verdadeira fossa séptica a céu aberto (Figuras 6-7-8).


Figura 6- Vista aérea dos barracos margeando o córrego da Água Espraiada.


Figura 7- Visão do córrego da Água Espraiada repleto de lixo e alguns moradores, adultos e crianças nas suas imediações.


Figura 8- Visão do córrego da Água Espraiada e dos barracos erguidos às suas margens, servindo como uma verdadeira cloaca a céu aberto.


 Frequentemente podia-se observar crianças moradoras do local brincando nas águas do córrego (Figuras 9-10-11).




Figuras 9-10-11- Crianças moradoras da favela brincando dentro e às margens do córrego.


Uma vez conhecida a área de potencial futura atuação fui apresentado pelo Sr. Armando Borges aos dirigentes da Associação dos Favelados da Cidade Leonor. Fomos então recebidos por uma Comissão de moradores da comunidade para expor nosso plano de trabalho, que consistia em proporcionar assistência à saúde para a população pediátrica local, visando fundamentalmente contemplar ações assistenciais básicas tendo como retaguarda técnico-científica o Hospital São Paulo. Nossa proposta foi inteiramente acolhida pela comunidade e em seguida passamos a operacionalizar nossas atividades. Para executar nosso projeto contávamos com uma equipe constituída pelos nossos Pos-Graduandos e também envolvemos os próprios moradores da comunidade, em especial o sr. Henrique, líder político local, a sra. Magnólia, que era atendente de enfermagem, e o sr. Tuta, morador local que se voluntariou para participar do projeto. Inicialmente, tratamos de aproveitar a extraordinária experiência de trabalho de campo que eu havia obtido no Parque Indígena do Xingu, o que significava divulgar por toda a comunidade a existência do novo serviço de saúde totalmente gratuito. Para este fim, delimitamos geograficamente a área de abrangência da nossa atuação e juntamente com sr. Henrique visitei casa por casa para anunciar nossos serviços e convidar a população pediátrica a fazer uso dos mesmos. Em pouquíssimo tempo passamos a atender uma enorme clientela de crianças que 2 vezes por semana vinham ao barracão da Associação em busca de atenção à saúde (Figuras 13-14-15-16-17).


Figura 13- Nossa equipe de trabalho com os moradores locais: da esquerda para a direita Tuta, Magnólia e Henrique, com algumas crianças da comunidade.


Figura 14- A sede da Associação dos Favelados aonde funcionava nosso ambulatório.



Figura 15- Magnólia e eu revisando as fichas dos nossos pacientes.


 
Figura 16- Tuta após ser devidamente instruído tornou-se responsável por obter as medidas antropométricas dos nossos pacientes.


Figura 17- Dra. Márcia Kallas e a atendente Magnólia em atividade assistencial. 

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Minha História de vida e minha História vivida na EPM/UNIFESP (37)

Minha trajetória na carreira Acadêmica na Escola Paulista de Medicina (EPM) – Parte 4

A inédita experiência vivenciada no trabalho de campo na Favela Cidade Leonor (1)

A partir das pesquisas realizadas nesta localidade resultou a descrição da Enteropatia Ambiental, a qual se tornou universalmente reconhecida na comunidade científica. 

Desde o início das atividades na nossa especialidade, nos anos 1970, o problema mais grave de saúde pública nos países chamados subdesenvolvidos, aí incluído o Brasil e praticamente todos os países da América Latina, em maior ou menor extensão, dizia respeito ao terrível binômio Diarreia-Desnutrição, responsável pelas altíssimas taxas de mortalidade infantil, bem como naquelas crianças menores de 5 anos. Tanto no nosso Ambulatório quanto na nossa Enfermaria de Pediatria do Hospital São Paulo, aonde eram internados os casos mais graves, a imensa maioria dos pacientes por nós atendidos, lactentes menores de 1 ano idade, apresentava queixa de diarreia crônica sempre acompanhada de algum grau de desnutrição, inclusive marasmo era bastante frequente ser observado. Por maiores que fossem nossos esforços para tratar adequadamente estes pacientes, esbarrávamos a miúde em um obstáculo praticamente intransponível, a persistência da diarreia associada à desnutrição. Naquela ocasião, por coincidência, começavam a surgir na literatura médica as primeiras publicações descrevendo as intolerâncias alimentares, em especial as intolerâncias aos carboidratos da dieta, mais especificamente a intolerância à lactose, que cursavam com diarreia crônica. Estas intolerâncias eram mais prevalentes em lactentes e crianças de baixa idade e acarretavam também agravo nutricional de variável intensidade, mas geralmente ocorriam em famílias de baixo poder econômico vivendo em condições desprovidas de saneamento básico e ausência de água potável. Todas estas particularidades eram idênticas a aquelas vistas em nossos pacientes, o que nos dava uma perspectiva de oferecer um tratamento dietético apropriado para superar o problema. Quando os pacientes encontravam-se internados conseguíamos debelar o processo diarreico e dar alta hospitalar com a prescrição de uma dieta especialmente por nós elaborada, a denominada Fórmula de Frango, composta por uma mistura de carne de frango, óleo de milho, glicose, polivitamínicos e Cálcio, visto que ainda não existiam no mercado brasileiro as fórmulas especiais atualmente disponíveis. Esta dieta era prescrita no momento da alta e os pacientes eram encaminhados para nosso Ambulatório de ex-internados, totalmente assintomáticos, para acompanhamento clínico da recuperação nutricional. Porém, para nossa surpresa, porque não dizer frustração, eles retornavam a miúde com a mesma queixa anterior, ou seja, diarreia associada a desnutrição. Diante desta nua e crua realidade decidimos por uma completa mudança de atitude, pois como não era possível obter o sucesso desejado pela forma que vínhamos atuando, em um número significativo de pacientes, invertemos a situação, em vez de continuarmos atendendo no nosso Ambulatório, fui ao encontro aonde eles viviam, teria que conhecer com riqueza de detalhes as condições de vida da nossa clientela. Era preciso travar contato direto com suas dificuldades, seus anseios, seus usos e costumes, enfim tínhamos que aprender uma nova forma de nos relacionar com nossos pacientes, era preciso mudar a velha atitude contemplativa, aonde o Serviço de Saúde funcionava como centro de referência para acolher a clientela. Tornava-se fundamental, portanto, conhecer o habitat natural dos nossos pacientes para melhor entender toda sua problemática de vida; mudávamos, assim, um conceito tradicional da Medicina, iríamos passar a oferecer aos pacientes o que poderia ser o melhor para eles dentro das suas realidades de vida e das condições do seu meio ambiente. 

De fato no início de 1981 esta oportunidade se ofereceu por inteiro. Como a maioria dos nossos pacientes era proveniente da zona sul de São Paulo, e vivia em condições precárias, com alto grau de insalubridade ambiental, em um encontro casual com o Sub-Prefeito da Vila Mariana, sr. Armando Borges de quem era um antigo amigo, comentei a nossa constante frustração quanto aos insucessos terapêuticos em relação aos nossos pacientes. Ele comentou sobre a existência de uma grande favela localizada próxima ao aeroporto de Congonhas denominada Cidade Leonor que poderia vir a ser um campo avançado de trabalho caso viesse a ser do meu interesse. Fui então com ele conhecer o local para avaliar a possibilidade de efetivamente desenvolver ali as atividades de campo que havíamos imaginado. A favela Cidade Leonor foi erguida às margens do córrego da Água Espraiada na década de 1940, em uma área da municipalidade denominada de fundo de vale, tem uma extensão aproximada de 3 km, desde a rua Califórnia até a rua Pedro Bueno, aonde atualmente está construída a Avenida Roberto Marinho, no bairro de Santa Catarina. O córrego da Água Espraiada nasce na região do ABCD paulista e percorre uma longa distância até desaguar no rio Pinheiros na região do Brooklin, entre as pontes do Morumbi e a Estaiada (Figuras 1-2).


Figura 1- Visão aérea de uma parte da favela, aonde se visualizam os barracos e o córrego da Água Espraiada.


Figura 2- Foto aérea obtida desde a favela avistando uma das cabeceiras da pista do aeroporto de Congonhas.

A favela Cidade Leonor é constituída pela construção de barracos erguidos em ambas as margens do córrego e se estendem ao longo do mesmo, constituindo contornos irregulares que chegam a se expandir lateralmente por cerca de 50 metros das suas margens. Seus limites, no entanto, são contidos pela existência de casas residenciais construídas em áreas urbanizadas providas de saneamento básico. O tamanho dos barracos é variável, medindo cerca de 3x4 metros, em sua maioria são construídos de madeira ou em alvenaria proveniente de restos de construção, pelos próprios moradores. O teto é geralmente coberto com telhas Brasilit, o chão, em algumas casas é cimentado, mas na maioria delas é de terra batida. Usualmente o interior do barraco é dividido em 2 cômodos e, para tal, os moradores costumam utilizar algum mobiliário (Figuras 3-4-5).


Figura 3- Vista aérea da região da Vila Santa Catarina aonde a favela cidade Leonor está implantada.


Figura 4- Vista aérea panorâmica da favela cidade Leonor e sua conexão com a região urbanizada.


Figura 5- Vista aérea mais detalhada do conglomerado de barracos e o contato direto com a área urbanizada.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Minha História de vida e minha História vivida na EPM/UNIFESP (36)

Minha trajetória na carreira Acadêmica na Escola Paulista de Medicina (EPM) - Parte 3


Em setembro de 2007, em Toronto, fiz parte de um grupo de trabalho, envolvendo experts de diversos países da Europa, Estados Unidos, Japão e América Latina (eu fui o representante), denominado “A Global Evidence-Based Consensus on the Definition of Gastroesophageal Reflux disease in the Pediatric Population”, que se estendeu até dezembro quando nos reunimos em dezembro de 2007, em  Londres, para finalizarmos o documento que foi inicialmente apresentado no III World Congress of Pediatric Gatroenterology, Hepatology and Nutrition, em 2008, em Foz do Iguaçu e posteriormente publicado na revista American Journal of Gastroenterology (2009; 104:1278-95) (Figuras 30-31-32).

Figura 30- Participantes do Grupo de Trabalho em Toronto, da esquerda para a direita: Eric Hassal (Canadá), Yvan Vandeplas (Bélgia), Benjamin Gold (EUA), Sybele Kolettzko, Phillip Sherman (Canadá), eu, Suichiro Kato (Japão), Susan Orenstein (EUA) e Colin Rudolph (EUA).
 
Figura 31- Membros do Grupo de Trabalho em plena atividade.

Figura 32- Membros do Grupo de trabalho na reunião de Londres.

Em Portugal dei palestras em Lisboa e no Porto, na Espanha em Madri e Huelva (Figuras 33-34-35-36-37).


Figuras 33-34- Acima uma palestra no evento em Lisboa, em 1994; abaixo, no coquetel do evento com Fábia, Francisco Penna e Luciano Peret.




Figuras 35-36- Minha participação do curso de Mestrado Internacional na Universidade Internacional de Andalucia, em La Rábida, em 1996. Acima uma das minhas palestras, lá estive por toda uma semana; abaixo, o grupo de alunos do curso, todos eles da américa latina, que lá permaneceram durante 3 meses.



Figura 37- Participação no Congresso da LASPGHAN em Madri, em 2003, organizado na Sociedade de Médicos local, em um anfiteatro preservado desde sua construção há alguns séculos, inclusive mantida intacta a sala aonde Ramon e Cajal fizeram seus trabalhos de pesquisa sobre os neurônios.
 
Esta vivência internacional foi um fator que também passou a atrair cada vez mais interessados em vir fazer a especialização na nossa Disciplina. De fato, à medida que nosso prestigio foi progressivamente se expandindo para além das fronteiras nacionais, médicos dos mais variados países da América Latina, tais como, Argentina, Paraguai, Bolívia, Venezuela, Colômbia, Guatemala República Dominicana, também postularam a realizar o programa de especialização na nossa Disciplina. A vinda constante destes médicos latino-americanos para se especializar em nossa Disciplina foi o corolário do reconhecimento internacional do nosso grupo (Figuras 38-39-40).



Figura 38- Eu, Fábia e Jorge Palácios um especializando nosso da Guatemala.



Figura 39- Julio de Manueles nosso Especializando de Salamanca, Espanha.


Figura 40- Em primeiro plano Juan Jorge nosso Especializando da República Dominicana.

Vale ressaltar que nossa Disciplina não ficou restrita apenas a 2 docentes, Jamal e eu, pois, com o passar dos anos o corpo docente foi se ampliando com a contratação de novos colegas que vieram a trazer suas contribuições pessoais e científicas, colaborando para oxigenar nosso ambiente de trabalho com o entusiasmo inerente da juventude tornando nosso grupo cada vez mais respeitado e reconhecido pela excelência da qualidade científica (Para mais informações consultar corpo docente da Disciplina de Gastroenterologia Pediátrica da EPM/UNIFESP). 

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Minha História de vida e minha História vivida na EPM/UNIFESP (35)

Minha trajetória na carreira Acadêmica na Escola Paulista de Medicina (EPM) – Parte 2


A divulgação da excelência do nosso curso de especialização foi crescendo paulatinamente por todo o país, isto resultou na criação de um círculo virtuoso, pois passei a ser convidado a dar palestras sobre nossas experiências científicas e clínicas nos mais diversos centros de Pediatria, quer seja em Congressos, Cursos de Atualização e Simpósios, tanto no Brasil como em inúmeros países da América Latina.

Ao longo destes mais de 35 anos de atividade docente percorri o Brasil, desde o Norte até o Sul do país, convidado a proferir palestras sobre os mais importantes temas na nossa especialidade. Pude, assim, através dos meus conhecimentos médicos, desfrutar e ter o prazer de conhecer colegas de profissão, celebrar amizades, receber o calor humano da tão tradicional hospitalidade da nossa gente, bem como aprender profundamente a respeito das riquezas da nossa diversidade sociocultural, ao visitar a maioria dos estados do nosso país, a saber: Amazonas (Manaus), Pará (Belém), Piauí (Teresina), Maranhão (São Luís), Ceará (Fortaleza), Rio Grande do Norte (Natal), Paraíba (João Pessoa), Pernambuco (Recife), Bahia (Salvador), Alagoas (Maceió), Sergipe (Aracajú), Espirito Santo (Vitória), Minas Gerais (Belo Horizonte, Guaxupé), Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, Campos, Niterói, Volta Redonda), Mato Grosso (Cuiabá), Mato Grosso do Sul (Campo Grande, Dourados), Goiás (Goiânia), Brasília, Paraná (Curitiba, Londrina, Foz do Iguaçu), Santa Catarina (Florianópolis, Joinville, Blumenau, Itajaí), Rio Grande do Sul (Porto Alegre, Gramado). Vale assinalar que várias destas cidades foram por mim visitadas reiteradas vezes. Particularmente, no nosso estado de São Paulo também fui convidado a dar palestras em inúmeras cidades, tais como: São Paulo, Jundiaí, Campinas, Sorocaba, Americana, Botucatu, São José do Rio Preto, Ribeirão Preto, Santos, Diadema, São José dos Campos, Guarulhos, Campos do Jordão, Marília, Bauru entre outras (Figura 15).



Figura 15- II Jornada Nordestina de Gastroenterologia Pediátrica, Fortaleza, Ceará.

Na América Latina, da mesma forma, em virtude da minha fluência em espanhol adquirida quando vivi em Buenos Aires e também em Nova Iorque, pela facilidade de comunicação daí proveniente, tive a oportunidade de receber convites para dar palestras em inúmeros países de fala hispânica, tais como: Argentina (Buenos Aires, Córdoba, Salta, Mendoza, Rosário, Ushuaia, La Plata, Mar del Plata, Tucuman), Uruguai (Montevideo, Punta del Este), Chile (Santiago, Valdivia, Puerto Varas) Peru (Lima), Bolívia (Santa Cruz de la Sierra, Cochabamba), Colômbia (Cartagena de Indias), Venezuela (Caracas, Maracaibo), República Dominicana (Santo Domingo, Punta Cana), Guatemala (Guatemala), México (México, Puebla, Cancún) (Figuras 16-17-18-19-20-21-22-23).





Figuras 16-17- Participação da reunião da LASPGHAN, em seus primórdios, em Montevideo, Uruguai em 1981. Da esquerda para a direita: Eduardo Cueto Rua, Joaquin Kohn, José Luis Cervetto, Eu, Mairon Lima



Figura 18- Participação de um Curso de Atualização em Cochabamba, Bolívia, em 1985.





Figuras 19-20- Participação da X Reunião da LASPGHAN, em Montevideo, em 1991.



Figura 21- Eu, Jorge Ortiz (Buenos Aires), Pastoriza (Ushuaia) e Aderbal Sabrá (Rio de Janeiro).



Figura 22- Congresso na Guatemala em 1997.



Figura 23- Em pé da esquerda para a direita: José Luis Cervetto, eu e Jorge Ortiz. Sentadas: María Tocca, Mirta Cicca e Margarita Ramonet.

Embora em escala bem menor também tive a oportunidade de ser convidado a dar palestras em países da América do Norte, de língua inglesa, e da Europa. Nos Estados Unidos dei palestras no FASEB, em Los Angeles, no Cincinnati Children’s Hospital (Cincinnati, Ohio), Miami Children’s Hospital (Miami, Florida), Rapid City (South Dakota), Cornell University Medical College (Nova Iorque, NY) (Figuras 24-25-26). Nesta última fiz parte do corpo docente de um simpósio (único participante da América Latina) que resultou na publicação de um livro intitulado “Nutrition for Special Needs”, no qual escrevi o capítulo “Dietary Management of Postinfectious Diarrhea in Malnourished Infants”.



Figura 24- Participação no FASEB, em Los Angeles.




Figuras 25-26- Participação no Simpósio Sobre Infecções Entéricas em Rapid City.

Em Boston (Massachussets) em agosto de 2000, participei como co-organizador do I World Congress of Pediatric Gatroenterology, Hepatology and Nutrition e também como palestrante (Figuras 27-28-29).



Figura 27- Organizadores do I World Congresso f Pediatric Gastroenterology, Hepatology and Nutrition, reunidos em Denver, Colorado, em 1998. Da esquerda para a direita: Ron Sokol (Denver, NASPGHAN), Samy Cadranel (Bélgica, NASPGHAN), eu (LASPGHAN), Yuichiro Yamashiro (Japão, APPSPGHAN) e Harland Winter (Boston, NASPGHAN).


Figura 28- Membros da nossa Disciplina participantes do I World Congress of Pediatric Gastroenterology, Hepatology and Nutrition.




Figura 29- Participação no jantar de confraternização do II World Congress of Pediatric Gastroenterology, Hepatology and Nutrition, Paris, 2004.



segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Minha História de vida e minha História vivida na EPM/UNIFESP (35)

Minha trajetória na carreira Acadêmica na Escola Paulista de Medicina (EPM) – Parte 1

1- A evolução funcional dentro da carreira acadêmica

Quando decidi ir para Buenos-Aires fazer meu 3º ano de Residência Médica, foi um salto no escuro, não tinha qualquer tipo de promessa de que no meu retorno poderia vir a ser contratado pelo Departamento de Pediatria, fato que muito desejava, posto que tinha todo interesse em seguir a carreira acadêmica. Porém, foi uma decisão unilateral, tinha entendido que para atingir meu objetivo seria necessário fazer algo distinto do rotineiro, era preciso criar uma mudança de paradigma, pois com este tipo de atitude teria a oportunidade de me tornar um agregador de valores, o que se constituiria em um diferencial em relação aos meus pares da mesma geração, e assim, quem sabe, despertar o interesse pela minha contratação. O Departamento de Pediatria estava com sua lotação praticamente completa dentro do quadro de docentes da EPM. Naquela época não havia uma perspectiva definida para a abertura de novo concurso para ingresso no magistério federal a médio prazo, portanto, além de querer diferenciar-me profissionalmente, qualificando-me na busca da excelência na especialidade ainda totalmente incipiente no nosso meio, valia a pena correr o risco na expectativa de que algo de positivo viesse a ocorrer. De fato, foi o que se sucedeu, pois quando Prof. Azarias foi me visitar em Buenos-Aires durante minha estada, já mais para o final da mesma, ouviu referências muito elogias do Dr. Toccalino a meu respeito, o que aplainou o terreno para convencer Prof. Azarias sobre a importância da minha contratação, a qual ocorreu imediatamente após o meu retorno em 1974, pelo Centro de Estudos de Pediatria da Escola Paulista. Para minha felicidade já em 1975 foi aberto concurso público para Professor Auxiliar ao qual me apresentei, fui aprovado, e assim começava a tornar realidade o almejado sonho de seguir a carreira de professor universitário. A partir deste ponto inicial fui gradualmente ascendendo, sempre por meio de concursos públicos, na progressão funcional, inicialmente para Professor Assistente, posteriormente para Professor Adjunto, e, para finalmente alcançar o topo da carreira, em 1988, aos 44 anos de idade, como Professor Titular. Vale assinalar que esta era a segunda vez que eu havia prestado concurso para Professor Titular, na primeira delas, em 1982, aos 38 anos de idade, concorri com meu colega e amigo Calil Kairalla Farharat, que venceu o concurso com nota 9,92, enquanto eu obtive nota 9,88 (Figura 1).


Figura 1- Calil ladeado à sua direita pela sua mulher René e à esquerda por minha mulher  Eurídice. Logo após o concurso para Professor Titular, do qual ele sagrou-se vencedor, nós fomos convidados a participar de um evento da Sociedade Brasileira de Pediatria para dar cursos de atualização em Pediatria em várias cidades do Nordeste do país durante 2 semanas seguidas, ministrando palestras cada um em sua respectiva especialidade.

No segundo concurso fui aprovado com nota 10,0 por todos os 5 examinadores da banca constituída exclusivamente por Professores Titulares, sendo que 3 deles pertenciam a outras prestigiosas instituições universitárias (Figuras 2-3).



Figuras 2-3- Cerimônia de posse de Professor Titular, em 1988. Acima Prof. Benjamin Kopelman faz o discurso de saudação a mim e abaixo Professor Nader Wafae, então Diretor da EPM, faz a colocação do símbolo da titularidade.

2- A formação da Disciplina de Gastroenterologia Pediátrica: sua progressiva e sólida expansão

Logo após meu retorno de Buenos-Aires contando com o entusiasmo incontido e apoio incondicional do Prof. Jamal Wehba, e com a autorização do Departamento de Pediatria, criamos inicialmente o Setor de Gastroenterologia Pediátrica, que alguns anos mais tarde, pelo reconhecimento da instituição quanto à nossa excelente qualidade, fez jus a ser promovido a Disciplina. Ato seguinte, tratamos de colocar em prática, sempre de comum acordo, e após amplas discussões, todos os planos elaborados para a consolidação de um Setor cujo eixo fundamental de apoio deveria estar centrado em um trabalho de equipe. Foi, então, celebrado entre nós um modo de vida baseado acima de tudo no respeito recíproco das opiniões emitidas e que todos os pontos de possíveis divergências seriam discutidos à exaustão até o surgimento de um consenso, para que as soluções dos problemas resultassem de comum acordo. Assumimos naquela oportunidade um compromisso formal quanto ao nosso porvir, as responsabilidades pelo sucesso ou pelo fracasso seriam, pois, igualmente repartidas. Caso conseguíssemos levar adiante nossos ideais, ambos triunfaríamos, caso contrário teríamos também que dividir com a mesma responsabilidade o ônus do fracasso. Movidos por estes princípios que nortearam nosso comportamento desde os primórdios tratamos de forjar algo palpável do qual pudéssemos nos orgulhar no futuro. Estaríamos, assim, contribuindo de maneira altamente positiva para uma melhor formação dos nossos alunos, construindo bases para adquirir tradição em pesquisa e criando condições para oferecer assistência de alta qualidade. Na verdade, nosso primeiro investimento foi com a assistência, a partir da criação de um Ambulatório de Gastroenterologia que oferecia atendimento clínico e investigação laboratorial especializada, por meio da realização dos principais testes diagnósticos disponíveis à época, os quais rapidamente tratamos de colocar em prática com a inestimável colaboração do Prof. Nelson Machado, inclusive procedimentos de biópsia do intestino delgado, retal e hepática, cuja análise anatomopatológica sempre esteve a cargo da Profa. Francy Reis Patrício. Semanalmente eu me reunia com a Profa. Francy para fazer a revisão das lâminas das biópsias realizadas e buscar estabelecer uma relação clínico-patológica dos pacientes atendidos. Vale ressaltar que esta associação perdurou por mais de 30 anos, sendo muito profícua e que serviu como fonte inesgotável de produção científica de excelente qualidade. Além disso, também se constituiu em material de ensino de altíssima valia para nossos médicos residentes e especializandos, posto que nos reuníamos em sessões semanais para discussões anátomo-clínicas extremamente proveitosas.  

Seguindo nossos preceitos básicos as atividades de pesquisa e ensino, além da assistencial, receberam cuidado especial desde os primórdios. Inicialmente o ensino esteve mais dirigido para nossos alunos de graduação do 4º e 6º anos, e para os médicos residentes da EPM. No plano da pesquisa, no princípio, nossos interesses se voltaram para a investigação clínica, a partir da experiência acumulada e devidamente analisada dos pacientes por nós atendidos no Ambulatório da especialidade e daqueles internados no Setor de Gastroenterologia Pediátrica do Hospital São Paulo (Figura 4).


Figura 4- Jamal ao centro, Elisabete Kawakami recém incorporada ao grupo e eu nos primórdios da nossa Disciplina.
 
A comprovação definitiva de que as linhas mestras traçadas, que serviram de orientação para o funcionamento do nosso Setor, haviam sido, acertadas foi selada durante a realização dos Congressos Pediátricos, em 1975, em São Paulo. Naquele evento tivemos a oportunidade de apresentar alguns trabalhos nas sessões de Temas Livres, e que representavam os primeiros frutos colhidos em prazo de tempo inferior a 2 anos do início das nossas atividades no Setor recém constituído (Figura 5).


Figura 5- O Congresso Internacional de Pediatria de 1975, realizado no Pavilhão do Anhembi foi o marco inicial da nossa produção científica. Da esquerda para a direita, a Silvana, Eurídice, eu, Jorge Ortiz, Mairon Lima, Ricardo Licastro, Horácio Toccalino e Sérgio Reppeto.

O primeiro marco havia sido alcançado, mas era apenas o começo de uma longa caminhada, era necessário seguir avançando. As prioridades básicas haviam sido supridas, podíamos, assim, partir agora para alçar outros voos mais ambiciosos. Tornava-se imperioso expandir nossas fronteiras, isto significava a abertura do nosso Setor para o treinamento na especialidade, estávamos escalando o primeiro degrau da excelência ao admitirmos especializandos, ao oferecer um programa de especialização para médicos que haviam completado a residência em Pediatria Geral. Pouco a pouco foram chegando os primeiros interessados em aprimorar seus conhecimentos, e em curto espaço de tempo já se fazia necessário realizar um verdadeiro concurso para limitar o corpo de especializandos, porque a grande afluência de candidatos começou a suplantar nossa capacidade de oferecer um programa de ótima qualidade. Passamos a reservar uma parte das vagas aos interessados que eram oriundos da nossa própria instituição e uma outra parte para aqueles que se apresentavam de outras instituições fossem de São Paulo ou de outros Estados do país (Figuras 6-7-8-9-10-11).



Figuras 6-7-8- Nossos diversos Especializandos ao longo dos anos na sede da nossa Disciplina.
 

Figuras 9-10- Nossos Especializandos e amigos do Brasil e de Portugal em um dos churrascos de confraternização que costumeiramente organizávamos em nossa Clínica.


Figura 11- Nossos especializandos e amigos ao participar de um dos Congressos da LASPGHAN em Buenos Aires em 1984.

Com o decorrer dos anos, médicos de praticamente todas as regiões do país vieram a se formar no nosso programa de especialização, e, inclusive, muitos deles aqui permaneceram por tempo mais prolongado para realizar os cursos de Mestrado e Doutorado, antes de retornarem aos seus locais de origem (Figuras 12-13-14).


Figura 12- Dras. Maria Ceci (Fortaleza) e Rosa Helena (Belém) que fizeram a especialização conosco e aqui permaneceram para realizar os cursos de Mestrado e Doutorado antes de retornar às suas origens. 


Figura 13- Dra. Arelis LLeras à minha direita oriunda de Maracaibo, Venezuela, com sua família em visita a São Paulo depois de muitos anos de aqui ter vivido para realizar conosco seu curso de Mestrado e Doutorado. Trabalhou comigo na Favela Cidade Leonor coletando amostras de fezes de crianças com e sem diarreia para pesquisa de agentes enteropatogênicos. Foi uma pesquisa extremamente importante que fez parte de um capítulo para desvendarmos a história natural da Enteropatia Ambiental.

Figura 14- Dra. Fátima Lindoso, natural de Recife, fez o curso de especialização e em seguida realizou os cursos de Mestrado e Doutorado sob minha orientação. Seus trabalhos na Favela Cidade Leonor promovendo o aleitamento natural exclusivo por tempo prolongado demonstraram cabalmente a excepcional importância dessa prática em populações socialmente vulneráveis. Atualmente Fátima é Professora Titular do Departamento de Pediatria e Diretora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás.