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quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Impacto dos transtornos do desenvolvimento neurológico no desfecho do manejo intestinal nas crianças com constipação funcional

 Prof. Dr. Ulysses Fagundes Neto

A renomada revista JPGN publicou um artigo em setembro de 2022, intitulado “Impact of Neurodevelopmental Disorders on Bowel Management Outcomes in Children with Functional Constipation”, de Seidler GR e cols., que abaixo passo a resumir em seus principais aspectos.

Objetivos

Pacientes que apresentam constipação funcional (CF) podem participar em programas no manejo de estruturação intestinal (MEI) quando falham os procedimentos habituais. Neste trabalho foi desenvolvido um programa para avaliar a eficácia do MEI para crianças portadoras de CF com transtornos de desenvolvimento neurológico e naquelas que não apresentavam estes transtornos.

Métodos

Foi realizado uma revisão retrospectiva das crianças que apresentavam CF participantes do MEI durante o período de 2014 a 2021. Foram avaliados os seguintes parâmetros clínicos: continência intestinal urinária, frequência da evacuação, história de cirurgia prévia, medidas de conduta relatadas pelos cuidadores, e inventário de qualidade de vida, antes de ingressar no programa e pelo menos 9 meses após ingressar no programa.

Resultados

A coorte incluiu 156 pacientes com idade média de 9 anos que foram acompanhadas durante 627 dias (variação de 389-808 dias). Foram incluídas 2 sub-coortes portadoras de CF, a saber: uma portadora de CF isolada (69%) e outra portadora de CF associada a transtorno do desenvolvimento neurológico (31%): 59% com déficit de atenção hiperatividade, 33% transtorno do espectro autista, e 8% com transtorno obsessivo-compulsivo. Ambos os grupos apresentaram significativa melhora no acompanhamento da frequência da evacuação e da continência fecal, e da continência urinária. Ocorreu também uma melhora significativa nas medidas de conduta relatadas pelos cuidadores, da mesma forma que também ocorreu uma significativa melhora na qualidade de vida das crianças.

Conclusões

Este estudo permitiu concluir que os pacientes portadores de CF pertencentes a ambas as coortes com ou sem apresentar transtornos do desenvolvimento neurológico se beneficiaram significativamente quanto a continência fecal e urinária durante o período de permanência no programa.

Referência

1- JPGN 75(3):286-92, 2022

 

 

 

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

O CDC (Centers for Disease Control and Prevention – Centros de Controle e Prevenção de Doenças) atualizou e encurtou o período recomendado de isolamento e quarentena para a população geral

Prof. Dr. Ulysses Fagundes Neto

A renomada Instituição Americana publicou em 27 de dezembro de 2021, uma importante recomendação, que a seguir passo a transcrever na integra. O texto abaixo é atribuído ao Diretor do CDC.

Tendo em vista os conhecimentos atuais a respeito da Covid-!9 e da variante Omicron, o CDC decidiu encurtar o tempo recomendado de isolamento para o público. Os pacientes portadores de Covid-19 devem se isolar durante 5 dias, e, caso estejam assintomáticos ou com sintomas mínimos (sem febre durante 24horas), seguindo por mais cinco dias com uso de máscara, quando na presença de outras pessoas, para minimizar o risco de contaminá-las. Esta alteração foi motivada pela ciência que demonstrou que a maioria da transmissão dos casos de Covid-19 ocorre em período precoce do curso da doença, geralmente no primeiro ou segundo dia antes do surgimento dos sintomas, e nos dois ou três dias após a deflagração da enfermidade.

Além disso, o CDC está atualizando a recomendação do período de quarentena para qualquer pessoa do público em geral que se encontra exposta ao Covid-19. Para aquelas pessoas que não estão vacinadas, ou que foram vacinas a mais de seis meses da sua segunda dose da vacina mRNA, e que ainda não receberam o reforço. O CDC recomenda agora quarentena de 5 dias seguido por uso restrito de máscara por 5 dias adicionais. Alternativamente, caso a quarentena de 5 dias não seja possível, torna-se imperativo que uma pessoa exposta ao vírus use uma máscara devidamente ajustada ao rosto, durante todo o tempo que estiver reunida com outras pessoas, durante 10 dias após a exposição. As pessoas que tenham recebido a dose de reforço não necessitam seguir uma quarentena após a exposição ao Covid-19, mas devem utilizar a máscara nos próximos 10 dias subsequentes a exposição. Para todas as pessoas que foram expostas ao Covid-!9, a melhor prática deve também incluir um teste para a Covid-19 no 50 dia após a exposição. Caso os sintomas apareçam, as pessoas devem imediatamente submeter-se a quarentena, até que um teste negativo confirme que os sintomas não sejam atribuídos ao Covid-19.

O isolamento deve se relacionar ao comportamento após a confirmação da infecção. O isolamento durante 5 dias acompanhado pelo uso de uma máscara firmemente ajustada diminuirá o risco de disseminação do vírus para outras pessoas. Entende-se por quarentena o período após a exposição ao vírus, ou contato íntimo com alguém que sabidamente contraiu o Covid-19. Ambas as atualizações emergem porque a variante Omicron continua a se disseminar por toda a parte nos Estados Unidos da América, e reflete o conhecimento científico atual sobre quando e por quanto tempo uma pessoa é infectante na sua forma mais contagiosa.     

Dados da África do Sul e do Reino Unido, demostram que a eficácia da vacina contra infecção do Covid-19, após duas doses da vacina contendo mRNA é de aproximadamente de 35%. Uma dose de reforço da vacina contra o Covid-19 restaura a eficácia vacinal contra a infecção em 75% dos casos. A vacinação contra a Covid-19 diminui o risco de doença grave, hospitalização e morte. O CDC recomenda fortemente a vacinação para todas as pessoas de 5 anos em diante e, reforços para todos a partir dos 16 anos. A vacinação é o melhor meio para se auto proteger e reduzir o impacto da infecção por Covid-19 em nossas comunidades.      

Informações Complementares

The following is attributable to CDC Director, Dr. Rochelle Walensky:

 

“The Omicron variant is spreading quickly and has the potential to impact all facets of our society. CDC’s updated recommendations for isolation and quarantine balance what we know about the spread of the virus and the protection provided by vaccination and booster doses. These updates ensure people can safely continue their daily lives. Prevention is our best option: get vaccinated, get boosted, wear a mask in public indoor settings in areas of substantial and high community transmission, and take a test before you gather.”

If You Test Positive for COVID-19 (Isolate)

Everyone, regardless of vaccination status.

-      Stay home for 5 days.

-      If you have no symptoms or your symptoms are resolving after 5 days, you can leave your house.

-      Continue to wear a mask around others for 5 additional days.

-      If you have a fever, continue to stay home until your fever resolves.

If You Were Exposed to Someone with COVID-19 (Quarantine)

If you:

-      Have been boosted

OR

-      Completed the primary series of Pfizer or Moderna vaccine within the last 6 months

OR

-      Completed the primary series of J&J vaccine within the last 2 months

- Wear a mask around others for 10 days.

- Test on day 5, if possible.

If you develop symptoms get a test and stay home.

If you:

-      Completed the primary series of Pfizer or Moderna vaccine over 6 months ago and are not boosted

OR

-      Completed the primary series of J&J over 2 months ago and are not boosted

OR

-      Are unvaccinated

- Stay home for 5 days. After that continue to wear a mask around others for 5 additional days.

- If you can’t quarantine you must wear a mask for 10 days.

- Test on day 5 if possible.

If you develop symptoms get a test and stay home

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U.S. DEPARTMENT OF HEALTH AND HUMAN SERVICESexternal icon

CDC works 24/7 protecting America’s health, safety and security. Whether disease start at home or abroad, are curable or preventable, chronic or acute, or from human activity or deliberate attack, CDC responds to America’s most pressing health threats. CDC is headquartered in Atlanta and has experts located throughout the United States and the world.

Page last reviewed: December 29, 2021

Content source: Centers for Disease Control and Prevention

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Observação

Devido ao aumento exponencial dos casos da variante Omicron da Covid-19, uma publicação do dia 10 de janeiro de 2022, embora tendo levado em consideração uma amostragem de casos bastante reduzida, propõe um aumento da quarentena para 9 dias nos indivíduos vacinados conforme descrito na tabela abaixo.

 

 

 UM APELO AO BOM SENSO

A vacinação tem se revelado de forma insofismável, como a forma mais eficaz para diminuir os efeitos indesejáveis da pandemia no Brasil e em outras partes do mundo, diminuindo a gravidade dos casos, internações hospitalares e mortes, em todas as faixas etárias.

VACINE-SE E VACINE SEUS FILHOS DE 5 A 11 ANOS!!!


quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Refluxo Gastroesofágico e Doença do Refluxo Gastroesofágico: como estabelecer o diagnóstico diferencial (4)

Complicações da Doença do Refluxo gastro-Esofágico

Neste capítulo abordaremos as principais complicações da Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRG) (vide figura 1 para visualizar o aspecto normal da mucosa do esôfago).
Figura 1- Visualização endoscópica da mucosa do esôfago de aspecto normal.

A mais frequente complicação da DRG é sem dúvida a Esofagite de Refluxo (ER), ou seja, a inflamação da mucosa do esôfago causada pela presença constante de material ácido proveniente do estômago e que leva à sensação de queimação retro-esternal. Esta inflamação pode apresentar diferentes nuances de intensidade, as quais dependem de uma série de circunstâncias, tais como, frequência e tempo de duração dos episódios de refluxo, tempo de existência dos sintomas e mesmo da sensibilidade da mucosa do esôfago à exposição ácida (o que é uma variação individual). A evidência mais direta da existência da ER se dá por meio da realização da endoscopia digestiva alta, posto que durante a execução deste procedimento o examinador, já pode de imediato, identificar através do equipamento óptico as mais diversas graduações de intensidade do processo inflamatório, o qual se caracteriza pela presença de erosões na mucosa esofágica (vide figuras 2 e 3). Há, porém, um debate entre os diferentes especialistas da área quanto à necessidade ou não da realização do exame histológico obtido por biópsia para se estabelecer o diagnóstico de certeza da ER.
Figura 2- Visualização endoscópica da mucosa do esôfago evidenciando esofagite de moderada intensidade.
Nos adultos, a frequência e a intensidade dos sintomas da DRG apresentam, de uma maneira geral, boa correlação com a gravidade da lesão esofágica. Na Pediatria, em um estudo realizado no Canadá, em 2006, no qual foram avaliadas 127 crianças e adolescentes de 1 a 17 anos de idade que sofriam da DRG, e que foram submetidos à avaliação endoscópica, a prevalência e a intensidade de anorexia e/ou recusa alimentar foi significantemente maior naqueles que apresentavam ER em relação a aqueles que não apresentavam lesão da mucosa esofágica. Por outro lado, estudo realizado nos EUA, em 2005, em lactentes (portanto, em crianças menores de 1 ano de idade) as manifestações sintomáticas não foram suficientemente válidas para se prognosticar a existência de ER. Desta forma, o que se pode afirmar, no presente estágio dos conhecimentos, é que não é possivel prognosticar com maior grau de acurácia a intensidade da lesão da mucosa esofágica em pacientes pediátricos quando apenas nos baseamos nos sintomas.


Figura 3- Visualização endoscópica da mucosa do esôfago evidenciando esofagite de intensa gravidade.
Em uma minoria dos casos a DRG pode acarretar uma diminuição do lúmen do esôfago (estreitamento do conduto esofágico), a qual se denomina Estenose Esofágica (vide figura 4). Este estreitamento, que se dá por edema e pela substituição de tecido esofágico por tecido fibroso (portanto inelástico) impede, em um estágio inicial, a passagem de alimentos sólidos causando disfagia persistente. Disfagia progressiva pode levar inclusive à dificuldade de deglutir líquidos o que sem dúvida é um sinal de alarme e que deve ser cuidado com urgência. De qualquer forma, o estreitamento esofágico provocado pela DRG deve ser distinguido de outras possíveis causas, tais como por exemplo, ingestão de soluções cáusticas, ou mesmo, uma outra doença recentemente descrita denominada Esofagite Eosinofílica. Portanto, nestes casos impõe-se a realização de endoscopia com estudo histológico da mucosa do esôfago, obtida por biópsia, para se determinar a causa do estreitamento.

Figura 4- Visualização endoscópica da mucosa do esôfago que revela um evidente estreitamento da sua luz (estenose esofágica).

Outra possível complicação da ER é o que se denomina esôfago de Barret (vide figura 5). Embora esta complicação seja muito menos frequente em pacientes pediátricos em relação ao que se observa em pacientes adultos, ela soe ocorrer em crianças e adolescentes. Por exemplo, em um estudo realizado no Canadá, em 2007, metaplasia esofágica (presença de células de outro órgão na mucosa esofágica; neste caso presença de células características do estômago ou intestino delgado) foi observada em 10% das crianças que sofriam da DRG grave, e, em metade delas ocorreu a presença de células caliciformes (estas células, que são produtoras de muco, o qual recobre a superfície da mucosa intestinal para lhe conferir proteção contra as agressões do meio ambiente, são típicas da mucosa do intestino), portanto, tipicamente do intestino delgado, o que caracteriza de forma inconteste a existência de esôfago de Barret. É de fundamental importância frisar que esôfago de Barret é uma lesão pré-cancerosa, e, portanto, deve ser tratada com total atenção.


Figura 5- Visualização endoscópica da mucosa do esôfago evidencaindo a existência de esôfago de Barret (lesão pré-cancerosa).
No nosso próximo encontro iremos abordar os mais recentes e avançados métodos diagnósticos do Refluxo Gastroesofágico.