segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Minha História de vida e minha História vivida na EPM/UNIFESP (18)

A história da realização de um Pós-Doutorado no North Shore University Hospital, Cornell University, Nova Iorque: pessoal e científica


Parque Indígena do Xingu (PIX)



O Alto Xingu: clima, agricultura e pesca

Há duas estações climáticas nitidamente distinguíveis na região do Alto Xingu: inverno, ou estação das chuvas, que se estende de outubro a março, e, verão, ou estação da seca, de abril a setembro.

A partir de outubro, com a chegada das primeiras chuvas, que desta época até o final do inverno são praticamente diárias, as águas dos rios começam a subir cobrindo as praias e invadindo suas margens mais baixas (Figura 1).


Figura 1- Época inicial das chuvas, as áreas ribeirinhas sendo invadidas.

Os meses de fevereiro e março caracterizam-se pelas grandes enchentes, os rios transbordam e suas águas ocupam as matas marginais (Figura 2).

Figura 2- Época do apogeu das chuvas, as águas invadiram as matas circunvizinhas ao rio.

A partir de abril as chuvas começam a diminuir de intensidade e frequência, prenunciando o começo do período da seca. Os rios, gradativamente, voltam a ocupar seus cursos naturais e as praias vão, pouco a pouco, reaparecendo; pequenos lagos são, então, formados nas terras baixas que beiram os rios, aprisionando peixes, o que facilita sobremaneira a pesca (Figura 3-4).

Figura 3- Época inicial do verão, as águas começam a baixar e já se vislumbra a formação das praias.

Figura 4- Época de pleno verão, as praias totalmente formadas, momento propício para os tracajás desovarem.

No mês de setembro, portanto, já no fim do verão, os tracajás saem à noite paras as praias onde cavam e botam seus ovos, que são muito apreciados pelos nativos.

Os índios têm agricultura extensiva e itinerante cujo produto principal é a mandioca (Manhiot utilíssima), que fornece os nutrientes de fundamental importância para a preparação do beiju, o qual é o produto básico fornecedor de carboidratos da alimentação do índio do Alto Xingu. O cultivo da mandioca é realizado em roças individuais e o plantio é feito no período de tempo que antecede à chegada das chuvas. As áreas mais cobiçadas para a roça são as de terra preta, considerada mais férteis, e as de mato limpo, isto é, coberta de mata alta e sem vegetação rasteira. Para a abertura das roças os índios utilizam as técnicas de derrubada e da queimada. Trabalham na limpeza da terra os homens residentes de uma mesma casa. Seis meses após o plantio, as raízes estão prontas para ser arrancadas do solo, cujo procedimento é atribuição das mulheres. Para extrair as raízes as mulheres utilizam um pedaço de pau ou facão e a seguir carregam para as aldeias onde serão devidamente processadas (Figura 5).

Figura 5- Época da colheita da mandioca.

A pesca é a principal atividade de busca intencional de comida; ela ocorre durante todo o ano, porém, tem seu apogeu no período da seca, posto que na época das chuvas a tarefa se torna sobremaneira mais difícil. As técnicas utilizadas são as mais variadas, podendo ser coletivas com uso do timbó (veneno específico utilizado pelos índios), ou individuais com arco e flecha (Figura 6).

Figura 6- Cena típica da pesca com arco e flecha.

A partir da década de 1970, à medida que o contato com nossa civilização foi se estreitando foi introduzido o uso da linha e anzol, ainda que não frequentemente. A técnica do timbó é a mais produtiva, pois este é um cipó ictiotóxico, cujos feixes são amassados e lavados em água previamente represada. Os peixes mortos pela ação do veneno, são colhidos e moqueados em local próximo ao da pescaria. Esse tipo de pesca, que envolve a maioria dos homens da aldeia é usualmente utilizado às vésperas de alguma festa que terá a participação de um grande número de convidados (Figura 7).

Figura 7- Produto da pesca com timbó.

As pescas com timbó ocorrem no verão, quando as águas dos rios começam a baixar e dão lugar à formação de pequenas lagoas, facilitando o represamento de pequenas baías e igarapés, possibilitando assim, o uso do timbó. Nesse período de maior fartura de peixe é realizada a cerimônia mais importante da Cultura Xinguana, o Quarup.   

Quando a pescaria é farta, o alimento excedente, em forma de peixe moqueado, fico exposto no jirau, que está localizado no centro da oca, à disposição dos seus moradores. Por outro lado, quando o alimento escasseia, o que ocorre principalmente na época das chuvas, o peixe é ensopado e distribuído com beiju aos demais moradores da oca.   

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