quarta-feira, 4 de setembro de 2013

ONDANSETRONA no combate aos vômitos na Diarreia Aguda: uma nova indicação de um tradicional antiemético (1)



INTRODUÇÃO

                           
Diarreia aguda é uma das causas mais frequentes de doenças infecciosas na infância e é responsável por altas taxas de atendimentos em Serviços de Urgência e de internações hospitalares em crianças menores de 5 anos, em todo o globo terrestre. Para confirmar a assertiva anteriormente enunciada, reconhece-se que a diarreia aguda é a causa de mais de 1,5 milhão de consultas ambulatoriais anualmente nos EUA e, responsável por 13% de todas as internações hospitalares entre as crianças menores de 5 anos (1). Trata-se de uma enfermidade potencialmente autolimitada, porém, os riscos de desidratação e de morte causados pelas perdas hidro-eletrolíticas nas fezes e nos vômitos trazem grande preocupação médica e, portanto, devem ser tratadas com o devido rigor (2) (Figura 1).



Desde a década de 1970, a recomendação terapêutica prioritária inclui a utilização de soluções de rehidratação oral (SRO) para os casos de desidratação leve e moderada. Vale ressaltar que o sucesso da implantação da terapia de rehidratação oral (TRO), de abrangência universal, foi considerado pela Organização Mundial da Saúde como o maior avanço terapêutico do século XX (3) (Figura 2).



Entretanto, para que a TRO possa ser efetivamente utilizada é necessária a interrupção dos vômitos, os quais geralmente encontram-se associados ao processo diarreico. Apesar das normas de conduta, de uma maneira geral, contraindicarem o emprego de antieméticos, estes medicamentos são frequentemente utilizados nos tratamentos de emergência da diarreia aguda pelos profissionais da saúde (4). De fato, de acordo com pesquisas realizadas com médicos norte-americanos, cerca de 61% deles tendem a prescrever antieméticos durante a operacionalização da TRO caso entendam ser necessário este procedimento. Uma pesquisa compreendendo 593 médicos, das seguintes especialidades: Pediatria Geral, Medicina de Urgência e Pediatras de Medicina de Urgência também revelou que 72% deles que já haviam prescritos antieméticos como terapêutica para os vômitos na diarreia aguda, mostravam-se propensos a usá-los para prevenir um agravamento da desidratação, porém, a preocupação mais comum desses profissionais da saúde referia-se aos potenciais efeitos colaterais dos referidos antieméticos (5). Os antieméticos são usualmente prescritos na tentativa de diminuir a frequência dos vômitos e, assim, aumentar a eficácia da TRO. Entretanto, os potenciais benefícios dos antieméticos comumente prescritos (metoclopramida e dimenidrinato) devem sempre ser levados em comparação quanto aos seus possíveis efeitos adversos, tais como, letargia, irritabilidade, reações distônicas e sintomas extrapiramidais causados pelos antagonistas da dopamina, como é o caso da metoclopramida (6). Esses efeitos colaterais podem inviabilizar o sucesso da TRO e acarretar a necessidade da terapia de rehidratação intravenosa, o que aumenta os riscos para o paciente, prolonga o tempo de internação e eleva significativamente os custos do tratamento. Por outro lado, a disponibilidade de um antiemético com boa tolerabilidade, de uso pela via oral e desprovido de efeitos colaterais indesejáveis, pode ser um fator primordial para auxiliar no êxito da TRO. Elimina-se assim a necessidade da utilização da via intravenosa e consequentemente evita-se a internação hospitalar devido à desidratação. Neste sentido, a Academia Americana de Medicina de Urgência em Pediatria indicou a ONDANSETRONA como o antiemético de escolha para o tratamento dos vômitos durante um episódio de diarreia aguda (7) (Figura 3).






ONDANSETRONA

A emese é um processo complexo envolvendo várias regiões anatômicas, receptores e neurotransmissores. A estimulação destas regiões do vômito é mediada por neurotransmissores, tais como, serotonina, dopamina, opiáceos, colina e histamina, e o bloqueio desses receptores presume-se ser o mecanismo de ação dos antieméticos. Receptores da serotonina (subtipo 5-HT3) são encontrados em altas concentrações, tanto no sistema nervoso periférico como no central, especialmente na zona deflagradora do quimiorreceptor (ZDQ). Mais de 80% da serotonina 5-HT3 do organismo está contida nas células enterocromafins da mucosa gastrointestinal na área dos nervos vagais aferentes (8). Os vômitos na diarreia aguda surgem provavelmente como resultado de uma lesão da mucosa intestinal causada por um agente enteropatogênico, viral ou bacteriano, que deflagra a liberação de serotonina das células enterocromafins, as quais irão agir através de receptores sobre os nervos vagais aferentes. Estes nervos estimulam o centro do vômito e a ZDQ induzindo o surgimento dos vômitos. A ONDANSETRONA é um antagonista dos receptores da serotonina 5-HT3, desprovida de atividade antagonista da dopamina e, portanto, não causa sintomas extrapiramidais (9) (Figura 4).



Desde o seu lançamento para uso clínico em 1991, tem sido largamente recomendada para o tratamento e a prevenção de náuseas e vômitos (10). A posologia do uso da ONDANSETRONA deve ser de 0,2mg/kg de peso a cada 8 horas por meio de comprimidos de dissolução oral.

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