Manifestações
Clínicas
A manifestação clínica
mais intensa e exuberante é a diarréia sanguinolenta associada a cólicas, as
quais estão presentes em cerca de 90% dos pacientes. Geralmente os sintomas
apresentam-se de início insidioso instalando-se na imensa maioria dos casos nos
primeiros 6 meses de vida, mais particularmente ainda nos primeiros 3 meses. O
sangue costuma ser "vivo" misturado às fezes, e, em algumas
circunstâncias pode haver apenas sangramento retal em decorrência do processo
inflamatório que afeta a mucosa colônica, tratando-se, portanto, de uma lesão
interna. O sangramento costuma ser intermitente e de escassa quantidade;
somente em raras situações pode haver perda importante de sangue, acarretando
anemia aguda (20).
Em alguns casos,
especialmente quando o lactente está recebendo aleitamento natural o
sangramento pode não ser visível a "olho nú", e isto é o que se
denomina sangramento "oculto", o qual é detectado através de método
imunoenzimático em fezes recém eliminadas.
Regurgitação e vômitos
também podem estar presentes com frequência muito variável entre 20 e 100% dos
pacientes, o que pode ser um fator de interpretação equivocada da Doença do
Refluxo Gastroesofágico. A maioria dos pacientes apresenta uma constelação de
sintomas adicionais que inclui inquietação e irritabilidade, particularmente
logo após o início da mamada, o que pode levar a uma interpretação equivocada
de cólica do lactente; entretanto, o estudo anátomo-patológico da mucosa retal
revela aspectos claramente inflamatórios com acentuada infiltração
eosinofílica, que é característica da proctocolite alérgica (21).
Na maioria das vezes não
há uma clara percepção do agravo do crescimento pondero-estatural, porém, ao se
instituir o tratamento correto nota-se nitidamente a ocorrência de uma rápida
recuperação nutricional, com ganho pondero-estatural acelerado (Figuras 1 e 2).
Figura
1- Paciente no momento do diagnóstico da Colite
Alérgica.
Figura 2- O mesmo
paciente da Figura 1 após a recuperação clínica e nutricional.
Diagnóstico
A suspeita diagnóstica se
baseia no quadro clínico anteriormente descrito, sendo necessário afastar as
outras causas de colite já referidas. Particularmente na faixa etária dos
lactentes menores de 6 meses a maior preocupação é eliminar a possibilidade de
infecção por um dos microorganismos invasores da mucosa colônica, o que pode
ser constatado em primeiro lugar pelo aspecto clínico do paciente, posto que
este não deve apresentar sinais de toxemia, prostração e febre, e
definitivamente descartada pelo resultado da cultura de fezes que deve ser
negativo para crescimento de bactérias enteropatogênicas invasoras.
Até há pouco tempo não
havia um consenso internacional quanto à utilização de parâmetros clínicos
objetivos para se estabelecer o diagnóstico definitivo da Colite Alérgica, fato este que trazia grandes controvérsias diagnósticas.
Além disso, está bem definido que os testes cutâneos e/ou sorológicos não são
aplicáveis nesta afecção, pois, como se sabe, estes testes têm validade
diagnóstica somente quando está presente o mecanismo imunológico da
hipersensibilidade imediata (mediada pela IgE) o que não é o que se verifica
quando se trata de Colite Alérgica. Como
anteriormente mencionado, aqui entra em jogo o mecanismo imunológico da reação
antígeno-anticorpo em excesso de antígeno com fixação de complemento (conhecido
como reação de Arthus) resultando em uma vasculite, dai o sangramento quase
sempre visível.
Na intenção de contornar
esta dificuldade diagnóstica John Walker-Smith (22), pesquisador
inglês de reconhecido prestígio internacional, fez uma profunda revisão sobre o
tema e propôs, em 1995, os seguintes critérios para o diagnóstico de Colite Alérgica: 1- Clínica: presença
de sangramento retal e cólicas em lactente sem agravo nutricional de maior
intensidade; 2- Laboratorial: exclusão de causas infecciosas de colite; 3-
Procedimento: endoscopia e/ou biópsia retal com características típicas de
colite; 4- Prova terapêutica: desaparecimento dos sintomas após a eliminação do
suposto alergeno da dieta do lactente ou da dieta da mãe (no caso de
aleitamento natural); 5- Desencadeamento: não é necessário antes dos 9 a 12 meses de idade; 6-
Procedimento: realização ou não de nova biópsia retal para caracterizar
regressão das lesões na dependência do critério do médico assistente.
À colonoscopia a mucosa
colônica encontra-se hiperemiada, friável com sangramento espontâneo à passagem
do colonoscópio, podendo-se também observar pequenas ulcerações na mucosa
(Figuras 3 e 4).
Figura 3- Visualização
endoscópica das mucosas colônica e ileal evidenciando ulcerações macroscópicas,
sangramento espontâneo e ingurgitamento vascular.
Figure 4- Imagem
endoscópica da Colite Alérgica
evidenciando ulcerações macroscópicas e grande fragilidade da mucosa com
sangramento espontâneo.
À microscopia óptica
observa-se solução de continuidade do epitélio colônico, intenso aumento do
infiltrado linfo-plansmocitário e eosinofilico na lâmina própria, diminuição do
conteúdo de muco das glândulas crípticas e inclusive até mesmo a existência de
abscesso críptico (presença de polimorfonucleares no interior da glândula
críptica) (Figuras 5 e 6). Após a cura há completa regeneração da mucosa
colônica (Figura 7).
Figura 5- Microfotografia
de material de biópsia retal evidenciando lesões histopatológicas
características de Colite: solução de continuidade do epitélio colônico,
aumento acentuado do infiltrado linfo-plasmocitário na lâmina própria, com
presença aumentada de eosinófilos, glândulas crípticas com diminuição de
células produtoras de muco, e presença de abscesso críptico com infiltrado de
neutrófilos.
Figura 6- Material de
biópsia do reto de paciente portador de Colite
Alérgica evidenciando intensa infiltração eosinofílica no epitélio, lâmina
própria e nas glândulas crípticas.
Figura 7- Material de
biópsia do reto de paciente portador de Colite
Alérgica em fase de recuperação; houve regeneração do epitélio, infiltrado
linfo-plasmocitário na lâmina própria discreto e presença normal de muco nas
glândulas crípticas.
Referências Bibliográficas
20. Niggemann, B. e
cols., Pediatr Allergy Immunol 2001; 12: 78-82.
21. Sicherer, S. H. e cols., J Pediatr 1998; 133:
214-9.
22. Walker-Smith,
J. A., Clin Exp Allergy 1995; 25: 20-2.
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