quinta-feira, 9 de abril de 2009

Doença Celíaca: a história de uma enfermidade considerada rara até passado recente e que se transformou em um problema de saúde pública universal (1)

Conceituação

A Doença Celíaca (DC) é uma enfermidade autoimune em decorrência de uma intolerância permanente ao glúten da dieta contido no trigo, cevada e centeio. A DC apresenta uma característica extremamente peculiar em relação às outras enfermidades autoimunes, porque para que ela ocorra é necessário que exista a contribuição de um fator ambiental claramente identificável (o glúten) associado à presença, no paciente, de um Antígeno de Histocompatibilidade (HLA – human leukocytes antigen) dominante, DQ2 ou DQ8. Classicamente ela se apresenta com diarréia crônica e parada do ritmo de crescimento pondero-estatural nos primeiros anos da vida (Figuras 1-2-3 & 4), além de vômitos, distensão abdominal e até mesmo constipação.
 Figura 1- Gráfico de crescimento pondero-estatural da paciente portadora de Doença Celíaca por ocasião do diagnóstico.
Figura 2- Paciente portadora de Doença Celíaca por ocasião do diagnóstico evidenciando grande irritabilidade (uma das características típicas dos quadros floridos da enfermidade), distensão abdominal, hipotrofia da musculatura da raiz das coxas e edema tibial.

Figura 3- Paciente portadora de Doença Celíaca evidenciando hipotrofia da musculatura glútea e edema tibial por hipoproteinemia.

Figura 4- Paciente portadora de Doença Celíaca evidenciando grande irritabilidade, distensão abdominal, hipotrofia da musculatura glútea e edema tibial por hipoproteinemia.

O diagnóstico baseia-se nas alterações morfológicas da mucosa do intestino delgado, as quais embora não sejam patognomônicas, são altamente características, levando a graus variados de atrofia vilositária, infiltrado linfocitário intra-epitelial e hiperplasia das glândulas crípticas (Figura 5).
Figura 5- Material de biópsia de intestino delgado de paciente portador de Doença Celíaca evidenciando atrofia vilositária total, hiperplasia das glândulas crípticas e aumento dos linfócitos intra-epiteliais.



Vale ressaltar que os sintomas e as lesões morfológicas do intestino delgado são totalmente reversíveis com a introdução de uma dieta isenta de glúten (Figuras 6-7 & 8).

Figura 6- Gráfico de crescimento pondero-estatural da paciente após introdução da dieta isenta de glúten.

Figura 7- Paciente portadora de Doença Celíaca em franca recuperação clínica e nutricional após alguns meses de introdução da dieta isenta de glúten; é notório o ar de alegria e felicidade da criança.
Figura 8- Material de biópsia de intestino delgado de paciente portador de Doença Celíaca 6 meses após início de dieta isenta de glúten. As vilosidades intestinais encontram-se digitiformes, as glândulas crípitcas normais e o infiltrado linfo-plasmocitário da lâmina própria discreto.

É importante enfatizar que até alguns anos atrás a DC era considerada rara em determinadas regiões do mundo, inclusive no Brasil, sendo mais prevalente na Europa. Entretanto, mais recentemente, a partir da década de 1980, com a descoberta dos marcadores sorológicos, o rastreamento da DC pode ser inicialmente realizado utilizando-se estes testes, os quais apresentam elevadas taxas de sensibilidade e especificidade, tais como os anticorpos anti-endomíseo e o anticorpo anti-transglutaminase tecidual da classe IgA. Com o advento desses métodos rápidos de rastreamento sorológico ocorreu um significativo aumento no conhecimento da DC, o que possibilitou, por sua vez, também, que se estabelecesse o diagnóstico de DC em um número crescente de indivíduos, até então, aparentemente assintomáticos. Estes avanços diagnósticos possibilitaram tornar conhecidas inúmeras outras manifestações clínicas da DC, evidenciando outras variedades sintomáticas, e não mais aquelas apenas relacionadas com o trato digestivo. A DC tem sido descrita também associada com outras múltiplas enfermidades auto-imunes, como por exemplo, tireoidite autoimune e diabetes tipo I. Há também fortes evidências de uma ocorrência aumentada de DC em crianças portadoras de dermatite herpetiforme, defeitos no esmalte dentário, deficiência de IgA, síndrome de Down, síndrome de Turner e nos familiares de primeiro grau dos pacientes portadores de DC. Tomando-se por base inúmeros estudos realizados na Europa e nos Estados Unidos, a prevalência da DC entre as crianças de dois a quinze anos na população geral é de 3 a 13 para cada 1.000 crianças, ou aproximadamente 1:300 a 1:80 crianças.

No nosso próximo encontro continuaremos a discutir os aspectos mais interessantes dessa enfermidade que há pouco tempo passou a ser reconhecida como um problema de saúde pública universal.

2 comentários:

mariana disse...

ola tenbho uma filhinha que tem todas as caracteristicas de uma crinaça celiaca mas ela ja fez uma biopsia e o medico pediu para reavaliar as laminas e ate hoje ele passou um suplemento pediassure,sera que ela ten doença celiaca..tenho ftos dela

Professor Ulysses Fagundes-Neto disse...

Prezada Mariana

Favor entrar em contato comigo no meu e-mail:ulyneto@osite.com.br

Envie as fotos da sua filha neste e-mail.

Atenciosamente,

Ulysses