segunda-feira, 21 de julho de 2014

Minha História de vida e minha História vivida na EPM/UNIFESP (1)

Prof. Dr. Ulysses Fagundes Neto

“A Escola Paulista de Medicina foi a fértil semente que possibilitou o surgimento e a expansão da universidade...”

Prefácio

Quando criei este blog em outubro de 2008 tinha como objetivo divulgar os mais recentes conhecimentos da gastrenterologia e da nutrição na Pediatria, e assim tenho feito ao longo destes quase 6 anos de atividades. Entretanto, certas circunstâncias e oportunidades que surgiram de forma totalmente inesperada me levaram a desviar momentaneamente da minha rota original e, por isso, me dedicarei a descrever um pouco das minhas memórias. Isto se tornou possível graças ao fato de que recentemente travei conhecimento de uma longa entrevista concedida em abril de 2008 ao professor de História da UNIFESP, Dr. Dante Marcello Claramonte Gallian para ser inserida no livro por ele publicado em comemoração aos 75 anos da Escola Paulista de Medicina/UNIFESP, intitulado “75x75 – epm/unifesp, uma história, 75 vidas”. A seguir, baseado na referida entrevista passo a transcrever minhas memórias de forma revisada, ampliada e ilustrada com fotos.

Minha História de vida e minha História vivida na EPM/UNIFESP

1- As origens

Meu nome é Ulysses Fagundes Neto, nasci em São Paulo, em 16 de Setembro de 1944; naquela época a segunda guerra mundial, apesar de estar nos seus estertores, ainda estava ocorrendo em terras europeias. Meu pai, Ulysses Fagundes Filho, era advogado, mas como na sua juventude, enquanto estudante universitário, havia realizado o Curso Preparatório dos Oficiais da Reserva (CPOR), à época uma forma de cumprir a conscrição do exército brasileiro, tornou-se oficial da reserva. Por esta razão ele foi convocado e passou a servir uma guarnição do exército sediada em Pirassununga, para se preparar para uma possível ida para o front da guerra; consequentemente foi lá que eu vivi meu primeiro ano de vida (Figuras 1 e 2).


Figura 1- Meu pai e eu em Pirassununga

Figura 2- Minha mãe e eu em Pirassununga.

Porém, antes de seguirmos adiante e viajarmos para Pirassununga, vale a pena voltar um pouco no tempo, ao momento do meu nascimento. Na realidade nasci na Vila Mariana, na casa do meu avô paterno, bem em frente ao Instituto Biológico. Essa casa é muito, muito antiga, foi construída em 1927, pelos arquitetos italianos Rossi, eram 2 irmãos que trabalhavam no escritório do famoso engenheiro Ramos de Azevedo (Figura 3). 


Figura 3- A casa dos meus avós de 1927 antes de ser restaurada.

Esta casa sempre despertou em mim uma profunda relação afetiva com minhas raízes familiares paulistanas e ao longo da minha existência nela morei por cinco vezes, em diferentes épocas da minha vida. Esta ligação tem uma clara razão de ser, pois sempre fui muito apegado a esse avô paterno que se chamava Ulysses Bayerlein Fagundes. Mas como a Alemanha deflagrou a segunda guerra mundial e como ele não concordava com o nazismo retirou o sobrenome alemão, passou a assinar apenas Ulysses Fagundes. 


Minha última passagem pela casa foi a mais longa, pois voltei a ela em março de 1993, após ter realizado uma profunda reforma geral, bem como ter restaurado os afrescos das paredes dos cômodos internos. Todo este processo durou exatamente 1 ano, de março de 1992 a março de 1993 (Figuras 4-5 e 6). 




Figuras 4-5 e 6 - A casa dos meus avós após ser reformada.


Desta vez nela morei até setembro de 2008.

Meu avô Ulysses casou-se com minha avó, Juventina de Souza, ambos tiveram dois filhos, meu pai, Ulysses Fagundes Filho e minha tia, Yvonne de Souza Fagundes. Meu pai casou-se com minha mãe, Walkyria da Cunha Lobo, e tiveram 2 filhos, eu e minha irmã, Tânia. Minha tia que era mais velha casou-se com Américo Marco Antonio, e tiveram três filhos, Américo, Ruy e Cláudio. Todos nós 5 temos idades muito próximas, estou situado no meio, sou o terceiro e carrego o nome do meu avô, uma grande responsabilidade (Figura 7 e 8). 


Figura 7- Meus avós, meus primos, minha irmã e eu em férias em Santos.

Figura 8- Meus avós, meus primos, minha irmã e eu alguns anos mais tarde.

Meus avós tinham uma grande afeição pela família, por isso vivíamos praticamente no mesmo quarteirão aonde nós cinco fomos criados na Vila Mariana, era uma relação muito íntima.

Meu avô é de 1887, eu até brincava com ele dizendo que ele era tão antigo que havia nascido antes da abolição da escravatura, porém, era seguramente uma pessoa 50 anos à frente do seu tempo. Ele se formou médico em 1913, no Rio de Janeiro, pois naquela época ainda não havia nenhuma Faculdade de Medicina no estado de São Paulo (a Faculdade de Medicina da USP foi fundada em 1913). Devido a este antecedente, desde que nasci, ficou praticamente decidido que quando crescesse seria médico, juntamente com Ruy, o filho do meio da minha tia. Esta foi uma decisão familiar e como meu avô exercia uma grande influência, tinha um enorme carisma, era amado por todos, ninguém se contrapôs a essa ideia. Por esta razão, desde pequeno eu acompanhava meu avô em suas idas ao Hospital Matarazzo, ele sempre tinha alguns pacientes internados lá, tinha gosto pela atividade que exercia. Ele era uma figura muito popular, e como morávamos em frente ao Biológico, mesmo após ter se aposentado, ele atendia todos os funcionários que trabalhavam no Biológico quando necessitavam algum tipo de atenção, fosse médica ou mesmo conselhos para a vida. Lembro-me bem que o portão da rua da sua casa ficava sempre aberto, da mesma forma que a porta principal da entrada. Minha mãe era funcionária pública, formou-se em Contabilidade, e trabalhava no Biológico, portanto, tínhamos uma grande convivência com todo o pessoal que lá trabalhava, era só atravessar a rua. Naquele tempo o Biológico não era cercado por grades, passei praticamente minha infância lá dentro, pois conhecíamos todo mundo, era uma vida de total segurança até mesmo ingênua se comparada aos dias atuais.

Na minha infância também tentaram me fazer pianista, durante muito tempo estudei piano, mas não saía da escala, não tinha talento nenhum. Mas, para agradar a família ia religiosamente à aula, a professora morava perto de casa, ia lá, tocava a escala, realmente não tinha talento para isso, até que finalmente desisti de ser pianista. Também estudei inglês, esse com mais eficácia, meu pai, já nos idos de 1950, achava importante falar um outro idioma, tornei-me fluente o que muito me ajudou na vida profissional.

Na escola já era atraído por matérias ligadas à Medicina, afinal, já estava decidido que seria esse o meu caminho, a bem da verdade gostava e tinha vocação para tal. Creio que também foi uma transmissão de algum gene que me trouxe para essa atividade, tanto que fui muito bom aluno em Física, Biologia, Química Orgânica e Inorgânica, coisas que domino até hoje em minha atividade como médico. Não era bom aluno em Matemática, mas sim em Português.

7 comentários:

Tati Impéras disse...

Que linda história! Estava procurando o contato do consultório e descobri esse lindo relato, família e fotos lindas! Sou vizinha ali da Morgado e me emocionei, queria ter conhecido essa SP linda.
Obrigada!
Tatiana

Denise disse...

Olá Dr Ulisses! Meu nome é Denise. Minha mãe e eu estamos pesquisando a história de família, e descobrimos nesse seu maravilhoso relato que seu avô Ulisses era irmão do avô dela, Oscar. O Sr sabe se o seu bisavô se chamava Artur Marianno Fagundes? História e genealogia são fascinantes! Um forte abraço "primo"!

Professor Ulysses Fagundes-Neto disse...

Prezada Denise, boa tarde

Em primeiro lugar agradeço sua elogiosa menção ao meu trabalho. Quanto à nossa genealogia também tenho enorme interesse em decifrá-la mas não consegui ir além de meu bisavô Alfredo Mariano Fagundes. Até onde meu conhecimento alcança meu avô não tinha um irmão de nome Oscar, teve muitas irmãs que eu conheci algumas, outras morreram antes do meu nascimento, e um irmão caçula chamado Jacy. O nome Arthur Mariano Fagundes me soa familiar e pelas histórias que ouvi contar ele possivelmente deveria ser irmão do meu bisavô Alfredo. De qualquer forma agradeço seu contato e gostaria muito conhecê-la pessoalmente para continuarmos nesta busca extremamente interessante. Meu telefone é 99325-8600. Favor me ligar sem hesitar e venha tomar um café em meu consultório.

Forte abraço prima Denise,

Ulysses

Ivone Fagundes dos Santos disse...

Sou neta de Raimundo Bayerlein Fagundes, meu pai Edgard Fagundes. Penso que fui à tua casa, quando tinha uns 6 anos...com minha tia Dirce Fagundes oliveira, visitar tua mãe. Será que estou confundindo vc com teu pai? rrss Desculpe...não estou conseguindo concatenar as ideias de Tempo...rrss Tenho 66 anos. Meu nome vem de alguém que minha mãe conheceu na casa de minha avó Ambrosina Vieira, chamada Yvonne. Seria tua tia? Como o Tempo passa! Bom dia, Professor Ulysses !

Denise disse...

Primeiramente, perdão por não ter visto sua resposta tão gentil! Agradeço a atenção e o convite, que vou considerar com muito carinho! Um grande abraço!
Denise.

Edna Liepkan disse...

olá, Dr Ulisses,meu nome é Edna Fagundes Liepkan,mãe da Denise do comentário acima. Agora são os netos interessados na genealogia. Eu sei que nossos avôs eram irmãos Oscar e Ulisses,disso tenho certeza porque meu pai falava, tb da tia(dele) Jacy. Eles não tinham contato, tinham vidas muito diferentes...Infelizmente meu avô Oscar Baryrlein Fagundes, não era muito de falar sobre a familia, por isso quase nada sei.
Deus abençoe sua vida e trabalho.
Edna.

Professor Ulysses Fagundes-Neto disse...

Ivone, boa tarde, agradeço o envio da sua mensagem, é muito bom receber notícias de parentes que estão dispersos nesse mundo e que se apresentam. Quanto ao seu nome, de fato Yvonne Fagundes era minha tia, irmã de meu pai Ulysses Fagundes Filho, infelizmente ambos já falecidos. Você deve ter visitado a casa dos meus avós ou mesmo a minha casa pois sou 11 anos mais velho que você. Continuo à sua inteira disposição, inclusive para tomarmos um café aqui no meu consultório, basta me contatar por e-mail: ulyneto@osite.com.br.
Um forte abraço