segunda-feira, 17 de maio de 2021

A Vertiginosa Expansão da UNIFESP: 2003-08 (Parte 2)

 

Reitor: Ulysses Fagundes Neto


A UNIFESP para todos – Anteprojeto de Gestão Universitária 2003-2007

Nós nos preparamos muito para a administração da UNIFESP, tudo foi elaborado com bastante antecedência, pois quando me tornei candidato, logo de início saí em busca de orientação externa. Por coincidência, um dos primeiros conselheiros a se incorporar ao nosso grupo, era um amigo de longa data dos meus pais, o arquiteto João Carlos Bross. Eu o havia encontrado durante a realização de um evento sobre arquitetura hospitalar organizado pela arquiteta Lucina Diniz Guttilla, diretora do Departamento de Engenharia da UNIFESP, no qual ele estava participando, proferindo palestras. Eu não o via há muito tempo, ainda era adolescente quando do nosso último contato. Nesta ocasião, durante o evento, começamos a conversar, e, ele se entusiasmou muito com a história da minha candidatura à Reitoria, do projeto que pensávamos desenvolver. Passamos a ter reuniões frequentes, ele me dava livros de experiência de vida profissional para ler, eu os lia e depois discutíamos o conteúdo. Paralelamente a esta consultoria comecei a criar grupos de trabalho, inicialmente éramos apenas quatro pessoas, mas pouco a pouco mais gente foi sendo incorporada ao grupo inicial, até que chegamos a nos constituir em um verdadeiro batalhão de colaboradores interessados em oferecer seus melhores esforços e conhecimentos para a grandeza da nossa UNIFESP. O grupo, que inicialmente era de apenas quatro pessoas, foi progressivamente se ampliando para doze, depois para mais, até chegarmos a 160 pessoas, quando realizamos durante todo um fim de semana, em um hotel em Embu das Artes, uma grande oficina de trabalho, cujo resultado deu origem ao documento Anteprojeto de Gestão, que serviu de base para a minha administração. Vale enfatizar, que ainda que de forma incipiente, ali já estava abordada a questão da expansão da UNIFESP.

Durante a elaboração do anteprojeto de gestão nós tivemos discussões sobre a abertura de novos cursos. Entretanto, o fulcro da discussão era se continuaríamos a ser uma universidade no campo da saúde ou se criaríamos cursos em diversas áreas do conhecimento. Em um primeiro momento não se chegou a uma conclusão definitiva, mas esse embrião foi discutido, havia alguns que defendiam a criação de uma verdadeira universidade, a universalização dos conhecimentos, e, por outro lado, havia outros que diziam que deveríamos continuar apenas na área da saúde. Agora, a ideia da ampliação sempre existiu, desde o começo, mas no início não levamos muito a fundo essa questão, porque nós teríamos que convencer o MEC a ampliar nosso quadro de pessoal, para que outras faculdades pudessem ser criadas, e esta decisão fugiria ao nosso alcance.

 

 


A seguir estão expostas as diretrizes básicas que foram propostas e aprovadas pelo grupo de trabalho, e que nortearam minha gestão:



1)    O caráter de instituição pública, autônoma, que gera conhecimento, ensina e presta assistência à rede pública de saúde e sempre foi e deverá ser mantido.

2)    Uma instituição só alcança um patamar desejável de gestão funcional se houver uma constante aprendizagem por parte de seus componentes.

3)    Um estado forte é o que apresenta instituições públicas fortes na defesa da cidadania.

4)    A produção do conhecimento no seio da universidade pública, autônoma, cujo fim não é o lucro, mas sim a criação de ciência, visa diminuir o sofrimento humano, objetivando o desenvolvimento do pais e das condições de vida de sua população.

5)    Educação não deve ser vista como custo, mas sim como investimento da mais alta valia.

6)    A universidade, que é signatária de valores humanísticos perenes, não pode abandonar seus objetivos de longo prazo. 

7)    As universidades constituem-se em uma forma ímpar de organização devido à multiplicidade das suas missões e a ausência de uma única forma de autoridade absoluta.

8)    É essencial, nesse sentido, que as instituições que anunciam como principais valores o Conhecimento e o Ensino, promovam a formação continuada de seus docentes, o que representa a real valorização do profissional em Educação. 

9)    A universidade deverá estar apta e aberta às constantes mudanças, pronta para incorporar, sobretudo, as novas tecnologias de ensino e formação dos alunos.

10)              Sem dúvida alguma, a valorização das atividades técnico-administrativas e a preocupação com a qualidade de vida dos funcionários e servidores devem ser prioritárias na condução do processo. 

11)              Este anteprojeto de gestão apresenta uma proposta para inserir a UNIFESP/SPDM em um modelo organizacional cuja área técnico-administrativa alcance parâmetros adequados de profissionalismo.

12)              A convivência do estudante com a pesquisa da fronteira da ciência e a prática das ciências da saúde é absolutamente indispensável.

13)              O conceito da Universidade implica na geração de conhecimento, para o qual a pesquisa é o foco. Desta forma, entende-se que a Universidade será mais profícua quanto maior for o número de professores por aluno, o que revela suas atividades de pesquisa.

14)              Alcançar a sociedade é uma prática comum da UNIFESP, facilitada pelo desenvolvimento articulado de pesquisa básica e clínica, integrado à assistência à saúde.

15)              O gerenciamento de pesquisa é a condição essencial para que pesquisadores se relacionem com o ambiente externo à universidade.

16)              A questão da capacidade do sistema público em atender à população no nível da educação superior passa diretamente pela valorização do profissional docente-pesquisador.

17)              A construção de um instrumental capaz de mensurar e valorar as atividades docentes e sua produtividade científica de modo integrado é uma das funções primordiais da instituição.

18)              Esse tipo de atividade consubstancia a autonomia institucional. O crescimento do escopo de uma ação, efeito natural dos retornos positivos aos quais conduz, leve ao aumento da eficiência acadêmica.

19)              A educação continuada deve ser vista como o mais promissor e eficiente instrumento de manutenção do funcionário na instituição, seguida de perto pela aderência entre um gerenciamento da produção e instrumentos reais de motivação para o trabalho.

20)              Uma estrutura de acesso às informações é essencial, tanto para a implementação dos planos de gestão das atividades acadêmicas, quanto para a produção de conhecimento.

21)              Respeitar diferentes visões de mundo é o foco da liberdade acadêmica, e, ao mesmo tempo, é o que lhe permite ser autônoma.

22)              Há que se pensar até que ponto a expansão dos serviços de assistência deve ser levada, e qual seria seu papel para a UNIFESP.

23)              As atividades gerenciais dos hospitais devem ser profissionalizadas, viabilizando o apoio para a melhoria das responsabilidades funcionais na esfera organizacional.

24)               A implementação de um projeto de gestão deve objetivar, antes de tudo, que o processo seja gerado dentro da instituição, levando à maior integração de objetivos institucionais.

25)               A aprendizagem institucional para a gestão pode ser alcançada por dois caminhos: o primeiro envolve capacitação formal dos atores; o segundo é o resultado da implementação de um processo de Avaliação Institucional Integrada.

26)              Avaliação Institucional Integrada deve ser vista como instrumento de tomada de consciência, que revela o que somos para nós mesmos.

27)              Podemos estabelecer que os instrumentos de avaliação devem ser, de fato, instrumentos de valorização.

28)              A avaliação deve estar a serviço da reforma e construção do compromisso com a democracia, e não se revelar como instrumento de centralização, da homogeneização e do controle. 

29) A abordagem de gerenciamento de projetos necessita de uma amplitude profissional.

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