Prof. Dr. Ulysses Fagundes Neto
“A Escola Paulista de Medicina foi a fértil semente que possibilitou o surgimento e a expansão da universidade...”
2- Educação
e Formação
Como
minha mãe tinha uma profissão e trabalhava em tempo integral fui para a escola
muito cedo para aquela época, aos 3 anos de idade (Figura 1).
Estudei do jardim
de infância até o fim do primário no Liceu Pasteur, depois fui para o Colégio
Bandeirantes fazer os cursos ginasial e científico.
A
minha educação teve um misto de tradicional e muito popular, porque meu avô era
um humanista, desprovido de vaidades e preconceitos. Tenho comigo a tese dele de
conclusão de curso, foi apresentada em 1914, na qual ele faz uma dedicatória à
sociedade humanitária e ao humanismo (Figuras 2-3-4-5 e 6).
Todos nós fomos
criados com esse espírito, o humanismo, o que para mim sempre foi um grande valor
nas atitudes, nas relações pessoais e como princípio de vida.
Mas,
além dos valores humanísticos transmitidos por meu avô, minhas raízes com o
povo são decorrentes do futebol, porque o futebol sempre foi minha maior
paixão. Fui jogador de futebol desde muito pequeno, inicialmente no fundo do
quintal da nossa casa (Figura 7) e também na rua, porque naquela época, nos
idos dos 1950, ainda era possível brincar na rua, pois havia muito pouco
movimento de carros.
Figura 7- Nosso time de futebol no fundo do quintal da minha casa. Em pé da esquerda para a direita: Jairo, Ruy e William. Agachados da esquerda para a direita: Silvio, eu, Claúdio e Tânia como nosso cachorro Totó.
Além disso, organizamos também um time aqui da nossa
vizinhança e íamos jogar no Parque Ibirapuera, pois naqueles tempos existiam
inúmeros campos de várzea na área onde hoje se situa o clube Círculo Militar.
Marcávamos encontros com meninos de outras vizinhanças e para lá íamos
geralmente nos fins de tarde, na volta do colégio, disputar umas peladas, era
muito divertido, mas às vezes os jogos terminavam em pancadaria, porém, sem
maiores consequências, pois havia sempre os apaziguadores, a turma do “deixa
disso”. Enfim, esta infância foi muito semelhante a aquela que o famoso
escritor uruguaio Eduardo Galeano, reconhecido internacionalmente, entre
outros, pelo livro “Las venas abiertas de Latino América”, também um apaixonado
pelo futebol, descreve no prefácio de um dos seus livros. Enquanto estava
sentado em seu escritório escrevendo, em quase todos os fins dos dias,
costumava escutar uma espécie de canto vindo da rua entoado por um grupo de
meninos que vinham de uma partida de futebol e assim diziam em coro:”ganamos,
perdímos, igual nos divertímos”.
Na
verdade, meu primeiro professor de futebol foi meu avô materno, Valdomiro da
Cunha Lobo, o vô Lobo, o homem mais bravo que conheci em toda minha vida, porém
com os netos sempre foi muito carinhoso, era muito grande e forte (Figura 8), foi
ele quem me ensinou a jogar desde pequeno.
Figura 8- Vô Lobo comigo no colo ainda nene.
Ele tinha uma chácara no caminho de Guarapiranga,
em frente à sua chácara havia um campo de futebol, foi lá que aprendi a fazer o
que mais gostava na vida, jogar bola. Ficávamos horas treinando chutes a gol,
ele insistia que tinha que ser com os dois pés, do jeito que a bola vinha,
também me ensinava fundamentos, como controlar a bola, o domínio e o passe.
Ele
havia sido um grande jogador de futebol, ele era de Santo Amaro, vô Lobo era considerado
o melhor “center
half” de Santo Amaro de todos os tempos. Aliás toda a família da minha mãe também era
tradicional em Santo Amaro, na época Santo Amaro era praticamente um município
com vida própria tipicamente do interior, os santamarenses eram conhecidos como
os “botina amarela”.
O
meu primeiro time oficial foi o juvenil do Banespa, onde verdadeiramente comecei
minha carreira de jogador de futebol (Figura 9).
Figura 9- Time juvenil do Banespa em 1960, sou o número 10.
Como meus pais haviam se
conhecido no Banespa e continuaram a frequentar o clube regularmente depois de
casados (Figura 10), desde criança eu os acompanhava e assim fui ensinado a também
frequentar o clube.
Figura 10- Meus pais no Banespa comigo no colo da minha mãe.
Desta forma, na adolescência minha vida social e esportiva
passou a ser no clube. Voltava da escola, almoçava e tomava o bonde que passava
em frente ao Biológico, ia para o Banespa e por lá ficava treinando futebol e
voleibol até tarde da noite; quando os treinos terminavam tomava o bonde de volta
para casa.
Esta
minha passagem pelo time juvenil do Banespa foi muito rápida, pois como eu
havia me destacado bastante como centro-avante, fazia muitos gols, quando tinha
17 anos, fui convidado a jogar no time principal do Banespa, e logo na minha
estreia fiz cinco gols. A partir deste dia passei definitivamente a fazer parte
do time principal que jogava aos domingos pela manhã. Naquela ocasião como o
clube Banespa pertencia ao Banco do Estado de São Paulo todos os funcionários
do banco eram automaticamente sócios do clube e como muitos ex-jogadores de
futebol tornavam-se funcionários do banco, o time principal do Banespa era
recheado de grandes ex-jogadores. Por esta razão tive a oportunidade de
conviver, jogar e aprender com estes profissionais que tanto haviam se
destacado nos principais times da nossa cidade, tais como, Canhoteiro, Maurinho
e Turcão (São Paulo), Homero (Corinthians), Pinga (Portuguesa) etc. Um outro
jogador tão jovem quanto eu também surgiu nesta época, com ele joguei um bom
tempo, até que ele se profissionalizou e inclusive veio a se tornar campeão do
mundo em 1970 no México, tratava-se nada menos que nosso extraordinário craque
Rivellino (Figura 11).
Figura 11- Um dos times em que joguei juntamente com Rivellino. Estou no centro da foto agachado entre os irmãos Rivellino, Abílio à esqueda e Roberto à direita.
Este meu sucesso no time principal do Banespa me levou a
ser convidado a jogar no São Paulo, mas meu pai fez um complô; ele não permitiu
que eu me tornasse profissional. Tudo porque ele não queria que eu fosse
jogador de futebol, queria que a minha atividade futebolística fosse apenas em
nível amador, meu destino já estava traçado desde o nascimento, tinha que ser
médico. Lá em Santo Amaro joguei num time de futebol que disputou a terceira
divisão, a segunda divisão, ganhamos as duas, porém quando chegamos à primeira
divisão, em virtude dos estudos, não pude continuar jogando.
Também
joguei, já como estudante de medicina, por uma fábrica em Mauá, ganhava uns
trocados para o fim–de–semana; joguei na várzea, em vários lugares, o futebol
foi minha vida. A prática do futebol não atrapalhava os estudos, gostava tanto
de jogar que na verdade o estudo atrapalhava o futebol. Algumas vezes era
obrigado a estudar mais do que queria. Aliás o esporte sempre foi parte
importante na nossa família. Meu avô paterno foi campeão carioca pelo América,
em 1911, quando morava no Rio de Janeiro estudando medicina. Meu pai, embora não
tivesse sido um grande campeão era poliatleta. Minha mãe foi uma extraordinária
tenista, chegou a ser campeã brasileira no início da década de 1940. Nossa casa
era repleta de taças que ela havia vencido ao longo de sua carreira. Minha irmã
também gostava muito de esportes, jogava vôlei e foi até campeã pan–americana
em 1963, aqui em São Paulo. Sempre joguei vôlei, futebol de salão e futebol; lá
no Banespa tínhamos o time de futebol, que disputava o campeonato bancário, o
time de futebol de salão juvenil jogava o campeonato paulista, fomos campeões
paulistas (Figura 12), e também o time de vôlei.
Figura12- Time de futebol de salão do Banespa, campeão paulista juvenil de 1961. Em pé da esquerda para a direita: Eu, Eduardo e José Carlos. Agachados: Pereira e Rosenval.
Fui duas vezes para a seleção
paulista de vôlei (Figura 13), na universidade fui campeão brasileiro
universitário de vôlei, pela Federação Universitária Paulista de Esportes
(FUPE).
Figura 13- Time da seleção paulista juvenil de voleibol que disputou o campeonato brasileiro de 1962. Estou em pé com a bola na mão.
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