Prevalência da deficiência de Lactase
A prevalência da deficiência de Lactase
varia de acordo com os grupos étnicos e está relacionada com a utilização de
produtos lácteos na dieta, e/ou como resultado da seleção genética de
indivíduos com a capacidade de digerir a Lactose.
Estudos epidemiológicos mostram
que as populações que nos seus primórdios dependiam da pecuária muito mais do
que da agricultura, eram grandes consumidoras de leite e laticínios em geral, e
por isso apresentavam menor prevalência de intolerância à Lactose em relação àquelas
que dependiam mais da agricultura para sobreviver.
No geral, a
prevalência da hipolactasia primária do adulto varia no mundo, como demonstra a
Tabela 1. Observa-se em torno de 5% na Grã-Bretanha e no nordeste da Europa,
próximo ao mar do Norte, 4% na Dinamarca, na Suécia varia de 1 a 7%,
e aumenta significativamente na direção do centro-sul da Europa, chegando
próximo aos 100% na Ásia e Oriente Médio.
Segundo Siddiqui, dentre os grupos étnicos com deficiência de Lactase podemos destacar uma prevalência
de 80% a 100% de populações nativas americanas, 60% a 80% de judeus Ashkenazi e
populações africanas da América, 50% a 80% das populações hispânicas e em torno
de 70% das populações do sul do subcontinente indiano. Ainda ressalta que entre
6% a 22% da população branca da América sofrem de deficiência primária de
Lactase.
A população brasileira se caracteriza
essencialmente pelo elevado grau de miscigenação, portanto, em sua composição
incluem-se inúmeras etnias com potencial tendência de apresentação de
deficiência da Lactase ontogeneticamente determinada, e dentre elas podemos
destacar os negros, índios, asiáticos em geral, judeus, europeus e latinos.
Tipos de
intolerância à Lactose
A literatura é
vasta em conceitos para caracterizar cada um dos termos que abaixo serão
referidos e muitas vezes podem trazer confusões diagnósticas e interpretações
equivocadas de cada uma dessas denominações.
São descritas como
intolerâncias alimentares quaisquer respostas adversas a um aditivo ou
alimento, sem que necessariamente ocorram mediações imunológicas. Estas podem
ser ativadas por ação de toxinas produzidas por bactérias, fungos, agentes
farmacológicos ou erros metabólicos por deficiência enzimática. Dentre as
intolerâncias alimentares se destaca a intolerância à Lactose, por ser
frequentemente encontrada na prática médica. Segue abaixo a descrição
detalhada, segundo Melvin e Heyman, dos diferentes tipos de má absorção à
Lactose e/ou intolerância à Lactose:
Má absorção: é um problema
fisiopatológico que pode se manifestar ou não como intolerância à Lactose e
deve-se a um desequilíbrio entre a quantidade de Lactose ingerida e a
capacidade disponível da Lactase para hidrolisar o substrato (reação enzima x
substrato).
Gasparin e cols., em 2010, realizaram
um estudo no Brasil demonstrando que mais de 27 milhões de habitantes
apresentam má absorção à Lactose, sendo que esta ocorreu principalmente por
determinação genética.
Vale ainda ressaltar que a má digestão
e/ou absorção à Lactose não resultam, necessariamente, em intolerância à
Lactose.
Intolerância: é uma síndrome
clínica caracterizada por um ou mais dos seguintes sintomas: dor abdominal,
diarréia, náusea, flatulência e/ou distensão abdominal após a ingestão de leite
e/ou de alguma substância contendo Lactose. A quantidade de Lactose que poderá
causar qualquer sintomatologia varia de indivíduo para indivíduo, dependendo da
quantidade ingerida, do grau de deficiência de Lactase, e também, da forma da
substância na qual a Lactose está presente.
Duas patologias
ligadas ao consumo de leite e derivados são extremamente confundidas no momento
do diagnóstico e do tratamento nutricional, podendo influenciar diretamente no
estado nutricional e prognóstico do paciente. Por isso, é extremamente importante
diferenciar a alergia à proteína do leite de vaca (APLV) da intolerância à
Lactose; vale ressaltar que a alergia alimentar é mediada pelo sistema
imunológico, desencadeando mecanismos de ação contra o antígeno causador,
gerando sinais e sintomas após a ingestão do alimento, os quais podem, em
certas circunstâncias, serem idênticos aos da intolerância à Lactose. Tais
diferenças são abreviadamente descritas na Tabela 2, segundo Tumas
e Cardoso.
Deficiência
primária de Lactase: é caracterizada pela ausência
relativa ou absoluta da Lactase, a qual inicia sua ocorrência em idade
variáveis, em geral a partir do 5º ano de vida, em distintos grupos étnicos e é
a causa mais comum de má absorção e intolerância à Lactose. A deficiência
primária de Lactase é também denominada Hipolactasia do tipo adulto
ou ontogeneticamente determinada.
Embora a deficiência primária de
Lactase possa se apresentar de uma maneira relativamente aguda sob a forma de
intolerância ao leite, sua instalação é tipicamente sutil ao longo dos anos,
surgindo no final da adolescência ou, mais tarde, na vida adulta. A maioria dos
indivíduos adultos permanece com apenas 10% da capacidade de produção da
Lactase em relação aos níveis observados durante o período de lactente. É
interessante mencionar que mesmo aqueles indivíduos com intolerância à Lactose
na vida adulta são capazes de tolerar um copo de leite, entretanto, quando eles
ingerem uma quantidade adicional de leite os sintomas de intolerância podem se
manifestar. Portanto, pode-se depreender que a deficiência primária de Lactase
é uma condição natural na vida adulta, e, conseqüentemente, muitos indivíduos
apresentarão sintomas de intolerância à Lactose se consumirem leite,
especialmente em grandes quantidades.
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