Ana Beatriz Rocha Gabriel & Ulysses Fagundes Neto
Tratamento
Até
o presente momento não existe ainda um consenso sobre o tratamento ideal para
pacientes com EEo. Considerando que a maioria das publicações são constituídas
por séries de casos, ainda se tornam necessários ensaios clínicos controlados
randomizados para que se possa alcançar uma padronização terapêutica de
aceitação universal.
Uma
revisão da Fundação Cochrane publicada em 2004 a respeito do tratamento não
cirúrgico da EE, não identificou nenhum estudo randomizado e controlado. Por
esta razão os autores não puderam concluir sobre os benefícios ou riscos das
diferentes propostas de tratamento praticadas nos mais diversos centros.
Vários
aspectos merecem consideração no momento de se decidir qual a melhor opção para
cada paciente, a saber: idade, impacto dos sintomas na qualidade de vida,
comorbidades, efeitos adversos e custos financeiros. Dessa forma, o tratamento
deve ser individualizado e os pacientes devem ser preferencialmente tratados no
seu contexto clínico. Os esquemas de tratamento existentes baseiam-se na
utilização de um esquema ou na associação de diferentes opções terapêuticas
envolvendo os seguintes fatores: inibidores da bomba de proton, dietas de
eliminação, dietas elementares à base de mistura de aminoácidos,
corticosteróides tópicos e/ou sistêmicos e dilatação esofágica.
Inibidores
da Bomba de Prótons (IBP)
Estes
fármacos estão rotineiramente indicados nos portadores de EEo que apresentam
sintomas de DRGE, pois o ácido pode ser o gatilho para a EEo, visto que tem
potencial de aumentar a lesão do esôfago já inflamado. Provavelmente a EEo é
complicada ou potencializada pela presença de RGE concomitante pois o
infiltrado eosinofílico pode levar à dismotilidade esofágica. Os IBP não são
capazes de reverter a alteração histológica esofágica, porém, existem 2 fundamentos
para o uso dos mesmos:
1- Faz
parte do diagnóstico de EEo (fracasso no tratamento da suposta DRGE).
2- Alguns
pacientes com diagnóstico bem estabelecido de EEo, desenvolvem sintomas de RGE
durante o curso da doença e, portanto, respondem ao tratamento.
Dieta
de Eliminação de Antígenos Alimentares
Markowitz
et al. estudaram 51 pacientes com EEo submetidos a uma dieta elementar, sendo
que à exceção de dois, todos os pacientes apresentaram alívio significativo dos
sintomas, em média 8,5 dias após o início da terapêutica, com regressão também
do aspecto histológico. Entretanto, torna-se muito difícil propor a
universalização deste tipo de dieta devido a sua baixa aceitação pela má
palatabilidade e pelo elevado custo do tratamento a longo prazo.
Corticoterapia
tópica
O
corticosteroide tem ação em diversas doenças alérgicas. A ação na eosinofilia
deve-se à apoptose, diminuição da quimiotaxia e inibição de mediadores
proinflamatórios.
A
eficácia da corticoterapia tópica para alcançar a indução da remissão na EEo tem
sido comprovada tanto em adultos quanto em crianças.
Konicoff
et al. realizaram o primeiro estudo multicêntrico, prospectivo controlado por
placebo para determinar a eficácia da fluticasona. Foram selecionados 36
pacientes, sendo que 21 receberam 880mcg de fluticasona spray e 15 receberam
placebo. Os pacientes do grupo de estudo apresentou remissão histológica em 50%
dos casos contra apenas 9% do grupo placebo. Foi observada diminuição dos
linfócitos TCD8 e mastócitos no esôfago.
Os
autores utilizaram 2 a 4 jatos de 220mcg/puff/dia durante 4 a 12 semanas. Foram
administrados jatos na orofaringe, sem espaçador, e o fármaco foi deglutido
para prover ação tópica na mucosa esofágica. Após a deglutição o paciente não ingeriu
bebidas ou alimentos por pelo menos 30 minutos para permitir que a medicação se
espalhasse pelo esôfago. O único risco de efeito colateral é o surgimento de
candidíase esofágica.
Um
guia de conduta internacional para o tratamento da EEo foi proposto por
Papadopoulou et al., em 2014, no qual, baseando-se nas evidências clínicas até
o presente conhecidas, recomenda-se o uso da Budesonida em uma solução viscosa
(uma papa com sucralose) à dose de 1 mg ao dia para crianças menores de 10 anos
e de 2 mg ao dia para crianças maiores, divididas em 2 tomadas ao dia.
Corticoterapia
Sistêmica
Liacouras
et al. (1998) demonstraram que o uso de corticoterapia sistêmica promoveu alívio
clínico e remissão histológica em 4 semanas em 20/21 crianças, utilizando Prednisona
à dose de 1-2mg/kg/dia, com dose máxima de 60mg/dia, por um período de 4
semanas (com redução posterior da dose).
As
principais indicações para o uso da corticoterapia sistêmica são: casos
refratários à corticoterapia tópica, exacerbações agudas (disfagia, perda de
peso significativa, estenose esofágica) e os casos considerados mais graves.
Limitação:
efeitos colaterais e recidiva dos sintomas após suspensão da medicação.
Outros
Fármacos
Montelucast:
Atwood
e cols. estudaram 8 pacientes com EEo que receberam antagonista de receptor de
leucotrieno; 7 pacientes apresentaram alívio completo dos sintomas (1 paciente
teve melhora parcial). Esta medicação induz alívio dos sintomas, porém seu uso
não mostrou efeito benéfico sobre a redução da eosinofilia.
Mepolizumabe:
Trata-se
do anticorpo monoclonal anti-IL5 que possui o efeito de diminuir a eosinofilia
periférica e esofágica, portanto, pode-se tornar um potencial tratamento
promissor na EEo. O anti IL-5 tem como alvo os receptores moleculares
relacionados à produção, migração e ativação dos eosinófilos, e a consequente
diminuição da inflamação do tecido esofágico. Este tipo de tratamento,
entretanto, ainda requer maiores estudos e não tem sido recomendado para uso
rotineiro até o presente momento.
Dilatação
Esofágica
A estenose
esofágica é uma complicação grave da EEo, porém sua incidência não está bem
estabelecida. A dilatação esofágica está indicada para os pacientes com
sintomas secundários à estenose. Devido aos riscos do procedimento, tais como
perfuração e laceração, deve-se avaliar a possibilidade de outras modalidades
de tratamento antes da dilatação, bem como a realização de exames que auxiliem
o endoscopista na avaliação do calibre da estenose, escolha do aparelho,
tamanho da vela de dilatação, entre outros fatores. Quando ocorre estenose
esofágica, a dilatação esofágica com balão ou com velas é uma prática bem estabelecida.
É um procedimento que necessita muita precaução, devido a friabilidade da
mucosa na EEo, podendo resultar em lacerações ou perfurações do esôfago.
Prognóstico
Há
pacientes que apresentam alívio completo ou parcial dos sintomas, porém
persistem com eosinofilia esofágica. O objetivo do tratamento da EEo ainda
continua incerto (melhora clínica x melhora histológica). Não há marcadores bem
estabelecidos para predizer quais são os pacientes com maior risco, embora
aqueles que já desenvolveram anormalidades morfológicas, como estenoses são
considerados de maior risco. As maiores complicações da EE são a remodelação e
o estreitamento esofágico.
Considerações
Finais
Nos dias atuais os cuidados dos
pacientes com EEo permanecem um grande quebra-cabeças, que aguardam urgentes repostas
a inúmeras indagações:
Qual
o melhor parâmetro para avaliar o tratamento: melhora clínica, histológica ou
ambos?
Qual
o melhor método para identificar alergia alimentar ou aeroalérgenos?
Qual
o grau de eosinofilia associado a DRGE?
Qual
é ou quais são as etiologias e patogenias da EEo?
Qual
a melhor estratégia para avaliar a evolução e o seguimento dos pacientes com EEo?
As estratégias para monitoramento da
doença ainda não estão estabelecidas.
Embora
o tempo de acompanhamento dos pacientes até o presente momento tenha sido curto,
sabe-se que a EEo não está associada ao desenvolvimento de malignidade.
Alguns
especialistas sugerem endoscopias periódicas, independentemente dos sintomas,
enquanto outros sugerem endoscopias dirigidas principalmente se houver mudança
dos sintomas.
Caso
seja necessário repetir a endoscopia com biópsia, esta deve ser realizada não
antes de 4 semanas após a intervenção terapêutica anterior. Em pacientes
assintomáticos com eosinofilia persistente, pode-se repetir a endoscopia após
instituição do tratamento adicional. Para aqueles nos quais o tratamento
adicional é adiado, sugere-se repetir a endoscopia em 2-3 anos, para avaliar a
progressão da doença.
Nos
últimos anos, tem-se notado que há pelo menos três bons motivos para se tratar
a EEo, a saber:
1)
melhoria da qualidade de vida quando a disfagia é tratada.
2)
redução do grave risco de ferimento do esôfago, evitando impactações
alimentares de longa duração.
3)
prevenção de danos irreversíveis do órgão por interromper a remodelação do
tecido.
Conclusão
A
prevalência de esofagite eosinofílica está aumentando muito rapidamente nas crianças
no mundo ocidental, conjuntamente com o aumento geral das doenças atópicas.
O
aumento da prevalência é acompanhado por aumento na gravidade da doença sendo
que as razões para estes aumentos não são claras.
É
importante para o diagnóstico da EEo, as características histológicas, pois,
muitas vezes a macroscopia revela-se normal.
Mais
estudos são necessários para definir critérios diagnósticos mais precisos e
definir sua patogênese, de modo que as estratégias adequadas para o
reconhecimento e conduta na EEo possam ser concebidas dentro de um consenso
universal.
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