um problema de saúde pública universal (1)
Definição
Definição
A Doença Celíaca (DC) é
uma enfermidade autoimune em decorrência de uma intolerância permanente ao
glúten da dieta contido no trigo, cevada e centeio. A DC apresenta uma
característica extremamente peculiar em relação às outras enfermidades
autoimunes, porque para que ela ocorra é necessário que exista a contribuição
de um fator ambiental claramente identificável (o glúten) associado à presença,
no paciente, de um Antígeno de Histocompatibilidade (HLA – human leukocytes
antigen) dominante, DQ2 ou DQ8. Classicamente ela se apresenta com diarréia
crônica e parada do ritmo de crescimento pondero-estatural nos primeiros anos
da vida (Figuras 1-2-3 & 4), além de vômitos e distensão abdominal.
Figura 1- Gráfico de crescimento
pondero-estatural da paciente portadora de Doença Celíaca por ocasião do
diagnóstico.
Figura 2- Paciente
portadora de Doença Celíaca por ocasião do diagnóstico evidenciando grande
irritabilidade (uma das características típicas dos quadros floridos da
enfermidade), distensão abdominal, hipotrofia da musculatura da raiz das coxas
e edema tibial.
Figura 3- Paciente
portadora de Doença Celíaca evidenciando hipotrofia da musculatura glútea e
edema tibial por hipoproteinemia.
Figura
4- Paciente portadora de Doença Celíaca evidenciando grande irritabilidade,
distensão abdominal, hipotrofia da musculatura glútea e edema tibial por
hipoproteinemia.
O diagnóstico baseia-se
nas alterações morfológicas da mucosa do intestino delgado, as quais embora não
sejam patognomônicas, são altamente características, levando a graus variados
de atrofia vilositária, infiltrado linfocitário intra-epitelial e hiperplasia
das glândulas crípticas (Figura 5).
Figura 5- Material de
biópsia de intestino delgado de paciente portador de Doença Celíaca
evidenciando atrofia vilositária total, hiperplasia das glândulas crípticas e
aumento dos linfócitos intra-epiteliais.
Vale ressaltar que os
sintomas e as lesões morfológicas do intestino delgado são totalmente
reversíveis com a introdução de uma dieta isenta de glúten (Figuras 6-7 &
8).
Figura 6- Gráfico de
crescimento pondero-estatural da paciente após introdução da dieta isenta de
glúten.
Figura 7- Paciente
portadora de Doença Celíaca em franca recuperação clínica e nutricional após
alguns meses de introdução da dieta isenta de glúten; é notório o ar de alegria
e felicidade da criança.
Figura 8- Material de
biópsia de intestino delgado de paciente portador de Doença Celíaca 6 meses
após início de dieta isenta de glúten. As vilosidades intestinais encontram-se
digitiformes, as glândulas crípitcas normais e o infiltrado linfo-plasmocitário
da lâmina própria discreto.
É importante enfatizar que
até há alguns anos a DC era considerada rara em determinadas regiões do mundo,
inclusive no Brasil, sendo potencialmente mais prevalente na Europa.
Entretanto, mais recentemente, a partir da década de 1980, com a descoberta dos
marcadores sorológicos, o rastreamento da DC pode ser inicialmente realizado
utilizando-se estes testes, os quais apresentam elevadas taxas de sensibilidade
e especificidade, tais como os anticorpos anti-endomíseo e o anticorpo
anti-transglutaminase tecidual da classe IgA. Com o advento desses métodos
rápidos de rastreamento sorológico ocorreu um significativo aumento no
conhecimento da DC, o que possibilitou, por sua vez, também, que se
estabelecesse o diagnóstico de DC em um número crescente de indivíduos, até
então, aparentemente assintomáticos. Estes avanços diagnósticos possibilitaram
tornar conhecidas inúmeras outras manifestações clínicas da DC, evidenciando outras
variedades sintomáticas, e não mais aquelas apenas relacionadas com o trato
digestivo. A DC tem sido descrita também associada com outras múltiplas
enfermidades auto-imunes, como por exemplo, tireoidite autoimune e diabetes
tipo I. Há também fortes evidências de uma ocorrência aumentada de DC em
crianças portadoras de dermatite herpetiforme, defeitos no esmalte dentário,
deficiência de IgA, síndrome de Down, síndrome de Turner e nos familiares de
primeiro grau dos pacientes portadores de DC. Uma série de estudos tem
demonstrado que a prevalência da DC pode estar presente também entre 5 a 13%
dos irmãos dos pacientes. Tomando-se por base inúmeros estudos realizados na
Europa e nos Estados Unidos, a prevalência da DC entre as crianças de dois a
quinze anos na população geral é de 3
a 13 para cada 1.000 crianças, ou aproximadamente 1:300
a 1:80 crianças. No Brasil, contrariamente às previsões do passado a DC, à
semelhança dos países da Europa e dos Estados Unidos, sua prevalência, embora
com variação na dependência geográfica dos estudos realizados, também se
configura com níveis compatíveis a um problema de saúde pública que deve ser
altamente valorizado (Quadros
1 e 2).
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