quarta-feira, 2 de maio de 2018

Pseudo obstrução intestinal crônica (Parte 2)

Isabela Mazzei e Ulysses Fagundes Neto

A realização do estudo do trânsito intestinal permite visualizar alças intestinais dilatadas e lentidão na progressão do contraste (Figura 2).

Trânsito intestinal

Figura 2- Trânsito intestinal demonstrando alças do intestino delgado dilatadas na ausência de estenose e lentidão na progressão do contraste em um caso de POIC.

Vícios de rotação do intestino delgado principalmente em menores de 1 ano também podem ser caracterizados pelo estudo do trânsito intestinal.

Tomografia: este tipo de investigação de imagem também pode auxiliar na caracterização da POIC (Figura 3).


Figura 3- Imagem tomográfica das alças intestinais extremamente dilatadas. Ao lado fragmento de intestino delgado de aspecto hipotônico e dilatado, obtido por biópsia cirúrgica, de um paciente portador de POIC.

Diagnóstico histológico:  pode ser realizado por meio da biópsia profunda do intestino delgado e do cólon em microscopia óptica comum. O estudo pode ser complementado com a técnica da imuno-histoquímica e do estudo ultraestrutural que permite distinguir as formas miopáticas das neuropáticas. Deve-se também buscar possíveis anormalidades nas células intersticiais de Cajal.

Outros testes diagnósticos: há alguns outros testes diagnósticos que podem auxiliar no complemento da avaliação laboratorial da POIC, a saber:
  Eletrogastrografia – demonstra ausência de frequência dominante, permitindo diferenciar as formas miopáticas das neuropáticas.
  Manometria antroduodenal – diferentes amplitudes diferenciam as formas neuropáticas e miopáticas.




Este trabalho retrospectivo buscou avaliar a eficácia da manometria esofágica, antroduodenal e anorretal associada à cintilografia do esvaziamento gástrico.
A manometria esofágica revelou-se alterada em 73% dos casos sendo que 51% deles apresentaram-se com comprometimento grave que se relacionou com a necessidade da indicação da nutrição parenteral. Por outro lado, a manometria anorretal mostrou-se alterada em 59% dos casos e somente em 17% deles foram detectadas alterações graves.

Tratamento
O tratamento da POIC requer a formação de uma equipe multidisciplinar envolvendo diferentes profissionais da área da saúde, tais como, gastropediatra, cirurgião pediátrico, nutricionista, enfermeira e psicólogo entre outros.

Terapia nutricional
O tratamento da condição nutricional torna-se prioritário, posto que a imensa maioria dos pacientes apresenta grave comprometimento do seu estado nutricional.

Aqueles pacientes que possuem alguma motilidade intestinal podem se beneficiar de refeições líquidas contendo pequenos volumes. É praticamente necessária a utilização de suplementos nutricionais e, muitas vezes, a Nutrição Enteral pode ser tentada nos pacientes com acometimento do estômago e duodeno, pois este procedimento oferece menor número de complicações em relação à nutrição parenteral.

A Nutrição Parenteral está indicada quando o acometimento do trato digestivo é mais extenso, mesmo tendo em mente que o risco de um grande número de complicações pode ocorrer, e, dependendo das condições técnicas de infraestrutura do serviço médico, este risco pode variar de 20 a 60% dos casos.

Tratamento farmacológico: um dos pilares do tratamento farmacológico baseia-se na utilização dos medicamentos pró-cinéticos, abaixo discriminados:
-         Cisaprida
-         Eritromicina
-         Octreotidio
-         Tegaserode

Cisaprida
Este fármaco aumenta a motilidade antroduodenal e a tolerância à alimentação enteral. Trata-se de um eficaz agonista do receptor de serotonina, porém, devido aos seus potenciais efeitos colaterais indesejáveis foi retirada do mercado em alguns países por toxicidade cardíaca.

Eritromicina
Este antibiótico tradicional tem por função mimetizar a motilina, e deve ser utilizado em dose subantibiótica, porém, nos estados graves de gastroparesia altas doses fazem-se necessárias.

Octreotideo
Trata-se do procinético mais potente disponível atualmente, é análogo da somatostatina. Estimula a motilidade do intestino delgado, inibe o esvaziamento gástrico e a contratilidade da vesicula biliar. Também apresenta algum benefício no tratamento do sobrecrescimento bacteriano em adultos.

Tegaserode
Apresenta ação semelhante à da cisaprida, pois também é um agonista parcial do receptor de serotonina, utilizado no tratamento da constipação em adultos. Apresenta efeitos colaterais e cardiotoxicidade.

Prucalopride
Trata-se de um fármaco recentemente disponível indicado para tratamento de constipação em mulheres, não há suficiente conhecimento sobre sua eficácia na POIC.

Tratamento farmacológico auxiliar
  Antimicrobianos
- Antibióticos e antifúngicos em ciclos variáveis
  Antidepressivos triciclicos e gabapentina
  Neuromoduladores

Tratamento cirúrgico: (Figura 4)
   Jejunostomia ou enterostomia: redução da distensão e dos vômitos.
  Ressecções nos casos de distensão segmentar.
  Transplante intestinal.

Figura 4- A- Aspecto do colon dilatado durante a cirurgia; B- espécimen do colon submetido à colectomia sub-total com perda das haustras colônicas. 

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