Juliana Ferraz e Ulysses Fagundes Neto
TRATAMENTO
O
tratamento da constipação intratável constitui um desafio para o médico e para
a família, posto que sua resolução é extremamente difícil e muitas vezes
frustrante.
A
indicação cirúrgica deve ser proposta nas crianças com constipação intratável
quando as etiologias de causa orgânica são conhecidas, tais como, a aganglionose
colônica e as malformações anorretais.
Recentemente,
têm sido apresentados dados sobre o uso benéfico de enemas anterógrados via
cecostomia nos casos de constipação refratária grave em crianças
neurologicamente normais, sem causa orgânica conhecida para sua sintomatologia.
As
opções de tratamento para crianças com constipação por trânsito colônico lento
são limitadas, e nesta circunstância deve-se ponderar a indicação cirúrgica
quando o tratamento clássico com laxantes fracassar.
As opções de tratamento não convencional são:
• Estimulação Elétrica Transcutânea
não-invasiva
• Miectomia anorretal,
• Ressecção colônica parcial ou total,
• Colostomia
ou ileostomia e enemas anterógrados do cólon.
Deve-se
ter em mente que as taxas de insucesso podem ser significativas e incluem:
• sintomas
persistentes, com dor e distensão abdominal
• morbidade
pós-operatória
ESTIMULAÇÃO
ELÉTRICA TRANSCUTÂNIA NÃO INVASIVA
Figura
4- Equipamento de estímulo elétrico transcutâneo não invasivo.
O
equipamento de estimulação elétrica transcutânea não invasivo é composto dos
seguintes instrumentos:
• 4
eletrodos de superfície (2 abdominais e 2 paravertebrais) que produzem 2
correntes sinusoidais que passam pelo corpo.
• Embora
a sua aplicação inicial tenha sido proposta como tratamento da instabilidade do
músculo detrusor, um estudo piloto avaliou seu potencial como uma modalidade de
tratamento para crianças com constipação por trânsito lento o qual revelou resultados
promissores na melhora da função do cólon.
• Constatou-se
que depois de apenas um período de tratamento de curta duração (12 sessões de 4
semanas), houve uma melhora significativa na qualidade de vida tanto nos
aspectos físicos como psicossociais.
MIECTOMIA
ANO-RETAL
• Este
procedimento foi abandonado, posto que apresentou alívio dos sintomas em apenas
30% dos pacientes, e, em contrapartida, resultou em taxa de 11% de
incontinência fecal.
COLECTOMIA
SUBTOTAL
• A colectomia
subtotal com anastomose ileorretal tornou-se o tratamento de escolha na
população adulta com constipação por trânsito intestinal lento. No entanto, as
taxas de sucesso relatadas são altamente variáveis, e
uma significativa porcentagem de pacientes desenvolve constipação recorrente e complicações pós-operatórias.
PROCTECTOMIA
• Realizada
em um pequeno número de pacientes constipados com bons resultados.
Figura 5- Desenho esquemático do procedimento
da proctectomia.
COLECTOMIAS
SEGMENTARES
• Estes
procedimentos têm sido utilizados para limitar a morbidade de ressecções mais
extensas, porém, com resultados altamente variáveis.
• Sucesso
(em adultos): Meta-análise apenas 48%
Outros
trabalhos até 85 %.
• Levitt
e Pena realizaram ressecção do sigmóide com anastomose colorretal em crianças,
e relataram que 10% delas não necessitaram de laxantes após a ressecção, ao
passo que o restante diminuiu o uso de laxantes em diferentes graus.
DESVIO
COLÔNICO (OSTOMIAS)
Figura
6- Desenho esquemático das ostomias.
• Este
tipo de procedimento permite que o resto do cólon disfuncionalizado, distal à ostomia,
volte ao calibre normal ao longo do tempo possibilitando o potencial retorno da
motilidade do cólon. Além disso, a ausência de um esfíncter de alta pressão
também permite teoricamente que ocorra o relaxamento do intestino proximal à
ostomia.
ENEMA
ANTERÓGRADO DO COLON (EAC)
Figuras
7 e 8- Desenhos esquemáticos do enema anterógrado.
• Este
procedimento foi descrito em 1990, como um método de infusão de soluções de
limpeza no cólon proximal que proporciona evacuações com intervalos regulares e
evita o sofrimento emocional associado a enemas retrógrados repetidos. O botão
da cecostomia é instalado por via laparoscópica.
• Este
tipo de ação é recomendado nos pacientes sem inércia colônica e com boa
resposta ao uso de bisacodil, e pode levar à normalização da motilidade:
reduzidos e descontinuados.
• A taxa de sucesso varia entre 40% e 81% dos
pacientes.
• Youssef
et al relataram que em 41,7% dos casos o EAC pode ter sido suspenso após uma
média de 14,6 meses.
• Escores
de qualidade de vida demonstraram maior satisfação (médico, paciente e
família), tanto em termos de função psicossocial como gastrointestinal quando
comparados a outros procedimentos cirúrgicos.
• Esteticamente,
o botão da cecostomia é facilmente coberto por uma camisa, e as crianças podem
administrar os enemas anterógrados independentemente à medida que se tornam
autoconfiantes.
APENDICOSTOMIA
• O
apêndice, via laparoscópica ou por abordagem aberta, é exteriorizado como um
estoma e atua como uma via para o cólon através da qual os enemas anterógrados
podem ser executados.
Figura
9- Fotografia de um procedimento de apendicostomia.
• O estado
psicológico e a qualidade de vida dos pacientes com tratamento comportamental
para constipação intratável tornam-se significativamente mais favoráveis.
Foram
estudados 31 pacientes (idade média de 36 anos) que receberam tratamento
comportamental para a constipação intratável idiopática. Deste grupo 22
pacientes sentiram alívio subjetivo da sintomatologia. Ocorreu melhoria dos
seguintes parâmetros avaliados: depressão, ansiedade, sintomas somáticos, estado
geral de saúde e vitalidade.
CONCLUSÃO
Como
se pode depreender do que foi exposto a constipação intratável acarreta enormes
transtornos físicos, biopsicossociais e também afeta de forma intensa a
qualidade de vida dos pacientes. Urge que soluções mais eficazes estejam ao
alcance dos pacientes para minimizar os inúmeros desconfortos por eles
enfrentados bem como aos seus familiares.
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