Imaginando-se uma situação ideal a EEo poderia ser
diagnosticada sem a necessidade da realização da biópsia esofágica, como por
exemplo, pela utilização de marcadores biológicos, tais como a eotaxina-3 ou a
neurotoxina derivada do eosinófilo, os quais estão presentemente sob
investigação, e, assim, a proposta de uma dieta eficaz seria identificada logo
na apresentação clínica da enfermidade por algum teste que fornecesse uma
resposta imunológica. Dietas que evitam o antígeno e que se baseiam em teste
alérgicos alcançam uma taxa similar de remissão da doença à aquela verificada
pelo emprego da “dieta de eliminação dos 6 alimentos”. Considerando-se que a
maioria das crianças que sofrem de EEo apresentam reações adversas a múltiplos
alimentos, a retirada individual aleatoriamente de alguns deles da dieta, entretanto, dando permissão que
sejam mantidos na dieta outros alimentos potencialmente agressores,
simplesmente irá perpetuar a inflamação. Ao mesmo tempo, testes alérgicos falso
positivos e falso negativos resultam no fracasso no uso de dietas de
eliminação, porque tanto alguns alimentos agressores podem permanecer sendo
ingeridos, como, por outro lado, alguns alimentos não agressores poderão ser
removidos de forma desnecessária. De qualquer maneira, ensaios clínicos
repetidos com alimentos e exames endoscópicos fazem-se necessários para
completar o processo de se propor uma dieta minimamente restritiva. Spergel e
cols. em 2005, demonstraram que na tentativa de otimizar a “dieta de eliminação
dos 6 alimentos” por meio da utilização dos testes alergênicos “prick” e
“patch” apresentam uma tendência ao fracasso porque o valor preditivo positivo
para o teste do leite de vaca na EEo é baixo, ao redor de apenas 37%.
Tendo em vista que os sintomas necessariamente não
reaparecem logo após a reintrodução do antígeno, biópsias endoscópicas têm sido
realizadas para se detectar o impacto do antígeno sobre a mucosa. Esta é uma
prática padronizada e tem sido admitida como um fator necessariamente perverso
devido a inexistência de um marcador biológico perfeito, o qual possa vir a
indicar a existência da inflamação eosinofílica. Até o presente momento, nenhum
marcador clínico ou laboratorial correlaciona-se suficientemente bem que possa
substituir a biopsia em todo esse processo, mas de qualquer forma as pesquisas
para tal achado estão em andamento (Figura 1).
Figura
1- (A) Pretreatment distal esophageal mucosal biopsy. Above left, showing
several intraepithelial eosinophils, basal zone hyperplasia, and intercellular
edema (H&E ×200). Above right, lamina propria with fibrosis and
eosinophilic inflammation (H&E ×400). (B) Post-treatment with Oral Viscous Budesonide (OVB), distal
esophageal biopsy from the same patient. Above left, unremarkable epithelium
(H&E ×100). Above right shows lamina propria with no evidence of fibrosis
or eosinophilic inflammation (H&E ×400). (C) Esophageal mucosal biopsies
(×400 light microscopy) stained for profibrotic mediators showing LP in a
responder patient. Upper images show transforming growth factor–β1
(TGFβ1)-positive (brown) cells and lower images show phosphorylated
Smad2/3-positive (red) cells pre- and post-treatment with OVB (Dohil R. et al. Gastroenterology 2010; 139: 418-29).
Está bem estabelecido que a EEo pode provocar fibrose
da lâmina própria, perda da complacência da parede esofágica ou estenose, a
qual se manifesta por disfagia crônica, o sintoma mais comum em adolescentes e
adultos. A observação de que sintomas e histologia apresentam uma pobre
correlação traz à luz a preocupação de que um tratamento sub-ótimo de um
determinado paciente, cuja inflamação persista, pode levar às supra referidas
complicações, independentemente do fato de apresentarem ou não sintomas agudos.
Não está claro se todos os pacientes que sofrem de EEo encontram-se em igual
risco para esta complicação, mas, como a remodelação da lâmina própria é
reversível com o uso de terapia apropriada, há o consenso de se tratar a
inflamação eosinofílica predominante de forma compulsiva para induzir a
cicatrização da mucosa e prevenir as complicações. Kagalwalla e cols.,
reafirmam, por meio de dados convincentes que vale a pena lançar mão do
tratamento empírico da “dieta de eliminação dos 6 alimentos” como proposta de
manejo inicial para as crianças que sofrem de EEo. Vale a pena enfatizar que
este manejo dietético deve ser proposto somente para as crianças cujo
diagnóstico de EEo foi cuidadosamente estabelecido pela biópsia e, ao mesmo
tempo, após a exclusão de outras causas de eosinofilia esofágica. A educação do
paciente e dos pais, por um nutricionista com experiência comprovada, é crucial
para a preservação de uma nutrição adequada quando os principais antígenos
alimentares são eliminados.
A utilização de um algoritmo torna-se mandatória para
servir de guia de conduta para um ótimo manejo das crianças que sofrem de EEo.
Evitar a ingestão de antígenos alimentares e a aplicação de corticosteroides
tópicos são os pilares básicos do tratamento e parecem ser terapêuticas que
perdurarão ao longo do tempo, embora a inexistência de estudos comprobatórios
de longo tempo de manuseio farmacológico contínuo ainda geram alguma incerteza
quanto à sua segurança. Ao mesmo tempo, sabe-se que nenhuma das terapias
disponíveis é universalmente efetiva e isto provavelmente ocorre porque existe
uma grande variação fenotípica entre as populações. Não existem definições
formais para os fenótipos, mas, por exemplo, reconhece-se que alguns indivíduos
são nitidamente atópicos enquanto que outros não o são. Similarmente, alguns
pacientes desenvolvem complicações fibro estenóticas (estenoses, estreitamento
do calibre esofágico), enquanto que outros não apresentam estes problemas.
Talvez, acoplando-se a medicação com o fenótipo, esta associação poderá
aumentar o potencial da remissão inicial da enfermidade.
O sucesso do tratamento da EEo necessita claramente
contemplar muitos componentes. A educação do paciente é crucial e alvejar o
tratamento para o fenótipo da enfermidade e o estilo de vida do paciente, podem
ser medidas extremamente importantes. Uma discussão profunda dos prós e contras
das opções terapêuticas disponíveis com os pacientes e seus familiares podem
identificar indivíduos nos quais um ensaio dietético não seria desejável ou
exitoso, porque, por exemplo, poderia haver predisposição para não aderir ao
tratamento. Pesquisas estão em marcha para determinar com maior precisão uma
abordagem terapêutica inicial e, ao mesmo tempo, determinar normas de conduta
de longo prazo para está afecção crônica.
Meu Comentário
Kagalwalla e cols., em 2006 (Clin Gastroenterol
Hepatol 4: 1097-102), puderam demonstrar que a utilização da “dieta de
eliminação dos 6 alimentos” induziu à resolução dos sintomas clínicos na
maioria dos pacientes e também causou a redução da inflamação da mucosa
esofágica em 74% deles, com remissão histológica parcial em um adicional de 9%
das crianças que sofriam de EEo.
Esses autores também demonstraram que o uso da “dieta
de eliminação dos 6 alimentos”, além de ser uma proposta efetiva de tratamento
dietético, é mais prática e palatável, porque apresenta a conveniência de
permitir que os pacientes possam ingerir os alimentos rotineiros da dieta, e,
este fato traz uma melhor aceitação tanto para os pacientes quanto para seus
familiares, quando esta medida é comparada com a utilização exclusivamente da
dieta elementar. Sem dúvida alguma o leite de vaca e seus derivados constituem-se
de longe nos principais alergenos a serem eliminados da dieta, mas, deve-se
sempre ter em conta que alergenos múltiplos podem ser a causa dos sintomas e da
eosinofilia esofágica. Embora esteja bem estabelecido que o emprego de uma
dieta à base de mistura de aminoácidos é extremamente eficaz para a remissão
dos sintomas e das lesões esofágicas sua aplicabilidade na prática esbarra em
uma série de dificuldades já bem conhecidas e anteriormente discutidas. Por
esta razão, a busca de marcadores biológicos para se detectar com acurácia os
potenciais alergenos específicos para cada paciente torna-se de crucial
importância, para que seja possível o controle desta enfermidade com a
utilização de dietas específicas, mas que façam parte da cultura alimentar de
um determinado indivíduo. No presente momento este é o grande desafio que se
apresenta para os pesquisadores desta grave afecção crônica, que tanto
compromete a qualidade de vida dos nossos pacientes.
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