Cristiane Boé e Ulysses Fagundes Neto
Tratamento
Abordagem
geral visa:
◦
Evitar os desencadeantes em potencial
◦
Profilaxia farmacológica
◦
Terapia medicamentosa para abortar as crises
◦
Tratamento de suporte durante o episódio
◦
Esclarecimento para a família
Os
dois pilares básicos para o tratamento da SVC são as medidas profiláticas e
medicamentosas entre os ataques, além do suporte agudo durante as crises. Durante
a fase de bem-estar, mudanças no estilo de vida podem reduzir a frequência dos
episódios, porém, no caso dos episódios serem frequentes e suficientemente intensos
que obriguem a hospitalização devido ao fracasso da resposta à terapia
abortiva, a profilaxia medicamentosa é recomendada.
Figura
3- Medidas de estilo de vida propostas para melhor qualidade de vida
Antes
do início da terapia farmacológica, deve-se considerar a idade do paciente,
comorbidades físicas e psicológicas associadas, forma de administração e possíveis
efeitos colaterais. As recomendações de terapia farmacológica são baseadas em
opinião de experts, que abaixo
estão descritas:
Ciproheptadina:
antagonista de receptor da serotonina e anti-histamínico, apresenta resposta
moderada em crianças pequenas, é a primeira escolha para menores de 5 anos.
Apresentou boa resposta em um estudo de caso com 6 pacientes e ensaio com 16
pacientes, placebo-controlado, à dose: 0,25-0,5mg/kg/dia. Foram observados os
seguintes efeitos colaterais: aumento do apetite, ganho de peso, sedação.
Amitriptilina: trata-se
de um antidepressivo tricíclico, com moderada a alta resposta, é a primeira
escolha em crianças maiores que 5 anos, à dose de 1mg/kg/dia, por pelo menos 4
semanas. Deve-se realizar a monitoração do intervalo QT antes e após aumento da
dose. Os efeitos colaterais descritos são: constipação, sedação, arritmia,
alteração de comportamento.
Propranolol: trata-se
de um β-bloqueador, com eficácia
moderada, é recomendado como segunda escolha em crianças de todas as idades.
Deve-se realizar a monitoração da frequência cardíaca por potencial bradicardia
e a suspensão da medicação deve ser feita em 1 a 2 semanas.
Fenobarbital: é
uma droga anticonvulsivante, que em virtude de causar prejuízo cognitivo, não é
recomendada como primeira linha de tratamento. A dose recomendada é 2mg/kg/dia, e os possíveis efeitos colaterais
são: sedação e prejuízo cognitivo.
O tratamento
deve durar pelo menos 2 meses ou 2 ciclos de vômitos.
Complementação
Terapêutica
A Coenzima
Q10 mostrou-se eficaz no controle das crises, sem efeitos colaterais (co-fator
mitocondrial), assim como a carnitina. Contraceptivos orais à base de
estrogênio têm sido utilizados em meninas no período menstrual. Outras medidas
coadjuvantes incluem a Acupuntura e a Psicoterapia.
Tratamento:
propostas práticas
A terapia
para controle das crises deve levar em consideração a fase da crise: na fase
emética, o objetivo é encerrar os episódios de vômitos o mais rapidamente
possível, deve-se obter o controle dos distúrbios hidro-eletrolíticos, e para
tal é recomendada a infusão de solução fisiológica associada a solução
glicosada 10%, visando reduzir os efeitos catabólicos. Durante esta fase, a
sobrecarga proteica pode prolongar a crise. Recomenda-se 1,5 g/kg/dia de
proteína na dieta do paciente. A terapia medicamentosa inclui antieméticos e
medicamentos anti-enxaqueca, tais como, agonistas 5HT, triptanos (não são
aprovados para crianças menores que 18 anos, porém há descrição de seu uso nos
maiores de 12 anos). Eles podem encerrar a crise, especialmente quando usados
na forma intra-nasal (sumatriptano, zolmatriptano). Outros medicamentos também
podem ser eficazes, tais como, antagonistas do receptor 5HT3, ondansentrona, bastante
seguro para uso em crianças, pois é bem tolerado e eficaz.
Conclusões
Deve-se
fazer um esclarecimento detalhado para o paciente e seus familiares quanto ao
diagnóstico e a identificação de fatores desencadeantes dos vômitos. Caso não
forem encontrados sinais de alerta e forem preenchidos os critérios
diagnósticos, não submeter o paciente a procedimentos desnecessários. Finalmente,
deve-se fazer uso de terapia medicamentosa profilática naqueles pacientes que
apresentam quadro mais intenso e de difícil controle.