A história da realização de um Pós-Doutorado no North Shore University Hospital, Cornell University, Nova Iorque: pessoal e científica
A realização do
projeto de Pesquisa Experimental: “Absorção de Macromoléculas Intactas
Pelo Jejuno De Ratos in vivo: Influência Dos Sais Biliares
Taurocolato, Colato e Deoxicolato”
Introdução
A-
Absorção de Macromoléculas pelo Intestino e sua Relação com Alergia Alimentar
A despeito da noção geral de que o intestino se constitui em uma barreira impermeável à penetração dos antígenos intra-luminais, evidências clínicas e experimentais demonstram que esta barreira da mucosa intestinal pode ser eventualmente ultrapassada mesmo em determinadas circunstâncias não patológicas. Desta forma, a absorção de macromoléculas pode ocorrer, ainda que seja em quantidades ínfimas para que tenha algum valor nutricional, mas que seja em quantidades de tal monta que possam ser suficientes para desenvolver estímulo antigênico.
A despeito da noção geral de que o intestino se constitui em uma barreira impermeável à penetração dos antígenos intra-luminais, evidências clínicas e experimentais demonstram que esta barreira da mucosa intestinal pode ser eventualmente ultrapassada mesmo em determinadas circunstâncias não patológicas. Desta forma, a absorção de macromoléculas pode ocorrer, ainda que seja em quantidades ínfimas para que tenha algum valor nutricional, mas que seja em quantidades de tal monta que possam ser suficientes para desenvolver estímulo antigênico.
A
absorção aumentada de macromoléculas intactas pelo intestino pode acarretar uma
série de consequências indesejáveis para o hospedeiro. Por exemplo, está
plenamente reconhecida que a absorção de macromoléculas pode desempenhar papel
de fundamental importância em algumas situações patológicas nas quais se
incluem as reações alérgicas aos alimentos, diarreia crônica, processos
toxigênicos, enfermidades inflamatórias intestinais, doença celíaca,
enfermidades autoimunes, etc.
Para
impedir a penetração antigênica para a corrente sanguínea através da barreira
mucosa intestinal, a natureza criou um sofisticado sistema de defesa,
imunológico e não imunológico (físico e químico), que atua desde o estômago
avançando para o lúmen intestinal, até mesmo recobrindo a superfície mucosa
(glicocálix), provendo, assim, o trato digestivo como a primeira linha de
defesa contra este tipo de invasão (Figuras 1–2–3–4–5-6) (Tabela 1).
Tabela 1- Componentes da Barreira de
Permeabilidade Intestinal.
Figura 1- Desenho esquemático da
distribuição da microflora bacteriana ao longo do trato digestivo em condições
fisiológicas.
Figura 2- Desenho esquemático da
distribuição do muco na superfície do enterócito.
Figura 3- Ultramicrofotografia de uma
célula caliciforme repleta de muco em seu interior.
Figura 4- Desenho esquemático da
barreira de permeabilidade interposta pelo poro intercelular, pela junção firme
e pelos desmosomas.
Figura 5- Ultramicrofotografia de
dois enterócitos adjacentes evidenciando a região das microvilosidades no polo
apical das células e o espaço intercelular mostrando em seu terço médio um
desmosoma (mancha enegrecida).
Figura 6- Desenho esquemático dos
diversos componentes da barreira de permeabilidade em condições normais e da
deficiência de um ou mais destes componentes.
Entretanto,
apesar da existência desta eficiente barreira de permeabilidade, nem sempre,
porém, o organismo consegue depurar completamente os antígenos ingeridos com a
dieta. Nestas últimas décadas inúmeros estudos experimentais combinados,
morfológicos e funcionais, revelaram que o enterócito possui a capacidade de
absorver macromoléculas intactas que por quaisquer motivos conseguiram alcançar
a porção mais apical na região das microvilosidades. Por meio de um sistema de
vesículas, inicialmente ocorre uma interação entre as macromoléculas e os
componentes da membrana das microvilosidades (Figura 7), processo
denominado “adsorção”.
Figura 7- Desenho esquemático do processo de endocitose e o estímulo de produção de lisosomas pelo complexo de Golgi com a respectiva formação do corpo mulivescular.
Quando
uma concentração suficientemente significativa de macromoléculas entra em
contato com a membrana celular ocorre uma invaginação da mesma
(endocitose), desta vez, pequenas vesículas endocitóticas são formadas na
base apical das microvilosidades, as quais, posteriormente, dirigem-se para o
polo basal do enterócito. Uma fração destas vesículas endocitóticas funde-se
com os lisosomas produzidos pelo complexo de Golgi dando lugar a formação
dos corpos multivesiculares, os quais já não mais possuem efeito
antigênico (Figura 8).
Figura 8- Ultramicrofotografia de um corpo multivesicular que foi fagocitado e destruido pelo lisosoma no interior do enterócito.
Este
complexo é eliminado no espaço intercelular através do pólo baso-lateral do
enterócito por meio de um processo denominado exocitose (Figura
9), o qual já está suficientemente degradado, portanto, sem capacidade de
desenvolver qualquer estímulo antigênico, este evento representa a primeira
linha de defesa celular.
Figura 9- Desenho esquemático do processo de destruição da macromolécula pelo lisosoma e sua eliminação do enterócito por meio da exocitose, agora já sem possibilidade de desenvolver estímulo antigênico.
Caso,
porém, parte do material que sofreu o processo de endocitose não venha a ser
totalmente degradado pelos lisosomas e seja liberado intacto pelo enterócito,
este material será degradado por macrófagos que estão presentes na lâmina
própria da mucosa do intestino delgado, os quais representam a segunda linha de
defesa celular. Por outro lado, entretanto, caso ocorra uma penetração
significativa de macromoléculas intactas, potencialmente antigênicas, que
venham a superar todos os mecanismos de defesa do trato digestivo e haja uma
predisposição alérgica geneticamente determinada por parte do hospedeiro,
poderão surgir as clássicas manifestações clínicas de Alergia Alimentar.
Objetivos
Está
bem estabelecido que em condições fisiológicas os sais biliares primários estão
presentes no fluido do intestino delgado como compostos químicos conjugados com
glicina ou taurina, e que a produção dos sais biliares secundários se dá pela
ação das bactérias da microflora intestinal, as quais se encontram em
concentrações elevadas a partir das porções distais do intestino delgado, em
particular no íleo terminal. Por outro lado, em situações patológicas em que
ocorre sobrecrescimento bacteriano da microflora colônica nas porções altas do
intestino delgado, haverá não somente desconjugação dos sais biliares
primários, como também produção de sais biliares secundários pela 7α
desidroxilação dos sais biliares primários. Tem sido demonstrado que a presença
de sais biliares desconjugados e/ou secundários na luz do jejuno resulta em
efeitos altamente deletérios sobre a função digestivo-absortiva provocando
secreção de água e sódio, má absorção de glicose e alterações morfológicas na
mucosa jejunal (Figura 10). Levando-se em consideração estas anormalidades
acima descritas, este projeto de pesquisa experimental foi desenvolvido para
avaliar os potenciais efeitos, sobre a barreira de permeabilidade intestinal,
dos seguintes sais biliares: taurocolato (primário e conjugado), cólico
(primário e desconjugado) e deoxicólico (secundário e desconjugado).
Figura
10- Ação deletéria dos sais biliares
desconjugados sobre a
mucosa do intestino delgado.
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