A história da realização de um Pós-Doutorado no North Shore University Hospital, Cornell University, Nova Iorque: pessoal e científica
Parque Indígena do Xingu (PIX)
O PIX foi criado em 1961, pelo governo federal,
tendo por finalidade a preservação da população indígena ali localizada, bem
como sua cultura, prestando-lhe assistência e defendendo-a de contatos
prematuros e nocivos com as frentes de ocupação da nossa sociedade. A
preservação da flora e da fauna também fazem parte das finalidades precípuas do
PIX, evitando, assim, o avanço da exploração agropecuária de forma
indiscriminada, cujos interesses vêm sendo cada vez mais despertados pelas
terras do Brasil Central. Na ocasião da fundação a direção do PIX foi entregue
aos irmãos Villas Boas (Cláudio e Orlando), os quais, juntamente com outro
irmão, Leonardo já falecido, haviam chegado à região em 1946 como membros da
expedição Roncador-Xingu. Esta expedição tinha, entre outros, o objetivo
estratégico de interiorização do Brasil para preservar nossa soberania na
região Amazônica. Cláudio e Orlando permaneceram à testa da direção do PIX até
finais dos anos 1970, quando então se aposentaram (Figura 1).
Figura 1- Cláudio Villas Boas (sem camisa), que
vivia no Posto Diauarum, em uma de suas raras visitas ao Posto Leonardo.
A partir desta época, até os dias atuais, vários
outros administradores passaram pelo PIX, porém, a filosofia originalmente
implantada manteve-se totalmente preservada (Figuras 2-3-4-5-6).
Figuras 2-3-4-5-6 – Exemplos típicos da fauna
xinguana preservada fazendo parte integrante da própria comunidade.
A política instituída pelos irmãos Villas Boas
mostrou-se extremamente vitoriosa, pois foi possível resguardar a área da
ocupação, sempre iminente, pelos segmentos da nossa sociedade que atualmente
cercam o PIX com interesses para implantar estabelecimentos agropecuários,
colocando em risco a civilização xinguana, bem como, sua fauna e flora (Figura 7).
Figura 7- Vista aérea da região próxima ao PIX,
evidenciando o avanço do desmatamento nas vizinhanças, restando apenas uma
pequena mancha verde de floresta.
O PIX está localizado no extremo norte do Estado de
Mato Grosso e abrange uma área retangular de aproximadamente 20.000 km2
(extensão territorial do tamanho da Bélgica), cuja a altitude média é de 250
metros, numa zona de transição entre o Planalto Central e a Amazônia, com
características naturais, fauna e flora dessas duas regiões brasileiras, acompanhando
o rio Xingu desde suas cabeceiras até a divisa com o Estado do Pará (Figuras 8-9).
Figura 8- Mapa do Brasil com
detalhe da localização do PIX.
Figura 9- Mapa detalhado do PIX
e suas principais aldeias.
Trata-se de uma região plana e a vegetação
encontra-se nos limites da floresta equatorial do vale amazônico, que predomina
à medida em que se aproxima do norte, posto que as árvores se encorpam resultando
em uma floresta de transição para a do tipo amazônico. Por outro lado, ao sul
avistam-se as últimas manchas do cerrado do Brasil Central, interrompidas pelas
matas ciliares, alternando-se com as florestas de galeria que acompanham o
curso dos rios e as margens dos numerosos lagos. O PIX, pelo seu aspecto
geofísico e pelas características culturais das tribos indígenas que ai vivem,
pode ser dividido em duas áreas: a primeira, ao norte ou Médio Xingu, tendo
como centro administrativo o posto Diauarum (onça preta) (Figuras
10-11-12-13-14-15-16-17-18-19-20-21-22-23-24-25-26).
Figura 10- Vista do acampamento dos médicos em
1971.
Figura 11- Vista dos banheiros em 1971.
Figura 12- Uma visão do rio Xingu ao cair da tarde
em 1971.
Figura 13- Minha primeira visita ao Posto Diauarum
em 1971.
Figuras 14-15- Vista aérea do Posto Diauarum e do
campo de pouso em 1990.
Figura 16- Vista aérea do rio Xingu à beira do
Posto Diauarum em 1990.
Figura 17- Edificações do Posto Diauarum em 1990.
Figura 18- Reunião com as lideranças indígenas no Posto
Diauarum em 1990. Ao meu lado esquerdo está Megarom que foi diretor do PIX.
Figura 19- Refeitório do Posto Diauarum em 1990.
Figura 20- Grupo partindo para visita às aldeias
indígenas em 1990.
Figuras 21-22-23- Navegando pelo
rio Xingu e pelos atalhos do rio, para cortar caminho, durante a época das
chuvas, que só os índios conhecem.
Figuras 24-25- Chegada à aldeia
Juruna e banho de rio em 1990.
Figura 26- Trabalho de campo na
aldeia Juruna em 1990.
A segunda região, ao sul denominada Alto Xingu,
onde está situado o posto Leonardo Villas Boas, e ao seu redor estão
distribuídas as diversas aldeias que constituem o que Galvão denominou “área cultural
do Alto Xingu” (Figuras 27-28-29-30-31-32).
Figuras 27-28- Visão da área do Posto Leonardo
destacando-se acima o local de atendimento médico e embaixo a cozinha e
refeitório.
Figura 29- Vista aérea da região
do Alto Xingu, dentro do PIX, destacando-se o rio Kuluene afluente do Xingu e a
aldeia Kalapalo na sua proximidade.
Figura 30-31- Vista aérea da
aldeia Kuicuru próxima de um dos mais lindos lagos da região.
Escavações realizadas na área por arqueólogos, na
década de 1960, possibilitaram o encontro de vestígios que levam a crer que a
ocupação do Alto Xingu remonta há séculos, entretanto, os primeiros relatos
sobre os índios da região foram feitos por Steinen, que a visitou em duas
expedições nos anos de 1884 e 87. Pela descrição por ele realizada, verifica-se
que a área do Alto Xingu era habitada, naquela ocasião, pelas mesmas tribos que
aí vivem nos dias atuais, a saber: Auiti, Uaurá, Kalapalo, Kamaiurá, Kuicuru,
Iaualapiti, Meinaco, Matipu-Nafuqua e Trumai.
As dificuldades de acesso à região, decorrentes da
existência de uma série de quedas d’água que se estendem da cachoeira de Von
Martius para o norte, no curso médio do rio Xingu, e da existência do vasto e
inóspito chapadão mato-grossense, ao sul, permitiram que esta área permanecesse
indevassada até o final do século XIX, portanto, por sua natureza geográfica
essa área de caracterizou, até há pouco tempo, como “refugio” para os grupos
tribais que para lá foram se dirigindo. Refugiados, esses grupos ali
permaneceram resguardados de incursões alienígenas da sociedade “dita
civilizada” e ou de outras tribos indígenas.
Figura 32- Vista aérea da aldeia
Kamaiurá e a lagoa do Ipavu.
A radicação secular na mesma área e a grande
facilidade de mobilidade interna fez com que as relações intertribais ocupassem
um plano de destaque na vida do índio. Este relacionamento tornou-se tão
importante que, praticamente, o único traço de distinção entre as tribos é a
língua. Na região estão presentes os representantes de três das quatro
principais famílias linguísticas indígenas do Brasil, a saber: Tupi, Aruaque e
Caribe. Porém, apesar desta diferença de línguas as tribos aí localizadas
possuem uma organização política, social e cultural idênticas, caracterizadas
pelas crenças, ritos cerimoniais e festas, ritmo de vida e ciclo de atividades
bastante semelhantes e integradas, constituindo o que o antropólogo Galvão, em
1953, denominou “cultura Xinguana” ou “área cultural do Alto Xingu”.
Assim sendo, o estado de considerável isolamento e a longa ocupação de uma mesma área geográfica, com relativa proximidade entre as aldeias, contribuíram para um grande entrelaçamento entre as tribos do Alto Xingu, sob um ponto de vista social e cultural, embora, na realidade, representem nações totalmente independentes.
Assim sendo, o estado de considerável isolamento e a longa ocupação de uma mesma área geográfica, com relativa proximidade entre as aldeias, contribuíram para um grande entrelaçamento entre as tribos do Alto Xingu, sob um ponto de vista social e cultural, embora, na realidade, representem nações totalmente independentes.
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