Em
situações patológicas, como por exemplo, nas infecções entéricas por
determinados agentes enteropatogênicos, a função seletiva destes poros
intercelulares pode estar seriamente comprometida, e, portanto, passar a
dar lugar para a penetração maciça de antígenos e levar ao surgimento
de alergias alimentares (Figuras 18 e 19).
Figura
18 - Material de biópsia de intestino delgado em microscopia óptica
comum em grande aumento, corte semi-fino, mostrando colônias de Escherichia coli enteropatogênica firmemente aderidas à superfície mucosa provocando intensas alterações morfológicas no epitélio intestinal.
Figura 19- Esquema gráfico da sequência fisiopatológica da provocação de AA devido à infecção por Escherichia coli enteropatogênica.
Figura 20- Representação esquemática da barreira da mucosa intestinal.
Além
do sistema imunológico, a barreira de permeabilidade intestinal é
também formada pelas próprias células epiteliais. Caso, por alguma
razão, antígenos ou fragmentos de antígenos potencialmente alergênicos
consigam aderir à superfície luminal dos enterócitos, estes serão
interiorizados ao citoplasma por um mecanismo de endocitose (reverso da
fagocitose); já agora no interior do citoplasma serão atacados e
devidamente digeridos pelos lisosomas produzidos pelo aparelho de Golgi,
perdendo, assim, sua capacidade de estímulo antigênico. Finalmente
serão eliminados da célula no espaço baso lateral por um processo de
exocitose (Figuras 21-22 e 23) (23).
Figura 21- Representação esquemática dos mecanismos celulares de proteção da mucosa intestinal.
Figura 22- Representação esquemática do processo de degradação antigênica intracelular.
Figura
23- Material de biópsia do intestino delgado em microscopia eletrônica
mostrando a formação de um corpo multivesicular, produto da ação
degradativa lisosomal.
Entretanto,
a imaturidade no desenvolvimento de vários destes componentes da
barreira intestinal e do sistema imunológico nos lactentes reduz de
forma significativa sua eficiência, tornando a mucosa entérica
suscetível para a penetração de antígenos potencialmente alergênicos
(proteínas do leite de vaca e da soja, por exemplo) (Figuras 24 e 25).
Sabe-se que a atividade enzimática no período neonatal é sub-ótima, e o
sistema da IgA secretora não se encontra totalmente maduro antes
dos 4 anos de idade. Conseqüentemente, o estado de imaturidade da
barreira mucosa joga um papel importante na prevalência de infecções
entéricas e AA observadas nos primeiros anos de vida (24).
Figura 24- Representação esquemática da imaturidade da barreira mucosa no recém-nascido.
Figura
25- Material de biópsia do intestino delgado em microscopia eletrônica
mostrando na figura superior duas células intestinais adjacentes
submetidas à perfusão com o marcador macromolecular Horseradish
peroxidase representado pela imagem enegrecida confinada à região das
microvilosidades (V), L mostra o lumen intestinal. Observar o espaço
intercelular (seta) totalmente preservado e a mitocôndria (M) intacta.
Na figura inferior resultante da perfusão com sais biliares secundários
observa-se que o marcador macromolecular provoca uma ruptura no poro
intercelular e a imagem enegrecida estende-se ao longo de todo o espaço
intercelular (seta). No detalhe podem ser observadas alterações
importantes nas organelas com inchaço e degeneração da mitocôndria (M) e
do aparelho de Golgi (G).
Referências Bibliográficas
Referências Bibliográficas
23. Teichberg, S. e cols., Pediatr Res 1983; 17: 381-389.
24. Lifshitz, F., Excerpta Medica 1984; 131-40.
Um comentário:
Parabéns Dr. Ulysses pelos artigos postados, pois são minuciosos e de fácil entendimento, nos inspiram a querer aprender mais.
Sou nutricionista formada há 10 anos e estou sentindo uma necessidade de me aprofundar mais em gastroenterologia e, em especial, alergias, mas de uma forma bem minuciosa.
Gostaria de saber do senhor uma indicação de curso a principio de especialização lato sensu e posteriormente, stricto sensu. Agradeço pela especial atenção e estou me sentindo muito honrada de ter a possibilidade de manter contato com o senhor que é um ícone na área de gastroenterologia.
Abraços, Gledis Mara Monteiro Carvalho de Oliveira.
email: gledis_mara@yahoo.com.br
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