Conceito da Barreira de Permeabilidade Intestinal
O
trato gastrointestinal representa uma extensa barreira física ao
ambiente exterior com o objetivo de proteger nosso organismo das
potenciais agressões físicas, químicas e microbiológicas representadas
por eventuais produtos nocivos dos alimentos, dos agentes patogênicos
existentes na natureza e mesmo dos simbióticos microorganismos que
naturalmente nos colonizam desde a boca até o reto e com os quais
obrigatoriamente de forma cotidiana convivemos. Concomitantemente,
associado a esta barreira física, o sistema imunológico, por meio do
tecido linfóide intestinal, funciona também como mais um fator de
proteção, possuindo a capacidade de discriminar proteínas estranhas, ou
microorganismos comensais, ou perigosos agentes enteropatogênicos.
Além
disso, o trato gastrointestinal nos fornece também uma formidável
superfície absortiva equivalente em área ao tamanho de uma quadra de
tênis (aproximadamente 200m²), para que normalmente possam ocorrer os
processos digestivo-absortivos, os quais são essenciais para a
preservação do estado nutricional e, conseqüentemente, a manutenção da
vida (Figuras 9 e 10).
Figura
9 - Material de biópsia de intestino delgado em microscopia óptica
comum apresentando morfologia normal. As vilosidades são digitiformes e
representam uma relação vilosidade: cripta 5/1. As células epiteliais
são cilíndricas com núcleo em posição basal e o infiltrado
linfo-plasmocitário encontra-se dentro dos limites da normalidade.
Figura
10 - Vilosidade individualizada em aumento maior com aspecto
digitiforme. As células epiteliais (enterócitos) são cilíndricas com
núcleo em posição basal e se assentam na membrana basal. Células
califormes produtoras de muco podem ser observadas ao longo das
vilosidades (células esbranquiçadas arredondadas).
A
barreira de permeabilidade intestinal (Figura 11) constitui uma
importante adaptação do trato digestivo ao meio ambiente extra-uterino
(no interior do útero o feto se desenvolve em um meio totalmente estéril
protegido pelo líquido aminiótico, o qual é envolvido pela bolsa
aminiótica) contra a penetração de antígenos e fragmentos antigênicos
usualmente presentes no lúmen intestinal. Ao nascer, o recém-nascido
necessita estar preparado para conviver com a colonização bacteriana do
intestino, com a formação de subprodutos tóxicos pelas bactérias e vírus
(enterotoxinas e endotoxinas) e com a ingestão de potenciais antígenos
alimentares (proteínas do leite de vaca e da soja, por exemplo). Estas
substâncias que são imunologicamente ativas se conseguirem romper a
barreira da mucosa intestinal e, por conseguinte, penetrar na circulação
sanguínea, podem causar reações inflamatórias ou alérgicas, as quais
poderão resultar, por sua vez, em enfermidades gastrointestinais ou
sistêmicas.
Figura
11 - Exemplo gráfico do transporte de macromoléculas em situação normal
e patológica, quando há fracasso de um ou mais mecanismos de
constituição da barreira de permeabilidade intestinal.
A Tabela abaixo elenca os componentes da Barreira de Permeabilidade Intestinal contra a penetração de Antígenos
A Tabela abaixo elenca os componentes da Barreira de Permeabilidade Intestinal contra a penetração de Antígenos
A- Não Imunológicos
Figura 15- Material de biópsia do intestino delgado em microscopia eletrônica mostrando uma célula caliciforme produtora de muco.
Figura 16 - Material de biópsia de intestino delgado em microscopia eletrônica mostrando duas células adjacentes com poro intercelular intacto e a presença de um desmosoma em botão que confere a limitação do tamanho do poro.
Figura 17 - Material de biópsia de intestino delgado em microscopia eletrônica mostrando ruptura discreta do poro intercelular. Notar a presença, em negro, de um marcador macromolecular (Horseradish peroxidase) ao longo do espaço intercelular.
Intraluminais
- Acides gástrica
- Proteólise
- Peristaltismo Intestinal
Superfície Mucosa
- Cobertura de Muco
- Membrana das Microvilosidades
- Poros intercelulares
B- Imunológico
- Sistema da IgA secretora
C- Combinação de fatores imunológicos e não Imunológicos
- Formação de imune-complexos mediados pelo muco
- Proteólise na superfície mucosa facilitada pela formação de imune-complexos
- Fagocitose pelas células de Kupffer dos imune-complexos formados
O
ácido clorídrico produzido pelas células parietais da mucosa gástrica,
entre outras finalidades, funciona como a primeira potente barreira
química contra as agressões de microorganismos patogênicos que por
ventura venham a ser ingeridos pelo hospedeiro. Ao mesmo tempo também
atua na primeira fase da digestão dos nutrientes, em especial as
proteínas, formando complexos menores que irão ser mais facilmente
digeridos pelas enzimas proteolíticas pancreáticas. O peristaltismo
intestinal age como fator mecânico de depuração dos potenciais agentes
tóxicos e/ou microorganismos patogênicos ingeridos com a alimentação
(20).
A
cobertura de muco (por meio da sua espessura e composição química) que
se deposita sobre a superfície das microvilosidades intestinais
contribui de forma especial contra a adesão e penetração de antígenos. O
muco é produzido pelas células caliciformes, as quais se encontram
intercaladas aos enterócitos ao longo de todas as vilosidades
intestinais (Figuras 12-13-14 e 15). A espessura física da cobertura de
muco sobre a superfície da mucosa intestinal pode se expandir na
dependência do estímulo antigênico recebido, contribuindo, assim, como
um fator de expulsão de parasitas e antígenos microbianos intestinais
(21).
Figura
13- Material de biópsia de intestino delgado em microscopia eletrônica
com estrutura preservada evidenciando a formação das microvilosidades no
topo da imagem formando uma verdadeira paliçada. No interior do
citoplasma podem ser observados alguns retículos endoplásmicos rugosos,
mitocondrias e corpos multivesiculares.
Figura
14- Material de biópsia do intestino delgado em microscopia eletrônica
destacando as microvilosidades em maior aumento e as micromiofibrilas
que delas emergem e que dão suporte ao muco produzido pelas células
califormes.
Figura 15- Material de biópsia do intestino delgado em microscopia eletrônica mostrando uma célula caliciforme produtora de muco.
Os
poros intercelulares apresentam dimensões bem determinadas, e, de tal
forma a permitirem a passagem apenas de água e pequenos íons, como por
exemplo, sódio e cloro. Eles se constituem em um importante mecanismo
fisiológico para absorção de água e eletrólitos, e, em condições
normais, exceto nos primeiros meses de vida, não permitem a penetração
de macromoléculas intactas (Figuras 16 e 17).
Figura 16 - Material de biópsia de intestino delgado em microscopia eletrônica mostrando duas células adjacentes com poro intercelular intacto e a presença de um desmosoma em botão que confere a limitação do tamanho do poro.
Figura 17 - Material de biópsia de intestino delgado em microscopia eletrônica mostrando ruptura discreta do poro intercelular. Notar a presença, em negro, de um marcador macromolecular (Horseradish peroxidase) ao longo do espaço intercelular.
Referências Bibliográficas
20. Fagundes Neto, U., Acta Gastroent Lat Amer 1973; 5: 195-212.
20. Fagundes Neto, U., Acta Gastroent Lat Amer 1973; 5: 195-212.
21. Teichberg, S. e cols., Am J Clin Nutr 1981; 34: 1281-91.
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