terça-feira, 19 de setembro de 2023

Manejo Farmacológico da Constipação Idiopática Crônica: guia clínico da Associação Americana de Gastroenterologia.

 Prof. Dr. Ulysses Fagundes Neto

A renomada revista Gastroenterology publicou o artigo intitulado “American Gastroenterological Association-American College of Gastroenterology Clinical Practice Guideline: Pharmacological Management of Chronic Idiopathic Constipation”, de Lin Chang e cols, em junho de 2023, que abaixo passo a resumir em seus principais aspectos.

INTRODUÇÃO

A Constipação idiopática crônica (CIC) é uma queixa clínica frequente que afeta cerca de 8 a 12% da população Norte-Americana. A CIC trata-se de um transtorno funcional da interação trato digestivo – cérebro e pode estar associada com sintomas, tais como, evacuações pouco frequentes e incompletas, na ausência de anormalidades estruturais da mucosa colônica. Este transtorno funcional apresenta efeitos adversos sobre a qualidade de vida dos pacientes que podem ser similares a aqueles observados em outras enfermidades, tais como, doença pulmonar obstrutiva crônica, diabetes e depressão. Intervenções não farmacológicas geralmente representam o passo inicial no manejo da CIC, e podem incluir alterações dietéticas (ingestão aumentada de líquidos e de fibras na dieta), alterações comportamentais, tais como exercícios físicos. O tratamento farmacológico pode incluir a utilização do polietilenoglicol, secretagogos e agentes pró-cinéticos. De uma maneira geral, pode-se afirmar que uma proporção significativa dos pacientes com CIC não se encontra satisfeito com o tratamento vigente, e, muitas vezes, utilizam-se de medicações que não necessitam de prescrição médica, para em seguida, passar a utilizar medicamentos que necessitam prescrição médica, a fim de obter um alívio dos seus sintomas. A AGA e o ACG desenvolveram de forma conjunta essa revisão sistemática, e, guias clínicos para fornecer recomendações baseadas em evidências para o tratamento da CIC.  

MÉTODOS

Foi constituído um painel multidisciplinar de guias de conduta que realizou uma revisão sistemática analisando os seguintes agentes medicamentosos, a saber: fibras, laxantes osmóticos (polietilenoglicol, óxido de magnésio e lactulose), laxantes estimulantes (bizacodil, bicosulfato de sódio, senna), secretagogos (lubiprostona, linaclotida, plecanatida), e, um agonista do tipo 4 da serotonina (prucaloprida). O painel priorizou as questões clínicas e os desfechos utilizando a estrutura de Graduação de Avaliação das Recomendações, o Desenvolvimento, e a Avaliação para acessar a evidência de certeza para cada intervenção. A estrutura da Evidência para Decisão foi utilizada para desenvolver recomendações clínicas baseadas na confrontação entre os efeitos desejáveis e indesejáveis, nas valorizações dos pacientes, nos custos e nas considerações de equidade da saúde.

RESULTADOS

O painel concordou com o estabelecimento de 10 recomendações no manejo da CIC. Baseado na evidência disponível, o painel propôs fortes recomendações para o uso do polietilenoglicol, picosulfato de sodio, plinaclotina, plecanatida e prucaloprida. Recomendações condicionais foram estabelecidas para o uso de fibras, lactulose, sena, óxido de magnésio e lubiprostona.

Naqueles pacientes que não apresentam sucesso terapêutico utilizando medicamentos que não necessitam prescrição, o painel recomenda o uso da prucaloprida (um agonista da serotonina) em associação ou isoladamente, entre 4 e 24 semanas. A prucaloprida é um agonista seletivo de elevada afinidade pela serotonina que promove a neurotransmissão pelos neurônios entéricos resultando na estimulação do reflexo peristáltico, secreções entéricas e motilidade gastrointestinal. Efeitos colaterais tais como cefaleia, dor abdominal, náusea e diarreia podem ocorrer de intensidade variável.

DISCUSSÃO

Esse documento fornece uma extensa revisão dos vários agentes farmacológicos disponíveis para o tratamento da CIC. As diretrizes de conduta têm o significado de fornecer uma estrutura para a abordagem a respeito do manejo da CIC. Os profissionais de saúde devem se envolver no compartilhamento das decisões baseadas na preferência dos pacientes, tais como: disponibilidade e os custos do medicamento. As limitações e as lacunas das evidências foram salientadas para auxiliar a direcionar futuras pesquisas, para proporcionar melhores oportunidades para os pacientes portadores de CIC (vide gráfico em anexo).

 


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1-          Lin Chang e cols. – Gastroenterology 2023;164:1086-1106

2-          Bharucha AE e cols. – Gastroenterology 2020;158:1232-1249

3-          Shah ED e cols.- Am J Gastroenterol 2020;115:596-602

4-                  Chang L e cols.- Am J Gastroenterol 2021;116:1929-1937