Prof. Dr. Ulysses Fagundes Neto
A
renomada revista Gastroenterology publicou o artigo intitulado “American
Gastroenterological Association-American College of Gastroenterology Clinical
Practice Guideline: Pharmacological Management of Chronic Idiopathic
Constipation”, de Lin Chang e cols, em junho de 2023, que abaixo passo a
resumir em seus principais aspectos.
INTRODUÇÃO
A Constipação
idiopática crônica (CIC) é uma queixa clínica frequente que afeta cerca de 8 a
12% da população Norte-Americana. A CIC trata-se de um transtorno funcional da
interação trato digestivo – cérebro e pode estar associada com sintomas, tais
como, evacuações pouco frequentes e incompletas, na ausência de anormalidades
estruturais da mucosa colônica. Este transtorno funcional apresenta efeitos
adversos sobre a qualidade de vida dos pacientes que podem ser similares a aqueles
observados em outras enfermidades, tais como, doença pulmonar obstrutiva
crônica, diabetes e depressão. Intervenções não farmacológicas geralmente
representam o passo inicial no manejo da CIC, e podem incluir alterações
dietéticas (ingestão aumentada de líquidos e de fibras na dieta), alterações
comportamentais, tais como exercícios físicos. O tratamento farmacológico pode
incluir a utilização do polietilenoglicol, secretagogos e agentes
pró-cinéticos. De uma maneira geral, pode-se afirmar que uma proporção
significativa dos pacientes com CIC não se encontra satisfeito com o tratamento
vigente, e, muitas vezes, utilizam-se de medicações que não necessitam de
prescrição médica, para em seguida, passar a utilizar medicamentos que
necessitam prescrição médica, a fim de obter um alívio dos seus sintomas. A AGA
e o ACG desenvolveram de forma conjunta essa revisão sistemática, e, guias
clínicos para fornecer recomendações baseadas em evidências para o tratamento
da CIC.
MÉTODOS
Foi constituído
um painel multidisciplinar de guias de conduta que realizou uma revisão
sistemática analisando os seguintes agentes medicamentosos, a saber: fibras, laxantes
osmóticos (polietilenoglicol, óxido de magnésio e lactulose), laxantes
estimulantes (bizacodil, bicosulfato de sódio, senna), secretagogos (lubiprostona,
linaclotida, plecanatida), e, um agonista do tipo 4 da serotonina (prucaloprida).
O painel priorizou as questões clínicas e os desfechos utilizando a estrutura
de Graduação de Avaliação das Recomendações, o Desenvolvimento, e a Avaliação
para acessar a evidência de certeza para cada intervenção. A estrutura da Evidência
para Decisão foi utilizada para desenvolver recomendações clínicas baseadas na confrontação
entre os efeitos desejáveis e indesejáveis, nas valorizações dos pacientes, nos
custos e nas considerações de equidade da saúde.
RESULTADOS
O
painel concordou com o estabelecimento de 10 recomendações no manejo da CIC.
Baseado na evidência disponível, o painel propôs fortes recomendações para o
uso do polietilenoglicol, picosulfato de sodio, plinaclotina, plecanatida e
prucaloprida. Recomendações condicionais foram estabelecidas para o uso de
fibras, lactulose, sena, óxido de magnésio e lubiprostona.
Naqueles
pacientes que não apresentam sucesso terapêutico utilizando medicamentos que
não necessitam prescrição, o painel recomenda o uso da prucaloprida (um
agonista da serotonina) em associação ou isoladamente, entre 4 e 24 semanas. A
prucaloprida é um agonista seletivo de elevada afinidade pela serotonina que
promove a neurotransmissão pelos neurônios entéricos resultando na estimulação
do reflexo peristáltico, secreções entéricas e motilidade gastrointestinal. Efeitos
colaterais tais como cefaleia, dor abdominal, náusea e diarreia podem ocorrer
de intensidade variável.
DISCUSSÃO
Esse
documento fornece uma extensa revisão dos vários agentes farmacológicos
disponíveis para o tratamento da CIC. As diretrizes de conduta têm o
significado de fornecer uma estrutura para a abordagem a respeito do manejo da
CIC. Os profissionais de saúde devem se envolver no compartilhamento das
decisões baseadas na preferência dos pacientes, tais como: disponibilidade e os
custos do medicamento. As limitações e as lacunas das evidências foram
salientadas para auxiliar a direcionar futuras pesquisas, para proporcionar
melhores oportunidades para os pacientes portadores de CIC (vide gráfico em anexo).
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
1-
Lin Chang e cols. – Gastroenterology
2023;164:1086-1106
2-
Bharucha AE e cols. – Gastroenterology
2020;158:1232-1249
3-
Shah
ED e cols.- Am J Gastroenterol 2020;115:596-602
4-
Chang
L e cols.- Am J Gastroenterol 2021;116:1929-1937
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