Prof. Dr. Ulysses Fagundes Neto
Resultados e Discussão
Os
dados analisados nesta revisão sistemática forneceram alguma evidência de qualidade
moderada sugerindo que probióticos podem ser eficazes no manejo das crianças
com DAR. Os relatos de uso de probióticos mostraram que ocorreu uma redução na
intensidade e na frequência da dor abdominal em um período de curto prazo,
inferior a 3 meses. Entretanto, as evidências mostraram uma limitada eficácia
quanto à utilização dos probióticos por um período de médio e longo prazo, de
três a seis meses. As evidências relativas a eficácia das diferentes cepas de
probióticos, até o presente momento, são insuficientes para que seja indicada
uma proposta clínica de preferência. A revisão sistemática também mostrou uma
evidência de baixa qualidade para sugerir que a terapia
cognitiva-comportamental e a hipnose possam ser eficazes no tratamento da DAR,
pois ambas se mostraram de alguma forma eficazes no alívio da dor, apenas no
curto prazo. Esta revisão sistemática revelou uma evidência insuficiente para
dar apoio ao uso de dietas baseadas em fibras, dietas restritivas em
carboidratos simples e complexos, inclusive restrição ao uso da frutose e yoga.
Esta revisão também não evidenciou qual abordagem farmacológica poderia ser eficaz
no tratamento da DAR.
Conclusão
A
patogênese da DAR em crianças permanece sem esclarecimento e em consequência há
a necessidade de estudos mais aprofundados para elucidar a sua etiologia. É mais
provável que a queixa de dor abdominal seja uma manifestação singular de uma grande
variedade de causas relacionadas com processos psicológicos e orgânicos do que
uma entidade única. Tem sido sugerida a existência de diferentes subtipos
clínicos de DAR o que, portanto, orientaria a escolha de tratamentos
específicos, porém, esta hipótese, até o presente momento, não encontra apoio
baseada em evidências de alta qualidade. Ensaios clínicos mais amplos,
estratificados pelos subtipos postulados são, portanto, necessários não somente
para servirem de guias de conduta nas crianças com DAR, mas também para validar
a utilidade das classificações propostas.
Meus Comentários
A
DAR continua a ser, sem dúvida alguma, um enorme incômodo para os pacientes,
uma grande preocupação para os pais e um grande quebra-cabeças para os Pediatras
e para os Gastroenterólogos, na busca de uma solução satisfatória para as
queixas dos seus pacientes. O especialista, na maioria das vezes, se vê
confrontado com a necessidade de buscar afastar as outras várias possíveis
causas orgânicas de dor abdominal, tais como, Doença Celíaca, Doença Inflamatória
Intestinal, Gastrite, Infecção por Helicobacter
pylori, Infestação Parasitária, Alergia
Alimentar, Esofagite Eosinofílica e mesmo algumas patologias mais raras, para,
por exclusão, poder chegar à possível conclusão, com razoável grau de
segurança, de que seu paciente apresenta um transtorno funcional (Figuras
5-6-7-8-9).
Figura
5- Quadro clínico florido de uma paciente portadora de doença Celíaca com
parada do ritmo de crescimento antes do diagnóstico e início da recuperação
nutricional após a introdução da dieta isenta de glúten.
Figura
6 A- Imagem de hipertrofia nodular antral provocada pela infecção do Helicobacter pylori.
Figura
6 B- Visão em microscopia óptica comum em grande aumento da presença grupos de Helicobacter pylori (em marrom).
Figura 7- Imagem de trofozoítas de Giardia lamblia (seta) presentes na luz do intestino delgado.
Figura
8- Visão de imagem de colonoscopia de lesões erosivas em paciente portador de
Colite Eosinofílica.
Figura
9 A- Visão de exame endoscópico de paciente portador de Esofagite Eosinofílica,
notando-se traqueização (esquerda) e edema com formação de sulcos (direita).
Figura
9B- Imagem em microscopia óptica comum de espécime de biópsia de esôfago em
paciente portador de Esofagite Eosinofílica evidenciando grande quantidade de
eosinófilos na mucosa formando verdadeiro abcesso eosinofílico.
Mesmo
ao se considerar que se está diante do diagnóstico de DAR, sabe-se também que
estamos lidando com um transtorno de etiologia multifatorial, envolvendo os
mais diversos componentes do organismo humano, aspectos intrínsecos e
extrínsecos, desde o eixo Sistema Nervoso Central-Trato Digestivo, a
hipersensibilidade visceral, as alterações da microbiota intestinal, até os inúmeros
fatores dietéticos, conforme têm sido descritos os mais recentes conhecimentos fisiopatológicos sobre o tema.
O cuidar deste grupo de pacientes trata-se de um desafio médico constante, para que se
possa a longo prazo, oferecer o desejado alívio dos episódios de dor e a melhor
qualidade de vida possível.
Referências Bibliográficas
1)
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4)
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