Ana Catarina Gadelha de Andrade & Ulysses Fagundes Neto
Diagnóstico
O
diagnóstico da PC deve ser baseado na análise de um conjunto de dados que
envolve os seguintes aspectos, a saber: quadro clínico, enzimas séricas, testes
de função pancreática, exames de imagem e estudo anátomo-patológica.
Exame Anátomo-patológico
A
investigação anátomo-patológica, de material obtido por biópsia, constitui-se
no padrão-ouro diagnóstico da doença em
seu estágio inicial. Esta deveria ser obtida por uma adequada biópsia
cirúrgica, o que, no entanto, é raramente disponível. As lesões
iniciais são geralmente focais, o que pode levar a resultados falso-negativos.
A
tríade de doença estável, na visão histológica, é a perda acinar, infiltração
de células mononucleares e fibrose, independentemente da causa ou local. Cada
processo inflamatório causa necrose focal de gordura, o que pode levar a formação
de pseudocistos ou fibrose. Os nervos
mostram perda do perineuro adjacente ao foco inflamatório, enquanto que a
expressão dos nociceptores nas terminações nervosas encontra-se aumentada.
Enzimas séricas
Nos pacientes com dor típica, os níveis das enzimas
pancreáticas, principalmente a lipase, devem ser solicitados pois suas
elevações identificam um episódio agudo da doença. Por outro lado, na ausência
de quadro agudo, podem ser encontrados níveis séricos de lipase e/ou amilase
reduzidos. Porém, a sensibilidade destes testes é baixa, e nenhum deles,
isoladamente, são úteis para se estabelcer o diagnóstico definitivo.
Testes da função
pancreática
As principais indicações para a realização dos testes da
função pancreática são: diarréia crônica, esteatorréia, dor abdominal, ganho de
peso insuficiente e/ou perda de peso.
A função pancreática exócrina pode ser avaliada por
testes diretos ou indiretos.
A-
Testes Diretos
TESTE DA SECRETINA-COLECISTOCININA
Dentre os testes diretos, o teste da
secretina-colecistocinina é o que apresenta maior sensibilidade e
especificidade. Devido à sua confiabilidade, o teste da
secretina-colecistocinina é o procedimento padrão para a avaliação da função
pancreática exócrina. Entretanto, deve-se ponderar que se trata de um teste demorado,
caro, desconfortável e que não está padronizado em crianças, o que o torna
inadequado para uso rotineiro em pacientes pediátricos. O
teste direto avalia a secreção do bicarbonato e das enzimas pancreáticas na
secreção duodenal, a qual é obtida através da estimulação da glândula por
administração intravenosa de secretina/colecistoquinina ou por meio de uma
refeição padrão por via oral.
O
teste da secretina-colecistocinina pode ser realizado por 2 métodos distintos,
a saber:
1- Intubação
Duodenal- neste caso é necessária realizar a intubação nasoduodenal por meio de
uma sonda flexível, para em seguida fazer a infusão intravenosa de secretina ou
colecistocinina. Após este procedimento inicial passa-se a coletar a secreção do
suco duodenal, por aspiração em seringa, para quantificação das enzimas pancreáticas
e do bicarbonato. Este teste permite a classificação da insuficiência
pancreática exócrina em disfunção leve, moderada ou grave. O teste possui sensibilidade
e especificidade superiores a 90%.
2- Endoscopia-
nesta situação inicialmente é necessária realizar-se a sedação do paciente para
efetuar a endoscopia digestiva alta (EDA). Após a administração intravenosa de
secretina ou colecistoquinina, faz-se a aspiração da secreção duodenal guiada
por EDA nos tempos 0, 15, 30, 45 60 minutos para a análise da concentração do
bicarbonato e/ou da atividade das enzimas pancreáticas.
EXAMES
DE IMAGEM
Pancreatografia
com ressonância magnética
Este
exame permite uma avaliação quantitativa do volume da secreção pancreática,
além disso, fornece informações
sobre alterações do ducto pancreático e da função da glândula. É
necessária providenciar a infusão intravenosa de secretina.
Ultrassonografia (US) do Abdome e
Endoscópico
A US de abdome geralmente é o exame de imagem
inicial. Achados compatíveis com
pancreatite crônica incluem: dilatação do ducto pancreático (2.84±0.67
mm), calcificações intraductais,
irregularidades na glândula, mudanças na ecotextura e pseudocistos. Apresenta sensibilidade entre
50-80% e especificidade 90%.
Ultra-sonografia endoscópica permite mostrar
anormalidades sutis da estrutura pancreática antes de surgirem anormalidades em
imagens tradicionais ou testes funcionais, através de estudo mais detalhado do
ducto pancreático e do parênquima.
Figura
8- Ultrassonografia transabdominal do pâncreas demonstra uma glândula
hipoecoica com múltiplas calcificações (flechas) ao longo da glândula.
Tomografia Computadorizada (TC) do
Abdome
A TC do abdome tem baixa sensibilidade para identificar
anormalidades ductais e alterações sutis do parênquima, e submete o paciente a
alta dose de radiação. Por outro lado, é útil no diagnóstico tardio da PC e
suas complicações. Os achados relacionados à PC são dilatação do ducto
pancreático, calcificações pancreáticas e atrofia parenquimatosa.
Figura
9- Tomografia computadorizada contrastada demonstrando múltiplas calcificações
difusas (flecha) em um paciente portador de PC devido a abuso de álcool.
Colangiopancreatografia com Ressonância
Magnética (CPRM)
A CPRM tem as vantagens de ser um exame não-invasivo e
não usar radiação. Ao contrário da CPRE,
pode ser realizada na fase aguda da pancreatite. Na CPRM, os ductos são
visualizados em seu estado fisiológico normal, enquanto que na CPRE são
visualizados sob pressão. A CPRM pode fornecer uma morfologia abrangente dos
ductos biliares e pancreáticos. É possível visualizar ductos de até 1mm. No
entanto, a CPRM é limitada em crianças devido ao pequeno calibre de ductos não
dilatados, sinal fraco e movimentação do paciente.
A
administração de secretina por via
intravenosa ao longo de 1 minuto induz a um aumento de líquido no ducto
pancreático, com aumento subsequente da excreção de líquidos para o duodeno.
Imagens em T2 ao longo do ducto pancreático são repetidas
a cada 30s por 10 minutos. A resposta normal é o aumento do sinal e do diâmetro
do ducto pancreático em 3 mm, com progressiva redução até a linha de base em 10
minutos.
A secretina é provavelmente mais importante em crianças
do que em adultos, uma vez que aumenta a detectabilidade dos ductos
pancreáticos, normalmente menores.
Figura
10- Adolescente do sexo feminino de 14 anos de idade portadora de PC. Estudo
demonstra ductos pancreáticos dilatados (flecha longa) com formações de bolsas
irregulares que representam ramos pancreáticos dilatados (flechas curtas).
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