Ana Catarina Gadelha de Andrade &
Ulysses Fagundes Neto
Introdução
O
pâncreas, do ponto de vista anatômico e funcional, pode ser dividido em 2
porções, a saber: a- exócrino, que corresponde aos tecidos acinar e ductal; b-
endócrino aonde estão presentes as ilhotas de Langerhans. A porção exócrina que
corresponde a 85% da massa pancreática, secreta as enzimas digestivas, água e
bicarbonato para o interior do duodeno. A porção endócrina secreta hormônios
para a corrente sanguínea. O fluxo sanguíneo do pâncreas endócrino passa pelo
pâncreas exócrino antes de entrar na circulação sistêmica (Figura 1).
Figura 1- Estrutura anatômica do pâncreas e suas
divisões: exócrino e endócrino.
Pancreatite trata-se de um processo inflamatório do pâncreas que se
evidencia histologicamente e que pode ocorrer das seguintes formas (Figura2):
Figura 2- Aspecto histológico de processo inflamatório do
parênquima pancreático.
1-
Pancreatite aguda (PA): processo potencialmente reversível, caracterizado pela
presença de edema intersticial, infiltração de células inflamatórias agudas e
vários graus de necrose, apoptose e hemorragia;
2-
Pancreatite crônica (PC): processo inflamatório que provoca alterações irreversíveis na anatomia e
função do pâncreas. A fibrose e o infiltrado de células inflamatórias crônicas
podem levar à insuficiência exócrina e/ou endócrina do pâncreas.
A prevalência da PC é 10 a 30 por 100.000 habitantes e
afeta cerca de 8 novos pacientes por 100.000 habitantes por ano nos Estados
Unidos. Nas crianças, a maioria dos quadros é decorrente de causas genéticas:
fibrose cística e pancreatite hereditária.
O consumo de álcool é a principal causa de PC nos países
ocidentais correspondendo de 70 a 90% dos casos.
Patogênese
Tradicionalmente, a PC tem sido definida como independente da PA, entretanto, a PA e a
PA recorrente passaram a ser consideradas entidades clínicas com características
potencialmente evolutivas para PC. Há várias razões para que tenha ocorrido esta
mudança na interpretação dos fatos, pois há uma sobreposição de fatores causais
genéticos e ambientais, os protocolos experimentais podem induzir a quaisquer uma
das condições, PA ou PC, e, além disso, os quadros clínicos das pancreatites
são bastante estereotipados.
Evidências clínicas e experimentais apóiam a hipótese da
necrose-fibrose, como determinante da injúria pancreática progressiva.
Figura
3- Conceito de necrose-fibrose para a lesão pancreática progressiva. Episódios
repetidos de PA com necro-inflamação resultam em um aumento residual da injúria
ao pâncreas, que a longo prazo acarretam dano irreversível à glândula,
caracterizado por atrofia acinar e fibrose.
Pesquisas realizadas para a elucidação do mecanismo
molecular da PC, particularmente a
fibrose pancreática, ganharam impulso
significativo com a identificação, isolamento e caracterização das células
estreladas do pâncreas. As células estreladas ativadas desempenham um papel
fundamental no processo de fibrogênese pela sua capacidade de regulação da
síntese e degradação das proteínas da matriz extracelular que compõem o tecido
fibroso (Figuras 4 e 5).
Figura
4- Propriedades das células estreladas (PSCs) pancreáticas. As PSCs são
caracterizadas pelo conteúdo de gotas de lipídeos de vitamina A nos seus
citoplasmas durante o estágio de quiescência e subsequente transformação no
fenótipo ativado em respostas ao estresse oxidativo, etanol e seus metabolitos,
e vários outros estímulos. Embora a origem das PSCs não esteja totalmente
compreendida, algumas delas derivam da medula óssea. A persistente ativação das
PSCs acarreta o surgimento da fibrose. Quando as PSCs são eliminadas por
indução de apoptose ou por redirecionamento para o estágio quiescente, a
evolução para fibrose poderia ser finalizada.
Figura
5- Mecanismo de ativação das PSCs. As PSCs são ativadas pelas citocinas e pela
liberação dos fatores de crescimento pelas células inflamatórias e pelas
células acinares lesadas. O etanol e seus metabolitos e o estresse oxidativo
agem como potenciais perpetuadores do fenótipo das PSCs ativadas. A pressão dos
ductos e a hiperglicemia causam aumento do crescimento celular, da expressão da
actina do músculo e síntese do colágeno pelas PSCs. A transformação do fator
beta de crescimento, a activina, a endotelina-1, a ciclooxigenase 2, e o fator
de crescimento do tecido conectivo, jogam um importante papel na regulação da
ativação das PSCs e na produção da ECM através das alças autocrinas e
paracrinas.
Sistema de classificação dos fatores de
risco e etiologias da PC
Na
tabela 1 abaixo estão listados pelo sistema TIGAR-O os principais fatores de risco e etiologias da PC.
Tabela
1- Sistema TIGAR-O de classificação
de fatores de risco e etiologias de PC
Na
Tabela 2, abaixo, encontram-se listadas as principais causas de PC em
Pediatria.
Tabela
2- Principais etiologias de PC em Pediatria
Nenhum comentário:
Postar um comentário