A história da realização de um Pós-Doutorado no North Shore University Hospital, Cornell University, Nova Iorque: pessoal e científica
A chegada em
Nova Iorque e o Nosso Novo Lar
Finalmente,
após quase 2 anos de espera (o convite para trabalhar nos Estados Unidos foi
formulado em outubro de 1975) a família completa (mulher, 3 filhos e eu)
embarcava para Nova Iorque em junho de 1977. Havia, portanto, chegado o tão
aguardado momento de iniciarmos nossa aventura de vida nos Estados Unidos. Uma
enorme ansiedade e excitação envolviam todos nós, íamos para um novo país,
costumes e cultura muito diferentes das nossas, as expectativas e as fantasias
de como seria viver lá eram as mais variadas e muitas vezes
ambivalentes. Como seria o apartamento que havia sido reservado para nós?
Como funcionaria o hospital? Como seria o dia a dia? Haveria escola para as
crianças? O local seria suficientemente seguro? Qual seria o custo de vida,
teríamos condições de manter um padrão de vida digno para todos? Como nos
comportaríamos em um meio ambiente totalmente estranho a nós, sem termos nenhum
parente, amigo ou conhecido a quem recorrer em caso de necessidade? Eu me
adaptaria a uma nova atividade totalmente diferente daquela que estava
acostumado a desempenhar, pois ao invés de atuar como clínico, tarefa que me
enchia de satisfação e me fazia sentir plenamente realizado, agora iria me
transformar em um cientista devotado à pesquisa experimental, a bancada do
laboratório passaria a ser meu consultório, isto me traria a mesma satisfação
que a atividade clínica me proporcionava? Teria eu a suficiente competência
para aprender as técnicas laboratoriais altamente sofisticadas que certamente
seriam propostas? Teria eu a capacidade para readquirir as necessárias
habilidades que havia aprendido nos primeiros anos do curso de Medicina, e que
de há muito tempo não mais faziam parte das minhas práticas, para manusear os
mais diversos equipamentos e materiais de um laboratório de investigação
experimental? Tudo isto eram as incertezas que secretamente atormentavam meus
pensamentos, as quais não podiam ser compartilhadas com ninguém, era um
problema meu, só meu, eu é que havia me metido nesta potencial enrascada,
portanto, cabia somente a mim solucionar ou não a questão. Enfim, as
dúvidas e as incertezas eram incontáveis, porém a sorte já estava lançada, não
havia mais possibilidade de recuar da decisão tomada, todas as pontes haviam
sido destruídas. A partir de então era seguir em frente para desvendar o
mistério e enfrentar o desconhecido da melhor forma possível. Foi o que
tratamos de fazer ao longo de todo o período de vida nos Estados Unidos entre
1977 e 1978, e que será relatado a seguir.
A
primeira e boa surpresa foi a localização do hospital e da moradia que nos
havia sido reservada. O North Shore University Hospital está localizado no
distrito de Manhasset, no condado de Nassau, em Long Island. Para que se tenha
uma idéia mais precisa desta localização, a cidade de Nova Iorque está dividida
em 5 distritos, a saber: Manhattan, Staten Island, Bronx, Brooklyn e Queens
(Figura 1).
Figura 1- Mapa da cidade de Nova
Iorque e o trajeto a ser trilhado entre nosso apartamento e Manhattan.
Figura 2- Mapa da região onde estão
situados o hospital e o distrito de Manhasset. Pode-se observar o trajeto da
LIE (495), bem como a Northern Boulevard e a linha férrea.
Figura 3- Vista aérea da região onde
se localiza o hospital. Em A está a entrada para o estacionamento do
apartamento, o círculo verde está sobre o hospital e o círculo vermelho sobre o
prédio do nosso apartamento. Em frente ao hospital há um lindo campo de golfe.
Os
2 últimos distritos de Nova Iorque encontram-se localizados em Long Island,
aonde também se encontram os 2 aeroportos principais de Nova Iorque, JF Kennedy
e La Guardia. O condado de Nassau está situado ao leste de Long Island e faz
divisa com Queens, sendo que Manhasset dista cerca de 30 km de Manhattan. A
ilha de Manhattan pode ser alcançada por carro pela Long Island Expressway ou
por trem pela Long Island Railroad, cujo ponto inicial encontra-se no Madison Square
Garden, em Manhattan, e o ponto final em Port Washington (Manhasset é a
penúltima estação da linha férrea) (Figura 2).
Por
sua vez, o apartamento que nos foi reservado encontrava-se no terreno do
próprio hospital (na parte posterior do mesmo) em uma área de 6 prédios
residenciais especialmente destinados para os médicos residentes e os “Fellows”
que desempenham atividades profissionais de assistência e/ou pesquisa. Além
disso, dispunha de uma lavanderia comunitária, salão de jogos e de festas, um
amplo gramado com quadra de tênis, quadra esportiva multiuso e um pequeno
“playground” para as crianças (Figuras 3-4-5- 6-7).
Figura 4- Juliana e Marina no jardim
do conjunto de prédios tendo ao fundo o pequeno playground.
Figura 5- Uly em frente a porta de
entrada do nosso prédio.
Figura 6- Uly e eu bem debaixo da
janela do nosso apartamento durante o auge do inverno que foi extremamente
severo e prolongado.
Figura 7- Uma visão do prédio onde
morávamos e Uly se divertindo na neve com o seu trenó.
Mais
ainda, o apartamento distava exatamente 100 metros da entrada do hospital,
bastava apenas descer um lance de escadas, visto que o prédio estava situado
numa colina atrás do hospital. Tratava-se de um apartamento de 2 dormitórios,
banheiro, sala de estar, copa e cozinha, cujas dependências eram de tamanho
absolutamente satisfatórios para uma experiência de vida temporária (Figuras
8-9-10-11-12-13).
Figura 8- A família reunida já
totalmente adaptada à nova forma de vida.
Figura 9- Juliana e Uly assistindo
televisão; este era um mecanismo muito útil para dominar o novo idioma.
Figura 10- Uly na sala de estar do
apartamento e os aparelhos de som que à época eram altamente modernos e
sofisticados. O Brasil estava sempre presente nas nossas lembranças.
Figura 11- Uly e Marina com minha mãe
Walkyria e minha tia Yvonne, a visita tão esperada dos entes queridos.
Figura 12- As crianças desfrutando da
visita da avó paterna.
Figura 13- Nossos filhos e seus
amigos, um indiano e outro coreano.
Próximo
ao hospital, seguindo um pouco mais adiante, descendo a avenida que se denomina
Community Drive, distando não mais de 500 metros, havia um clube municipal,
cuja frequência era gratuita, um pouco mais abaixo do clube havia um centro
comercial, com várias lojas pequenas de comércio variado e uma grande loja de
departamento denominada A&S (Figura 14-15).
Figura 14- Uly e Juliana no centro
comercial próximo do nosso apartamento, em pleno verão.
Figura 15- Uly e Juliana em frente à
loja de departamento A&S.
Seguindo
adiante e cruzando a Northern Boulevard havia um parque público denominado
Whiteney-Pond Park (Figura 16- 17).
Figura 16- Marina no colo da Eurídice
e Juliana ao fundo no Whiteney-Pond Park.
Figura 17- A família em passeio ao
Whiteney-Pond Park.
Isto
posto, todas as condições logísticas e de conforto material estavam dadas para
que eu pudesse desempenhar minhas funções a contento. E, como não se bastasse,
nosso filho mais velho, por já ter completado 5 anos, pode ser matriculado na
escola pública do distrito, com direito a transporte da própria escola e aulas
de inglês suplementares para poder dominar o idioma. As meninas, por sua vez,
tiveram que ser matriculadas em uma escola maternal privada. Assim sendo, como
se pode depreender, rapidamente todas aquelas dúvidas e angústias que nos
afligiam, na questão familiar, antes de viajar, quanto a desvendar o
desconhecido foram rapidamente dissipadas. Mais ainda, descobrimos que
estávamos vivendo em um microcosmos multiétnicos e multicultural porque nossos
vizinhos eram na sua imensa maioria estrangeiros como nós, provenientes dos
mais variados rincões do globo terrestre que para lá se aventuraram pelas
mesmas razões que a mim me atraíram. Havia indianos, coreanos, argentinos,
italianos, japoneses etc. e até mesmo outros brasileiros (Figuras 18- 19).
Figura 18- Uly e Juliana com seus
amigos dos mais diversos países.
Figura 19- Juliana e sua grande amiga
Ciara, filha de um casal de italianos.
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