A história da realização
de um Pós-Doutorado no North Shore University Hospital, Cornell University,
Nova Iorque: pessoal e científica
Parque Indígena do Xingu
(PIX)
O Alto
Xingu: Alimentação
A
alimentação está fundamentalmente baseada na mandioca e no peixe.
O
processamento da mandioca, desde sua retirada do solo e transporte, até o
preparo do beiju e do mingau (mohet), é tarefa exclusivamente da mulher.
A elaboração do beiju passa por uma série de etapas intermediárias cuja
sequência de eventos parece obedecer um verdadeiro ritual, o que deixa
transparecer ao observador, que esta é uma prática que transcende à finalidade
básica da nutrição. Vale ressaltar que a mandioca cultivada pelos índios é
popularmente conhecida pela denominação de “mandioca brava” ou “amarga”, a qual
contém elevado teor de ácido cianídrico, substância tóxica e mortal. Para que a
mandioca possa, então, ser utilizada na alimentação, seu preparo inclui dentro
das inúmeras etapas a inativação deste poderoso veneno.
Inicialmente,
a mandioca é mantida por um curto período de tempo submersa em água para
amolecer sua casca, a qual é retirada por raspagem, o que é feito com o auxílio
de conchas que são encontradas nas praias dos rios (Figura 1).
Figura
1- Mulher índia no processo de descascar a mandioca.
A
seguir, a mandioca é ralada em tábuas nas quais são incrustradas espinhos da
palmeira de buriti ou dentes de piranha (Figura 2).
Figura
2- Mulheres índias ralando a mandioca.
A
massa proveniente deste processo é constantemente lavada com água e espremida
em uma esteira de talos de buriti denominada tuavi, sobre uma
grande panela de cerâmica (Figuras 3-4-5).
Figura
3- Mulher índia lavando e peneirando a massa da mandioca.
Figura
4- Mulher índia peneirando a mandioca.
Figura
5- Mulher índia no processamento da mandioca.
Esta
ação permite separar a massa da mandioca em duas frações, a saber: a
polpa, porção retida na esteira e o polvilho que atravessa
as malhas do tuavi juntamente com a água. A polpa, uma vez
separada, é colocada para secar ao sol, moldada sob forma de pequenos “pães”,
ai permanecendo durante algumas semanas (Figura 6).
Figura
6- Massa e polvilho da mandioca após seu processamento secando ao sol.
A
solução aquosa contendo o polvilho retida na panela de cerâmica é submetida à
fervura para eliminar totalmente o ácido cianídrico remanescente.
Posteriormente, o polvilho é separado do caldo por um processo de decantação e
também colocado para secar ao sol (Figura 7).
Figura
7- Polvilho após a decantação.
A
polpa e o polvilho, depois de secos e transformados em barras, são armazenados
dentro da casa em grandes depósitos cilíndricos que variam de 2,40m a 2,60m de
altura por 0,80m a 0,85m de diâmetro. Parte desse material serve para ser
utilizado na alimentação diária, enquanto que a outra parte, que é muito mais
significativa permanece armazenada para ser aproveitada na época das chuvas,
pois durante a estação chuvosa, que dura praticamente 6 meses, as atividades do
plantio até o processamento da mandioca deixam de existir.
A
elaboração do beiju se dá ao assar uma certa quantidade de polvilho sobre uma
grande chapa circular feita de cerâmica diretamente ao fogo (Figuras 8-9).
Figura
8- Preparo do beiju, mulher índia com o polvilho em suas mãos.
Figura
9- Preparo do beiju, polvilho sendo assado.
Várias
vezes por dia o fogo é ativado para o preparo do beiju, que é comido puro ou
acompanhado de peixe assado ou ensopado. Na cultura indígena não há horário
predeterminado para se alimentar, o índio come a qualquer momento que sentir
fome (Figura 10).
Figura
10- Preparo do beiju no interior da oca.
O
peixe é a grande fonte proteica de origem animal; os índios comem
exclusivamente peixes com escamas e os mais comuns são: tucunaré (Cichla
mutifasciata), matrinchan (Brycon hilari), curimatá (Prochilodus
hartu) e piau (Astyanax sp) (Figuras 11-12).
Figura
11- Homens índios pescando no lago próximo à aldeia.
Figura
12- Mulheres índias carregando o fruto de uma pescaria exitosa.
Os
peixes são preparados na brasa ou cozidos; quando a pesca é farta e havendo o
desejo de conservar o peixe por vários dias, estes são moqueados sobre a
fogueira.
Frutas
silvestres, ovos de tracajá e mel também fazem parte da alimentação dos índios,
porém, sem maior conotação de destaque, bem como outros produtos de origem
vegetal, tais como: milho, mamão, batata doce, abóbora, melancia e banana, que
são plantados nos arredores da aldeia e são consumidos principalmente na época
das chuvas, quando pode haver escassez de peixe.
Atenção
especial deve ser dada ao pequi (Caryocar sp), uma fruta de polpa
amarela, oleaginosa, que contém elevado teor de vitamina A. Há árvores de pequi
em abundância em toda a região; o pequi é produzido e colhido apenas entre os
meses de setembro e outubro, e, nesta época, seu consumo é intenso. Para
preservar os frutos durante todo o ano, eles são especialmente armazenados em
cestas de bambu e submersos na água do lago próximo à aldeia. Esse
procedimento, permite que seja formada uma massa da polpa a qual é consumida in
natura quando o índio assim o desejar. O caroço do pequi é uma amêndoa
após ser ressecada ao sol também é consumida na alimentação.
A
alimentação das crianças merece um destaque particular. Durante praticamente
todo o primeiro ano de vida baseia-se no aleitamento natural exclusivo, que é
universal, abrangendo, portanto, toda a população infantil dessa faixa etária
(Figuras 13).
Figura
13- Recém-nascido de poucos dias cuidado pela mãe, mas já recebendo aleitamento
natural.
Os
lactentes são carregados ao colo e permanecem junto ao corpo materno grande
parte do tempo, mamam quando tem vontade, não há horário preestabelecido para
as mamadas, é obedecido o esquema da livre demanda (Figuras 14-15).
Figura
14- Lactente em aleitamento natural exclusivo.
Figura
15- Criança maior mas ainda recebendo aleitamento materno.
Ao
se aproximar o fim do primeiro ano alguns alimentos do desmame começam a ser
introduzidos na dieta do lactente, inicialmente de forma esporádica,
posteriormente de forma rotineira. O mingau de mandioca é o primeiro alimento
não lácteo oferecido para a criança, em seguida é introduzido o peixe. A
despeito da introdução de novos alimentos, o aleitamento natural estende-se por
vários anos de vida da criança, posto que é comum observar-se crianças maiores
ainda sugando o seio materno.
O Alto Xingu: Cerimônias
Dentre
as cerimônias festivas que proporcionam a regularidade dos contatos
intertribais da região, três merecem destaque especial, a saber: Quarup,
Javari e Moitará.
O Quarup é
uma cerimônia que reúne em uma única aldeia várias tribos. É uma festividade
celebrada em homenagem aos mortos de uma determinada aldeia, que marca o
término do período de luto. Consta da dramatização de uma das versões do mito
da criação do ser humano e é conjugada com uma competição desportiva, que
consiste em uma luta corporal denominada uca-uca. Há também
nesta festividade eventuais trocas de artesanato (Figuras 16-17-18-19).
Figura
16- Índios se pintando em preparação para a festa do Quarup.
Figura
17- Índios pintados para a festa do Quarup.
Figura
18- Festa do Quarup, luta da uca-uca.
Figura
19- Festa do Quarup. Totens representando os mortos do ano anterior
a serem reverenciados.
O Javari enfatiza
a distensão e a oposição dos grupos participantes. Para esta festa apenas uma
tribo é convidada e seu ponto alto é a competição desportiva do arremesso de
flechas entre os dois grupos litigantes. O Javari é considerado um
mecanismo estabilizador das relações intertribais, posto que visa canalizar as
atitudes de rivalidade e as tendências agressivas para uma expressão social e
culturalmente sancionada, ou seja, uma competição desportiva que simboliza uma
atividade guerreira (Figuras 20-21-22-23-24).
Figura
20- Festa do Javari, índio construindo totem para as disputas de
arco e flecha.
Figura
21- Festa do Javari. O grande chefe Tacumã ao centro.
Figura
22- Festa do Javari. Índios perfilados para as danças.
Figura
23- Festa do Javari. Índios dançando.
Figura
24- Festa do Javari. Índios dançando, inclusive as crianças que
desde de tenra idade participam das cerimônias festivas.
O Moitará,
instituição tradicional de troca de bens, é uma forma de intensificar as
relações sociais intertribais. Os habitantes de uma determinada tribo visitam a
anfitriã apenas para efetuar as trocas dos seus bens.
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