Prof. Dr. Ulysses Fagundes Neto
A renomada revista JPGN publicou um artigo de revisão, em julho de 2024, intitulado “Diagnosis and management of eosinophilic esophagitis in children: An update from the European Society for Paediatric Gastroenterology, Hepatology and Nutrition (ESPGHAN)”, de Jorge Amil-Dias e cols., que abaixo passo a resumir em seus principais aspectos.
- Introdução
Esofagite Eosinofílica (EEo) trata-se de uma enfermidade inflamatória crônica do esôfago caracterizada por sintomas de disfunção esofágica, e por infiltração predominantemente eosinofílica no epitélio escamoso do esôfago, detectável histologicamente. Esta enfermidade é provocada por mecanismos imunológicos, mais comumente deflagrada por antígenos alimentares, que causam ampla diversidade de sintomas, tais como disfagia e até mesmo impactação alimentar, e fracasso do crescimento. EEo foi originalmente descrita em adultos em 1993, e sua associação com resposta à modificação dietética, foi relatada em uma coorte pediátrica em 1995, o que permitiu sua identificação como uma entidade distinta do refluxo gastroesofágico.
As primeiras normas de conduta coordenadas para estabelecer os critérios diagnósticos e o tratamento da EEo foram publicadas em 2007 e subsequentemente revisadas, refinando definições e recomendações com normas mais precisas baseadas em evidências, em pacientes pediátricos e adultos. A ESPGHAN publicou a sua primeira norma de conduta em 2014, contendo recomendações para o diagnóstico e o manejo da EEo em crianças. Considerando-se que as pesquisas básicas, translacionais e clínicas sobre a EEo tenham, desde então, aumentado de forma intensa, o que levou ao rápido envolvimento da compreensão dos mecanismos fisiopatológicos da enfermidade e as respostas terapêuticas, a atualização das normais de conduta da EEo em pediatria tornaram-se necessárias. Enquanto originalmente alguns pacientes que eram portadores de eosinofilia esofágica, e, que apresentavam regressão da mesma durante o tratamento com inibidores da bomba de próton, fossem considerados apresentar um diagnóstico alternativo de refluxo gastresofágico, atualmente tais pacientes devem ser diagnosticados como portadores da EEo. Algumas das recentes normas de conduta publicadas têm envolvidos ambos, pacientes adultos e pediátricos. Entretanto, é nosso sentimento que como os pacientes pediátricos apresentam aspectos clínicos específicos, tais como, fenótipo predominantemente inflamatório e o potencial benefício de utilização de diferentes protocolos diagnósticos e de tratamento, este grupo de pacientes que merece uma abordagem e discussão individuais. Alterações no algoritmo diagnóstico, abordagem dietética no tratamento e manejo específico das estenoses esofágicas nos pacientes pediátricos, representam apenas alguns aspectos da norma de conduta original da ESPGHAN, que justificam a presente revisão.
- Métodos
Foi constituído um grupo de gastropediatras que se dedicam ao estudo da EEo, e que realizou extensa revisão da literatura que resultou na proposta de afirmações e recomendações a respeito de 28 questões relevantes sobre a EEo, as quais fazem parte desta revisão.
A tabela 1 (mantido o idioma original, em inglês) aborda as diferentes perguntas, as afirmações e as recomendações.
A Tabela 2 explicita as principais diferenças entre a proposta atual e a norma de conduta de 2014 (mantido o idioma original, em inglês).
A Figura 1 traz a proposta de manejo e monitoração da EEo (mantido o idioma original, em inglês).
- Conclusões
A EEo pode causar um profundo impacto na qualidade de vida e na saúde mental das crianças afetadas bem como em suas famílias. Este profundo impacto inclui comportamento alimentar, dificuldades sociais, ansiedade, problemas do sono, depressão e problemas escolares. Os rápidos avanços no conhecimento a cerca dos fatores de risco da EEo, da endoscopia, como mais importante método diagnóstico, e os 3 pilares da primeira linha de tratamento, e, novas terapias no horizonte da EEo pediátrica, necessitam a reavaliação das propostas prévias e suas respectivas recomendações.
Referências Bibliográficas
- Attwood SEA e cols. – Dig Dis Sci 1993;38:109-116
- Dellon ES e cols. – Gastroenterology 2018;155:1022-1033
- Dhar A e cols. – Gut 2022;71:1459-1487
- Oliva S e cols. – JPGN 2022;75:325-333