Prof. Dr. Ulysses Fagundes Neto
A renomada revista Nature Medicine publicou
em formato de correspondência, em 05 de julho de 2021, um importante artigo
intitulado “Choosing wisely for COVID-19: ten evidence-based
recommendations for patients and physicians”. Este artigo teve por
iniciativa a criação de uma Força Tarefa constituída por 18 membros (lista
deles ao final deste artigo), criada em abril de 2021, composta por experts
pertencentes aos mais variados campos da Medicina, a saber: saúde pública,
epidemiologia, clínica geral, cuidados primários, doenças infecciosas,
virologia, medicina interna, pneumologia, pediatria, oncologia, economia da
saúde, pesquisa clínica e política da saúde. A Força Tarefa, também incluiu
representantes dos pacientes e da sociedade civil para assegurar que às suas
visões e vozes fossem dadas as devidas importâncias. Conselheiros da Força
Tarefa foram incluídos a partir dos líderes da Organização Mundial da Saúde
(OMS) e representantes sêniores dos governos. Os membros da Força Tarefa
empreenderam a realização de duas rodadas de discussão utilizando o processo
Delphi modificado, para atribuir escores às recomendações, e votaram para suas
inclusões usando os seguintes critérios: evidências para apoiar a recomendação,
o alcance das recomendações que têm sido colocadas em prática, a clareza das
recomendações, a viabilidade da sua mensuração e a relevância para a situação
presente.
A Força Tarefa elaborou 10 recomendações com as
devidas explicações (Table 1), a saber: as 5 primeiras recomendações são
dirigidas especificamente para o público em geral, enquanto que as 5
remanescentes são direcionadas para os profissionais da saúde diretamente envolvidos
nos cuidados dos pacientes com COVID-19.
As recomendações finais estão relacionadas com os
seguintes aspectos (Table 1): práticas de prevenção para diminuir os riscos de
ser infectado (1 e 2); medidas que devem ser tomadas caso alguém apresente sintomas
ou tenha sido diagnosticado com COVID-19 (3 e 4); vacinação (5); uso criterioso
de medicamentos (6, 7 e 8) e investigações no manejo da COVID-19 (9); sistemas
de saúde e políticas de saúde (10).
As recomendações da Força Tarefa para a prevenção,
cuidado e controle da COVID-19 incluíram as melhores evidências disponíveis no
presente momento, e enfatizaram práticas que são comuns, ineficazes, de
baixo valor ou prejudiciais na resposta à COVID-19 em diversos países. Todas as
recomendações estão baseadas em evidências robustas e podem melhorar os
desfechos do controle da pandemia de forma universal.
A nossa lista de consenso de recomendações para o
controle da COVID-19, apresenta inúmeras implicações. Em primeiro lugar, ela
fornece um guia de conduta para o público em geral, baseando-se em medidas
simples que podem diminuir o risco de contrair a COVID-19, ou seja, enfatizamos
a importância do uso apropriado de máscaras faciais, evitar locais com
aglomeração de pessoas e o estímulo de ventilação adequada em ambientes
fechados, tudo isto baseado na compreensão crescente a respeito da transmissão
da COVID-19. Em segundo lugar, esta lista de consenso fornece um guia prático
para os pacientes sobre o que eles devem fazer quando surgem os sintomas ou são
testados positivamente para a COVID-19, incluindo o reconhecimento de sintomas
e sinais que justifiquem atenção médica. A orientação para os pacientes é
importante, levando-se em consideração que os sistemas de cuidados de saúde
devem também adotar um mecanismo de triagem hospitalar no qual os
pacientes com enfermidade leve a moderada não necessitam ser internados, posto
que os preciosos leitos hospitalares devem ser reservados para os pacientes com
enfermidades mais graves. Em terceiro lugar, a lista de consenso fornece claras
recomendações para o público em geral a respeito da vacinação, posto que as
vacinas fornecem o passo mais importante para o controle da pandemia. Em quarto
lugar, a lista de consenso estimula os médicos para utilizarem tratamentos
levando-se em consideração os conhecimentos baseados em evidências, cujas
decisões devem otimizar os recursos disponíveis e evitar desperdícios. Ao
disseminar essas recomendações, nós estamos também desencorajando a prática
clínica defensiva pelos médicos os quais temem litígios ou críticas caso eles
não tratem os pacientes com terapêuticas não aprovadas. A iniciativa da Força
Tarefa apresenta alguns pontos fortes, e, também limitações. Todas as
recomendações aqui apresentadas possuem alta qualidade de evidências para dar
suporte a elas. Entretanto, os dados a respeito da COVID-19 estão rapidamente
evoluindo e é possível que estas recomendações possam vir a ser alteradas caso
novas evidências tornem-se disponíveis. A Força Tarefa reitera que estas
recomendações estão em um contexto específico, e que algumas delas (uso de
máscara facial e distanciamento físico) podem ser extremamente relevantes
naqueles cenários cuja transmissão comunitária é largamente disseminada, e que
ao mesmo tempo tenham acesso limitado à vacinação. Globalmente, o acesso à
vacinação é altamente iníquo, e em diversas partes do globo é pouco provável
haver vacinação adequada para suas populações nos próximos dois anos. Em
resumo, a iniciativa da Força Tarefa identificou 10 recomendações chave para o
controle da COVID-19 por meio de um processo de desenvolvimento sistemático com
a participação de um grupo multidisciplinar de experts. A adoção e a
implementação desta lista de recomendações, proporcionarão a aplicação de
medidas baseadas em evidências de políticas e práticas no manejo da pandemia da
COVID-19, nas diversas partes do globo terrestre. Mais importante ainda, esta
lista de recomendações enfatiza o papel basilar que a medicina baseada em
evidência tem a oferecer, mesmo durante uma pandemia com extrema variabilidade.