Marina Haro Chicareli Carrari e Ulysses Fagundes Neto
Tratamento
Quantificação dos Sintomas
Inicialmente,
para ser oferecido um tratamento adequado é necessária a quantificação dos sintomas.
Para tal foi elaborado um questionário de sintomas denominado Índice de Sintomas Cardinais da Gstroparesia,
o qual foi desenvolvido e validado com o intuito de quantificar os sintomas da
gastroparesia. Este índice baseia-se em 3 sub-escalas, a saber: plenitude
pós-prandial/saciedade precoce; náusea/vômitos; distensão gástrica.
Tabela
4 – Classificação da gravidade da gastroparesia.
Grau
1 – corrigir e prevenir distúrbios eletrolíticos e deficiências nutricionais:
mudanças dietéticas, evitar medicações que retardem o esvaziamento gástrico.
Grau
2 – redução dos sintomas: emprego de antieméticos, procinéticos e controle da
dor (se houver).
Grau
3 – identificar e tratar a causa (quando possível): hospitalização, hidratação intravenosa,
compensação glicêmica (nos diabéticos), nutrição enteral/parenteral,
intervenções cirúrgicas e endoscópicas.
Diferentes Estratégias de Tratamento
A
Tabela 5 apresenta os diferentes recursos atualmente disponíveis para o
tratamento das gastroparesias.
Tabela
5 – Recursos para o tratamento das gastroparesias.
A- Medidas dietéticas e de estilo de vida
Recomenda-se que o paciente se alimente em pequenos volumes, e as refeições devem ser pobres em gorduras e fibras, visando com esta conduta estimular a motilidade gástrica. Deve-se realizar dentro da anamnese um inquérito nutricional detalhado, tentar avaliar se os sintomas se agravam com a ingestão de sólidos, semi-sólidos e líquidos. Fluídos devem ser ingeridos com o alimento, e não é recomendado ingerir refrigerantes gasosos.
O paciente deve se sentar ou andar por 1 a 2
horas após a refeição, e, no caso de mesmo assim, os sintomas não apresentarem
alívio pode-se oferecer parte das calorias na forma líquida, e buscar drogas
que possam afetar de forma positiva a motilidade gástrica. Devem-se excluir
causas reversíveis como uso de drogas e distúrbios hidroeletrolíticos, além de
tratar de excluir alimentos aos quais o paciente apresenta intolerâncias.
Na
ocorrência de náuseas anti-eméticos estão indicados, e, da mesma forma, na
vigência de dor devida à dismotilidade gástrica estão indicados os analgésicos
viscerais tricíclicos em doses baixas ou os inibidores da recaptação da
serotonina e noradrenalina.
A Psicoterapia
é sempre recomendável como uma intervenção para dar apoio emocional ao
paciente.
B-
Procinéticos
As
drogas procinéticas estimulam as contrações do músculo liso do estômago e
auxiliam o esvaziamento gástrico. Não há estudos randomizados
placebo-controlados em crianças com gastroparesia, e, a maioria dos estudos não
consegue correlacionar o alívio dos sintomas com um efeito positivo sobre o
esvaziamento gástrico.
1-
Metoclopramida
Os
receptores de dopamina estão distribuídos por toda a parede gastrintestinal e a
metoclopramida age sobre o receptor antagonista da dopamina D2, agonista da
serotonina tipo 4 e com ação direta sobre a musculatura lisa do estômago e do
intestino delgado.
Na
maioria dos estudos o aumento da duração e a frequência das contrações
duodenais e antrais elevou a pressão no esfíncter esofagiano inferior e relaxou
o esfíncter do piloro. Além disso, esta droga tem também ação central
suprimindo as náuseas e os vômitos.
Efeitos
adversos: galactorreia e liberação extra-piramidal. Seu uso prolongado em
criança pode aumentar o risco de discinesia, e este medicamento não deve ser
usado por um período superior a 3 meses.
2-
Eritromicina
Trata-se
de um antibiótico macrolídeo com efeito agonista sobre o receptor da motilina
no músculo liso do trato digestivo. Induz a fase III do MMC no antro e duodeno.
Seu efeito é limitado ao estômago e intestino delgado.
Na dose
de 3-5 mg/kg/dose 6 em 6 horas é um procinético poderoso, porém, há estudos que
demonstraram a associação no período neonatal do uso de eritromicina com a
estenose hipertrófica do piloro, suprime as ondas de pressão do piloro.
3-
Toxina
Botulínica
A injeção
intrapilórica da toxina botulínica tem sido usada nos casos de gastroparesia
refratária, ela é injetada endoscopicamente usando a pinça de escleroterapia em
cada quadrante do piloro, à dose de 25 unidades por quadrante.
Esta
droga bloqueia a liberação da acetilcolina nas terminações colinérgicas, e,
portanto, mantém o piloro aberto, com duração eficaz de até 5 meses e alívio
dos sintomas de 37 a 43% dos casos.
C-
Marcapasso Gástrico
Técnica
– implantar dois eletrodos e um marcapasso na camada seromuscular do estômago,
colocados via laparoscópica e a posição confirmada por endoscopia. Seu
mecanismo de ação ainda não está claro, o que se suspeita é que a estimulação
elétrica corrige as disritmias e promove o esvaziamento gástrico.
Os
estudos ainda são controversos quanto a duração e a frequência dos pulsos e alívio dos
sintomas. Estudos em adultos demonstraram alívio das náuseas, vômitos e melhora
do esvaziamento gástrico, porém não houve alívio dos sintomas álgicos.
Figura
7- Imagem do marcapasso gástrico.
D-
Alimentação Enteral ou Parenteral
Alimentação
enteral por sonda nasogástrica ou gastrostomia está indicada nos pacientes que
desenvolvem desidratação, distúrbios hidroeletrolíticos e desnutrição. Se não
houver sucesso com esta técnica, está indicada a utilização da nutrição
parenteral.
Tabela
6 – Critérios para iniciar a nutrição enteral.
E-
Cirurgia
A intervenção
cirúrgica está indicada nos casos refratários, mesmo tendo o conhecimento de
que haverá limitado sucesso e a morbidade pode ser significativamente alta.
Tabela 7 – Avaliação dos resultados cirúrgicos para a
gastroparesia.
Conclusões
O
tratamento da gastroparesia precisa ser individualizado para alcançar as
seguintes metas:
Alívio
dos sintomas
Normalização
da Nutrição e da Hidratação
Controle
glicêmico
Melhora
do esvaziamento gástrico
Para
aumentar a eficácia do sucesso terapêutico há a necessidade de um atendimento
interdisciplinar envolvendo os seguintes profissionais da saúde: médico da
atenção primária, gastroenterologista, endocrinologista, nutrólogo,
fisiologista, radiologista, endoscopista, cirurgião e psicólogo.
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