Tatiana
Furlan Berreta Fornaro & Ulysses Fagundes Neto
Introdução
A
Hiperplasia Nodular Linfoide (HNL) do íleo terminal e colo tem sido reconhecida,
desde longa data, como uma resposta da mucosa a estímulos inespecíficos, na maioria
das vezes infecciosos e, consequentemente, tem sido descrita como um fenômeno
fisiopatológico durante a infância. No entanto, mais recentemente, a HNL também
tem sido descrita associada a alergia à proteína do leite de vaca (APLV) e à
imunodeficiência.
O tecido linfoide
distribui-se na lâmina própria da mucosa intestinal, ao longo de todo o tubo
digestivo, apresentando maior concentração a partir do íleo terminal, local em
que se formam as placas de Peyer. O número e o tamanho das placas de Peyer
aumentam progressivamente durante a vida fetal, porém, nos 3 primeiros anos de
vida ocorre um crescimento mais rápido. Na puberdade o aumento continua a
ocorrer, porém, em menor escala, e após esse período, há um progressivo
declínio das placas de Peyer (Figura 1).
Figura
1- Visão de uma placa de Peyer em microscopia óptica comum, médio aumento,
localizada na lâmina própria da mucosa ileal.
Fisiopatologia
A
patogênese da HNL é desconhecida, mas está comumente relacionada a precursoras
de células plasmáticas, devido a um defeito de maturação durante o
desenvolvimento de linfócitos B, a fim de compensar o funcionamento inadequado
do tecido linfoide intestinal.
A
HNL pode estar associada a infecções por vírus, bactérias, infestações parasitárias
(principalmente giardíase) e hipersensibilidade alimentar, assim como pode
estar presente nos casos de Doença Inflamatória Intestinal, e também pode ser um
fator de intussuscepção intestinal recorrente.
A HNL
pode estar presente como causa de sangramento oculto do trato gastrointestinal,
acarretando anemia ferropriva refratária a tratamento de reposição de ferro,
porém sua prevalência ainda não foi estabelecida. Um estudo realizado por Lee
et al, no qual foram investigadas 17 crianças com sangramento retal, estas apresentaram
à videolaparoscopia as seguintes causas, a saber: 8 Divertículo de Meckel, 2
duplicações intestinais, 2 HNL, 1 enterite vascular e 4 exames normais.
Manifestações
Clínicas
A
HNL pode se manifestar clinicamente associada aos seguintes sinais e sintomas:
diarreia, diarreia com sangue, sangramento retal, dor abdominal, palidez
cutânea e anemia ferropriva resistente ao tratamento de reposição de Ferro.
Colón
et al., em 1991, estudaram 147 crianças com diagnóstico de HNL, sendo 58%
meninos, com idades que variaram de 3 meses a 16 anos. Neste grupo, 58% (85)
dos pacientes apresentavam queixa de dor abdominal recorrente, dentro de um
período que variava de 2 a 12 meses, com localização periumbilical, em aperto, sem
irradiação, e que não cedia com as evacuações.
A
presença de sangue nas fezes foi a segunda causa mais frequente, aparecendo em
32% (47) das crianças, sob distintas formas, tais como, desde laivos de sangue
até mesmo sangue vermelho–vivo que podia ser de forma isolada ou às vezes misturados
com muco, ao final das evacuações. Vale ressaltar que destas 47 crianças que
apresentaram sangue nas fezes, 24 delas não se queixavam de dor abdominal.
Um outro
estudo realizado por Penna et al, em 1993, ao investigar 14 crianças, cujas
idades variaram entre 8 meses e 12 anos, foram observados os seguintes
sintomas: enterorragia em 71,4%, diarreia em 35,7%, distensão abdominal em
14,2% e encoprese em 14,2% delas.
Diagnóstico
A
suspeita diagnóstica baseia-se na história clínica dos pacientes e é confirmada
por meio da utilização de investigação laboratorial subsidiária, cuja
prioridade de realização deve obedecer aos critérios clínicos segundo o
discernimento do profissional atuante em cada caso.
Estão
disponíveis os seguintes testes diagnósticos:
Exames
laboratoriais:
Hemograma
Velocidade
de Hemossedimentação
Ferro
sérico
Ferritina
sérica
Pesquisa
de sangue oculto nas fezes
Pesquisa de parasitas nas fezes
Exame
de Imagem:
O teste radiológico indicado é o enema opaco com a utilização da técnica do duplo contraste. Este
exame permite visualizar uma falha de enchimento da mucosa colônica, devido à
presença de imagens arredondadas e algumas umbilicadas, representadas como
áreas hipertransparentes. As lesões podem ser segmentadas ou difusas que chegam
a forrar toda a mucosa do colo (Figura 2).
Figura
2- Enema opaco de duplo contraste evidenciando formações umbilicadas com falha
de preenchimento do contraste caracterizando os nódulos linfoides
hiperplasiados.
Endoscopia
Digestiva Alta e Colonoscopia:
A observação visual permite identificar lesões polipóides sésseis, com umbilicação central, diferenciando-as dos pólipos verdadeiros. As lesões caracterizam-se por pequenas tumorações, com áreas centrais pálidas ou com sangramento, cujo diâmetro varia entre 1 e 7 mm (Figuras 3-4).
Figura
3- Visão endoscópica da mucosa ileal evidenciando os nódulos linfoides
hiperplasiados.
Figura
4- Visão endoscópica mais detalhada dos nódulos linfoides hiperplasiados.
Cápsula
endoscópica: está indicada para avaliação do íleo terminal, nos casos em que o acesso
se mostra inacessível pelos aparelhos endoscópicos.
Histopatologia:
A
investigação histopatológica em material obtido por biópsia reveste-se na mais
importante ferramenta diagnóstica para caracterizar a existência da HNL.
O
exame à microscopia óptica comum mostra folículos linfáticos hiperplásicos, com
infiltração linfocitária perifolicular, centros germinativos aumentados em
tamanho e com intensa atividade mitótica. Há alongamento dos folículos mucosos
de células B devido à hiperplasia do centro folicular, e o revestimento
intestinal epitelial não mostra alterações (Figuras 5-6).
Figura 5- Visão à
microscopia óptica comum em aumento médio de vários nódulos linfoides
localizados na lâmina própria da mucosa ileal.
Figura
6- Visão à microscopia óptica comum em grande aumento de vários nódulos
linfoides localizados na lâmina própria da mucosa ileal.
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