TRATAMENTO DA DEFICIÊNCIA
PANCREÁTICA
A
deficiência dos enzimas pancreáticos na FC é tratada por meio da reposição de suplementos
orais de enzimas pancreáticos originários de pâncreas porcino. O objetivo desta
terapia para os pacientes com FC é prevenir a má digestão e consequente má
absorção das gorduras e outros nutrientes, sintomas gastrointestinais e
possíveis deficiências nutricionais em virtude da potencial ocorrência de uma
síndrome de má absorção. Entretanto, não se deve esperar total recuperação da
perda da função pancreática nos pacientes com FC, com a utilização da terapia de
reposição enzimática.
A
terapia enzimática deve ser iniciada nos lactentes (pacientes até 12 meses de
idade) com 2 a 4 mil unidades de lipase para cada 120ml de formula láctea ou em
cada mamada, considerando-se que o paciente esteja em aleitamento natural. Para
as crianças menores de 4 anos de idade a dose enzimática deve iniciar-se com
1000 unidades de lipase/kg de peso/refeição. A dose enzimática para crianças
maiores de 4 anos e avançando até a vida adulta deve ser iniciada com 500
unidades de lipase/kilo de peso/refeição (Tabela 1).
A
reposição enzimática deve ser feita durante ou após a refeição e a dose total
deve ser dada nas refeições maiores, enquanto que nas refeições menores deve
ser utilizada a metade da dose. A dose diária total deve refletir
aproximadamente 3 grandes refeições e 2 ou 3 merendas por dia. As doses típicas
para crianças maiores de 4 anos e também para adultos variam desde 500 até o máximo
de 2.500 unidades de lipase/kilo de peso/refeição (ou até 10.000 unidades de
lipase/kilo de peso/dia). No caso de haver persistência dos sintomas de má
absorção a dose da reposição enzimática pode ser aumentada até o máximo de
2.500 unidades de lipase/kilo de peso/refeição. Por outro lado, doses
superiores a 2.500 unidades de lipase/kilo de peso/refeição não são
recomendadas, posto que a segurança de doses maiores ainda é desconhecida (Figura 1).
Considerando-se
que a maioria dos produtos de reposição de enzimas pancreáticos já estavam
disponíveis nos EUA antes da existência do FDA, em 1.938, eles não foram
submetidos a uma avaliação da relação dose-eficácia. Entretanto, presentemente
estudos de segurança são requeridos pelo FDA e o lançamento de novos produtos
deve ser submetidos a avaliação do FDA. Para que novos produtos sejam lançados
no mercado exige-se que as companhias farmacêuticas realizem ensaios clínicos
apropriados, em seres humanos, para caracterizar a segurança, o perfil de
eficácia, a atividade e a pureza biológica dos enzimas pancreáticas. Além
disso, em virtude de que altas doses de enzimas pancreáticos têm sido
associadas com problemas de efeitos colaterais indesejáveis, tais como estenose
colônica, o super-preenchimento das cápsulas de enzimas pancreáticos pode ser
um fator de risco adicional por expor os pacientes a doses enzimáticas mais
altas do que o necessário. Estas normas de conduta tem por finalidade
desestimular a superdosagem das cápsulas e recomendar que o produto final realmente
contenha 100% da atividade lipásica declarada na etiqueta da embalagem do
produto (Tabela 2).
As
doses dos enzimas pancreáticos devem ser individualmente tituladas, baseadas na
resposta do paciente e podem ser influenciadas pela idade, grau de
insuficiência pancreática, quantidade de gordura ingerida e na preparação
comercial utilizada. Deve-se considerar uma resposta insuficiente se for
possível reconhecer que as queixas digestivas ainda estejam presentes, tais
como, eliminação de fezes volumosas, oleosas, que caracterizam esteatorréia
e/ou na ocorrência de crescimento deficiente a despeito da terapia de reposição
com enzimas pancreáticos. Entretanto, antes de se propor o aumento da dose de
reposição enzimática deve-se considerar que uma série de outros fatores podem
afetar uma ótima resposta à reposição enzimática. Tais problemas incluem a
falta de adesão ao tratamento, fatores dietéticos (por exemplo, ingestão de
alimentos extremamente gordurosos), fatores enzimáticos (por exemplo,
prescrições vencidas, estocagem inapropriada dos enzimas), um meio intestinal
ácido que resulta em dissolução deficiente da cobertura entérica da cápsula, neutralização
inadequada do ácido gástrico o que acarreta subsequente destruição enzimática
naqueles produtos cuja formulação não contém a cobertura entérica, ou ainda outros
transtornos gastrointestinais concomitantes causadores de síndrome de má
absorção (Figura 2).
Quando se consegue atingir uma otimização da dose dos enzimas pancreáticos para alcançar uma eficaz absorção das gorduras da dieta pode-se obter a normalização do estado nutricional dos pacientes com insuficiência pancreática. E, sem dúvida alguma, este é um objetivo sempre desejado e que deve ser insistentemente buscado através da reposição de enzimas pancreáticos.