Avaliando e prevendo a
atividade da doença
A
avaliação endoscópica está recomendada no momento do diagnóstico, antes de
intervenções terapêuticas de maior monta e quando a avaliação clínica é
questionada; a avaliação endoscópica nas crianças não está rotineiramente
recomendada durante as exacerbações, quando estas não são intensas ou durante a
remissão clínica, exceto quanto à vigilância para câncer (Figura 1).
Figura 1- Diferentes níveis de visão da lesão da Colite Ulcerativa.
Pontos
Práticos
1) A obtenção da remissão está
associada com uma melhoria dos desfechos de longo prazo; entretanto não há
qualquer evidência para sugerir que a avaliação endoscópica da reparação da
mucosa seja suficientemente superior ao juízo clínico quanto à remissão (Figura 2).
Figura 2- Visões macro e microscópicas comparativas entre a morfologia normal e a lesão da Colite Ulcerativa.
2) O índice de atividade da Colite Ulcerativa
em pediatria (PUCAI) é um escore validado que não inclui endoscopia ou
marcadores laboratoriais e é facilmente realizado diariamente. Geralmente PUCAI
menor do que 10 indica remissão, entre 10 e 34 atividade leve da doença, entre
35 e 64 atividade moderada e acima de 65 pontos atividade intensa. Uma resposta
clínica significativa é indicada por uma queda no PUCAI de pelo menos 20
pontos. Na prática, os clínicos devem ter como padrão de referência para tomar
uma decisão a respeito da resposta clínica os valores acima referidos, porém
estes valores podem variar individualmente de acordo com o critério de
avaliação do clínico.
3) Nos ensaios terapêuticos o escore
PUCAI pode ser utilizado como uma medida de desfecho primário não invasivo, posto
que ficou demonstrado ser ele um índice válido e que possui alta correlação com
a colonoscopia.
4) Antes de se indicar alterações no
manejo terapêutico da doença em atividade, é necessário assegurar-se que os
sintomas estejam relacionados à
atividade da enfermidade e que não sejam o resultado de outros problemas
clínicos, tais como: Síndrome do Intestino Irritável, dismotilidade,
sobrecrescimento bacteriano, complicações da própria Colite Ulcerativa (por
exemplo estenose), Doença Celíaca, Intolerância ao ácido Aminosalicílico
(5/ASA) ou infecção pelo Costridium
difficile ou Citomegalovirus.
5) Os seguintes exames laboratoriais
devem ser realizados periodicamente: hemograma completo, albumina sérica,
enzimas hepáticos e marcadores da atividade inflamatória.
6) Níveis de calprotectina fecal entre
100 e 150 ug/g indicam inflamação da mucosa colônica. O seu papel em predizer
uma recidiva clínica necessita ser futuramente estudado de forma prospectiva
correlacionando-o com variáveis clínicas, antes de se poder utilizar os níveis
da calprotectina fecal como referência para serem propostas alterações
terapêuticas.
MANEJO
CLÍNICO
Terapêutica
com 5-ASA pelas vias oral e retal
1) Regimes
de terapêutica com 5-ASA por via oral são recomendados como a primeira linha de
indução terapêutica para a Colite Ulcerativa com atividade leve a moderada, e
para a manutenção da remissão independentemente de outros tratamentos
iniciais (Figura 3).
2) Monoterapia
com 5-ASA tópica pode ser eficaz em um grupo selecionado de crianças com
proctite de leve a moderada; entretanto, este fato é um fenótipo raro em
Pediatria.
3) A
combinação terapêutica com 5-ASA pelas vias oral e retal é mais efetiva do que
a via oral isoladamente. Portanto, sempre que tolerados, enemas com 5-ASA (ou
enemas com esteróides caso a 5-ASA não seja tolerada) devem ser oferecidos
juntamente com a terapêutica por via oral para induzir a remissão da doença
mesmo nos casos mais extensos.
4) O
uso de 5-ASA por via retal é superior ao uso de corticoesteróides por via retal
e, portanto sua prática deve ser a preferida.
Pontos
Práticos
1) Mesalazina e Sulfasalazina são as
5-ASAs de escolha. Mesalazina por via oral deve ser usada na dose de 60 a
80mg/kg de peso/dia dividida em duas doses até o máximo de 4,8g diariamente. O
uso de 5-ASA por via retal deve ser a dose de 25mg/kg de peso até ao máximo de
1g diariamente. A Sulfasalazina deve ser
usada a dose de 40 a 70 mg/kg de peso/dia por via oral dividida em duas doses
com uma dose máxima de 4g/dia. A dose máxima combinada pelas vias oral e retal
não deve exceder a dose oral padrão em mais de 50% (Figura 4).
2) A dose de manutenção deve ser
similar à dose utilizada na terapêutica de indução, mas, doses mais baixas
podem ser levadas em consideração após um período de remissão sustentável da
Colite Ulcerativa (não menor do que 40mg/kg de peso ou 2,4g/dia; a dose mínima
efetiva em adultos é 1,2g/dia). Não há qualquer evidência que suporte a
superioridade da Sulfasalazina sobre a Mesalazina. A Sulfasalazina pode ser
particularmente útil nos pacientes que apresentam artropatia associada; ela é
consideravelmente mais barata e também é a única que apresenta formulação
disponível na forma líquida. Por outro lado, ela está, entretanto, associada a
mais efeitos adversos. O aumento gradual da Sulfasalazina entre 7 e 14 dias
pode diminuir a taxa de efeitos adversos dose-dependente tais como cefaléias e
distúrbios gastrointestinais.
3) A ausência de resposta à Mesalazina
por via oral após duas semanas de terapia é uma indicação para se considerar um
tratamento alternativo, como por exemplo, a adição de terapêutica tópica ou
corticoesteróides por via oral.
4) A manutenção da 5-ASA deve ser
continuada indefinidamente ao menos que surja intolerância, em virtude da sua
reconhecida alta efetividade e excelente perfil de segurança.
5) A intolerância aguda ao 5-ASA pode
simular um broto de colite. Uma resposta positiva a retirada da 5-ASA e
consequente recidiva dos sintomas após nova provocação fornece a chave para
este diagnóstico, o que indica a não utilização posterior de quaisquer
medicamentos que contenham 5-ASA.
6) O emprego terapêutico por via retal
deve ser oferecido para a criança, mas não deve ser forçado porque existem
outras alternativas efetivas.
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