quarta-feira, 7 de julho de 2010

A história da realização de um Pós-Doutorado na Cornell University, Nova Iorque (7)

A chegada em Nova Iorque e o Nosso Novo Lar
Finalmente, após quase 2 anos de espera (o convite para trabalhar nos Estados Unidos foi formulado em outubro de 1975) a família completa (mulher, 3 filhos e eu) embarcava para Nova Iorque em junho de 1977. Havia, portanto, chegado o tão aguardado momento de iniciarmos nossa aventura de vida nos Estados Unidos. Uma enorme ansiedade e excitação envolviam todos nós, íamos para um novo país, costumes e cultura muito diferentes das nossas, as expectativas e as fantasias de como seria viver lá eram as mais variadas e muitas vezes ambivalentes. Como seria o apartamento que havia sido reservado para nós? Como funcionaria o hospital? Como seria o dia a dia? Haveria escola para as crianças? O local seria suficientemente seguro? Qual seria o custo de vida, teríamos condições de manter um padrão de vida digno para todos? Como nos comportaríamos em um meio ambiente totalmente estranho a nós, sem termos nenhum parente, amigo ou conhecido a quem recorrer em caso de necessidade? Eu me adaptaria a uma nova atividade totalmente diferente daquela que estava acostumado a desempenhar, pois ao invés de atuar como clínico, tarefa que me enchia de satisfação e me fazia sentir plenamente realizado, agora iria me transformar em um cientista devotado à pesquisa experimental, a bancada do laboratório passaria a ser meu consultório, isto me traria a mesma satisfação que a atividade clínica me proporcionava? Teria eu a suficiente competência para aprender as técnicas laboratoriais altamente sofisticadas que certamente seriam propostas? Teria eu a capacidade para readquirir as necessárias habilidades que havia aprendido nos primeiros anos do curso de Medicina, e que de há muito tempo não mais faziam parte das minhas práticas, para manusear os mais diversos equipamentos e materiais de um laboratório de investigação experimental? Tudo isto eram as incertezas que secretamente atormentavam meus pensamentos, as quais não podiam ser compartilhadas com ninguém, era um problema meu, só meu, eu é que havia me metido nesta potencial enrascada, portanto, cabia somente a mim solucionar ou não a questão. Enfim, as dúvidas e as incertezas eram incontáveis, porém a sorte já estava lançada, não havia mais possibilidade de recuar da decisão tomada, todas as pontes haviam sido destruídas. A partir de então era seguir em frente para desvendar o mistério e enfrentar o desconhecido da melhor forma possível. Foi o que tratamos de fazer ao longo de todo o período de vida nos Estados Unidos entre 1977 e 1978, e que será relatado a seguir.

A primeira e boa surpresa foi a localização do hospital e da moradia que nos havia sido reservada. O North Shore University Hospital está localizado no distrito de Manhasset, no condado de Nassau, em Long Island. Para que se tenha uma idéia mais precisa desta localização, a cidade de Nova Iorque está dividida em 5 distritos, a saber: Manhatan, Staten Island, Bronx, Brooklyn e Queens (Figura 1).
Figura 1- Mapa da cidade de Nova Iorque e o trajeto a ser trilhado entre nosso apartamento e Manhatan.

Os 2 últimos distritos de Nova Iorque encontram-se localizados em Long Island, aonde também se encontram os 2 aeroportos principais de Nova Iorque, JF Kennedy e La Guardia. O condado de Nassau está situado ao leste de Long Island e faz divisa com Queens, sendo que Manhasset dista cerca de 30 km de Manhatan. A ilha de Manhatan pode ser alcançada por carro pela Long Island Expressway ou por trem pela Long Island Railroad, cujo ponto inicial encontra-se no Madison Square Garden, em Manhatan, e o ponto final em Port Washington (Manhasset é a penúltima estação da linha férrea) (Figura 2).

Figura 2- Mapa da região onde está situado o hospital e o distrito de Manhasset. Pode-se observar o trajeto da LIE (495), bem como a Northern Boulevard e a linha férrea.

Por sua vez, o apartamento que nos foi reservado encontrava-se no terreno do próprio hospital (na parte posterior do mesmo) em uma área de 6 prédios residenciais especialmente destinados para os médicos residentes e os “fellows” que desempenham atividades profissionais de assistência e/ou pesquisa. Além disso, dispunha de uma lavanderia comunitária, salão de jogos e de festas, e um amplo gramado com quadra de tênis, quadra esportiva multiuso e um pequeno “play-ground” para as crianças (Figuras 3 - 4 - 5 - 6 & 7).


Figura 3- Vista aérea da região onde se localiza o hospital. Em A está a entrada para o estacionamento do apartamento, o círculo verde está sobre o hospital e o círculo vermelho sobre o prédio do nosso apartamento. Em frente ao hospital há um lindo campo de golf.
Figura 4- Juliana e Marina no jardim do conjunto de prédios tendo ao fundo o pequeno play-ground.


Figura 5- Uly em frente a porta de entrada do nosso prédio.

Figura 6- Uly e eu bem debaixo da janela do nosso apartamento durante o auge do inverno que foi extremamente severo e prolongado.

Figura 7- Uma visão do prédio onde morávamos e Uly se divertindo na neve com o seu trenó.

Mais ainda, o apartamento distava exatamente 100 metros da entrada do hospital, bastava apenas descer um lance de escadas, visto que o prédio estava situado numa colina atrás do hospital. Tratava-se de um apartamento de 2 dormitórios, banheiro, sala de estar, copa e cozinha, cujas dependências eram de tamanho absolutamente satisfatórios para uma experiência de vida temporária (Figuras 8 - 9 - 10 - 11 - 12 & 13).

Figura 8- A família reunida já totalmente adaptada à nova forma de vida.

Figura 9- Juliana e Uly assistindo televisão; este era um mecanismo muito útil para dominar o novo idioma.

Figura 10- Uly na sala de estar do apartamento e os aparelhos de som que à época eram altamente modernos e sofisticados. O Brasil estava sempre presente nas nossas lembranças.

Figura 11- Uly e Marina com minha mãe Walkyria e minha tia Yvonne, a visita tão esperada dos entes queridos.

Figura 12- As crianças desfrutando da visita da avó paterna.



Figura 13- Nossos filhos e seus amigos, um indiano e outro coreano.

Próximo ao hospital, seguindo um pouco mais adiante, descendo a avenida que se denomina Community Drive, distando não mais de 500 metros, havia um clube municipal, cuja freqüência era gratuita, e um pouco mais abaixo do clube havia um centro comercial, com várias lojas pequenas de comércio variado e uma grande loja de departamento denominada A&S (Figura 14 & 15).

Figura 14- Uly e Juliana no centro comercial próximo do nosso apartamento, em pleno verão.

Figura 15- Uly e Juliana em frente à loja de departamento A&S.

Seguindo adiante e cruzando a Northern Boulevard havia um parque público denominado Whiteney-Pond Park (Figura 16 & 17).


Figura 16- Marina no colo da Eurídice e Juliana ao fundo no Whiteney-Pond Park.


Figura 17- A família em passeio ao Whiteney-Pond Park.

Isto posto, todas as condições logísticas e de conforto material estavam dadas para que eu pudesse desempenhar minhas funções a contento. E, como não se bastasse, nosso filho mais velho, por já ter completado 5 anos, pode ser matriculado na escola pública do distrito, com direito a transporte da própria escola e aulas de inglês suplementares para poder dominar o idioma. As meninas, por sua vez, tiveram que ser matriculadas em uma escola maternal privada. Assim sendo, como se pode depreender, rapidamente todas aquelas dúvidas e angústias que nos afligiam, na questão familiar, antes de viajar, quanto a desvendar o desconhecido foram rapidamente dissipadas. Mais ainda, descobrimos que estávamos vivendo em um micro-cosmos multiétinico e multicultural porque nossos vizinhos eram na sua imensa maioria estrangeiros como nós, provenientes dos mais variados rincões do globo terrestre que para lá se aventuraram pelas mesmas razões que a mim me atraíram. Havia indianos, coreanos, argentinos, italianos, japoneses etc. e até mesmo outros brasileiros (Figuras 18 & 19).

Figura 18- Uly e Juliana com seus amigos dos mais diversos países.

Figura 19- Juliana e sua grande amiga Ciara, filha de um casal de italianos.

As incertezas profissionais ainda permaneciam latentes somente o futuro poderia decifrar este aparente enigma. Logo mais adiante veremos como as coisas foram se encaminhando para que o êxito final fosse alcançado.

No nosso próximo encontro passarei a detalhar os aspectos mais interessantes da vida no hospital e do laboratório de investigação experimental.

Nenhum comentário: